Quantas vezes não nos deparamos com situações em que gostaríamos de expor os nossos sentimentos ou as nossas vontades, mas por medo de desagradar o outro, parecer inadequado ou por receio por não entendermos até onde vão os limites das nossas reações emocionais, ficamos quietos e as calamos?
Esse é um movimento normal dos seres humanos, uma vez que fomos sendo moldados por contextos sociais de boa convivência, para que a gente não saia por aí falando tudo o que vier na cabeça, mas essa “moldagem” também pode gerar bloqueios e limitações emocionais.
Ficamos achando inadequado expressar qualquer tipo de opinião, vontade ou sentimento, por receio do que pensarão ou até mesmo porque há um impedimento nosso que gera restrições na nossa forma de se colocar para o mundo.
Desse modo, a nossa ação é calar e silenciar o que de fato sentimos ou gostaríamos e, por conseguinte, a vida vai nos dando situações que, como uma gota d´água que faltava para transbordar tudo, a gente acaba extravasando essas emoções de forma mal canalizada e mal resolvida, podendo perder a paciência, gerar conflitos desnecessários com as pessoas ao redor, chorar por algo com uma intensidade muito maior do que se estivesse vivenciado a emoção no momento correto e, além de tudo isso, somatizar, criando alterações físicas no corpo pela cristalização do que foi mal resolvido em algum lugar do passado.
As emoções são conteúdos que fazem parte de quem somos e criam em nós diversas maneiras de nos expressarmos e realizarmos as nossas trocas diárias. Elas nos proporcionam um material rico e animado sobre como lidar com o que a vida vai nos colocando à frente. E imagine se nós não tivéssemos a capacidade de sentir apreço por alguém? Ou sorrir por alguma cena que nos toque? Seria tudo tão sem cor, sem vida e sem expressão, que a nossa rotina acabaria por perder a graça.
Por sermos seres racionais e repletos de matizes de sentimentos, não podemos negar que temos raiva, que nos sentimos tristes em algumas fases da vida, que somos eufóricos, ansiosos… E mais um monte de emoções que eu poderia ficar aqui citando por um bom tempo, e que se abafadas em nosso interior, geram um fardo muito nocivo para o corpo, em todos os seus níveis.
Imagine uma mochila onde você vai colocando algo dentro em todos os dias. Mas esse algo não é simples, leve ou limpo, são muitas coisas, e são pesadas, melequentas, sujas e com cheiro ruim. Todo dia que passa, você coloca uma coisa assim dentro dessa mochila. Até que, em um belo dia, essa mochila não aguenta tanto recheio e explode, arrebenta o zíper e rasga toda.
Toda aquela meleca guardada vai sair e, dependendo da pressão gerada pela quantidade de coisas que estavam lá dentro, aquilo pode sair com uma velocidade absurda, contaminando tudo e todos ao redor dela.
Como você acha que o ambiente que receber essa “explosão” vai ficar? E as pessoas presentes nesse local?
E olhe novamente a mochila, como ela ficou? Qual o estado do tecido e de toda a estrutura dela?
É um exemplo bem excêntrico! E mesmo que cause um enorme desconforto ler isso, não é para se pensar o quanto nos submetemos a sermos uma mochila cheia de coisas que não nos fazem bem e vão minando a nossa saúde física?
Podemos e devemos gerar qualidade de vida emocional a nós mesmos, encurtando e diminuindo caminhos longos e de sofrimentos desnecessários se acolhermos tudo o que sentimos. Com muito carinho, muita atenção e muito respeito, olhando para cada pequeno gesto, ação ou sensação que o nosso corpo referir frente a qualquer conjuntura que aparecer em nossa frente.
Existem exercícios bem interessantes para gerar uma boa expressão e canalização desses sentimentos, e um deles é ir a um lugar vazio, aberto, com bastante espaço e colocar para fora algumas frustrações presas em você. Você pode gritar, correr, espernear, falar, caminhar, colocando tudo o que te afoga para o exterior. Só de fazer isso você já se sentirá mais leve e mais comprometido com você mesmo.
Outra forma de entrar em contato com o nosso conteúdo emocional é negar algo que nos cause desconforto, saber dizer alguns “nãos”, criar formas de expressar o amor quando se ama alguém ou algo, dar boas gargalhadas quando algo é muito divertido, se permitir sentir tristeza quando vez ou outra ela resolver aparecer e assumir quando se é tomado pelo sentimento de raiva ao ponto de querer gritar, urrar e expressá-lo de alguma forma bem intensa.
Quando expressamos os sentimentos em uma dose equilibrada e tornamos isso um hábito, não há acúmulo, não há frustração e não há ressentimento conosco por não termos tido coragem de exteriorizar no momento certo.
Você também pode gostar
Dessa forma, nota-se que é muito mais leve quando se fala o que se sente e quando ninguém nos “poda”, nem a gente mesmo, considerando qualquer coisa inadequada. Isso proporciona liberdade, onde ser sincero com si mesmo é a primeira ação para ser sincero para o mundo e que, ao saber o que realmente sentimos, podemos entender o que pode e o que não pode nos afetar, acolhendo e cuidando de nossas emoções com todo o respeito que elas merecem.
Sendo assim, a vida se torna leve, o nosso corpo se torna leve e o nosso “zíper” emocional aguenta qualquer carga, uma vez que elas serão muito bem selecionadas e compreendidas ao irem para a mochila virando um arquivo de consciência com um sentido positivo, e não por um processo de estagnação e desconforto.