A raiz da palavra Sororidade vem do latim, “soror”, que quer dizer “irmã”. Em italiano, sorella significa irmã. Eu tive a oportunidade de viver isso nesse último fim de semana, no 4º Encontro Mundial de Mulheres, onde tive a alegria de palestrar e trazer uma vivência.
O tema foi: “As mães que desempoderam suas filhas”. Tema forte e instigante. Muitas mulheres vivem à sombra do feminino e não à luz, e muitas vezes não encontram o prazer de ser mulheres. Elas passam isso para suas filhas em forma de autoritarismo ou de ausência. Essas filhas se sentem psicologicamente sem mães e acabam vivenciando o Arquétipo da Órfã. No conto “O Patinho Feio”, contido em nosso “Livro Sagrado”, o “Mulheres que Correm com os Lobos”, a autora traz essa compreensão. As filhas que se sentem rejeitadas não podem acessar a sua imagem positiva refletida, pois suas mães refletem a imagem negativa. Ou seja, elas acabam acreditando que são feias, incompetentes, frágeis.
Não confunda vulnerabilidade com fraqueza, tá? É bem diferente. A força feminina está em nos reconhecermos na nossa vulnerabilidade, em respeitarmos nossos momentos de “ida para a caverna”, de autoproteção. Muitas vezes, esse comportamento é visto pela sociedade, que nos quer “produtivas” o tempo todo, como fraqueza. Respeitar seus ciclos e ritmos é Força!
Voltando às filhas, muitas têm a sensação de que “a mulher que eu precisava chamar de mãe foi silenciada antes de eu ter nascido.” Essa é uma frase de Adrienne Rich, poetisa americana.
Você já se perguntou qual os lugares possíveis para a mulher em uma sociedade patriarcal?
Precisamos redescobrir a nossa natureza ctônica (ligada à terra), aquela que troca de pele, que é cíclica, que pode ser forte e vulnerável ao mesmo tempo. Nossa natureza autêntica feminina. Esse movimento é uma redescoberta e, para isso, você precisa estar disponível para mexer em suas crenças que tem em seu cerne a “domesticação”. Aquelas crenças sociais que entraram em seu interior e que você nem percebeu. Acredite: você foi domesticada e entorpecida por valores que te colocaram em um lugar ferido. Encontrar o seu poder é sair desse lugar de anestesia e encontrar a sua Bliss, aquilo que faz sua Alma vibrar. Não é esse relacionamento mais? Desapegue. Você não está só! Procure suas verdadeiras irmãs e peça apoio. Não é mais esse trabalho? Peça demissão. Há tantos ofícios no mundo que querem você!
Mulheres que não tiveram mães ou têm mães tóxicas precisam descobrir sua família psíquica. O que é isso? Escolham pessoas que te enxergam, que te reconheçam, que realmente te olhem. Cuidado para não repetir o padrão da mãe que rejeita em seus relacionamentos afetivos. Cuidado para não escolher o relacionamento com o abusador, aquele que vai te inferiorizar. Escolha as pessoas que têm disponibilidade para te amar. Fique perto delas. Isso traz vitalidade e pertencimento. Dentro da teoria das Constelações Sistêmicas, tudo deve ser incluso a fim de ter um lugar (o que foi rejeitado precisa ter um lugar).
Como o empoderamento feminino nos liberta dessas crenças
O empoderamento feminino é uma consequência do movimento feminista. Quando a sociedade muda a própria mentalidade e as estruturas opressivas que estabeleceram, as mulheres passam a ter mais espaço em posições de poder, seja em empresas, na política ou no próprio negócio, sentem mais liberdade para expressar quem são sem julgamentos e são vistas como pessoas, não mais como objetos.
Assim, uma mulher empoderada é aquela que reconhece o seu papel na sociedade e está disposta a fazer outras mulheres conquistarem o espaço que é delas por direito, mas que tem sido negado. É a partir do empoderamento feminino que nos tornamos capazes de identificar os comportamentos e os pensamentos que reproduzimos e que são machistas, mesmo que tenham sido ensinados pelas nossas mães.
Você também pode gostar
- Saiba tudo sobre o termo empoderamento feminino
- Inspire-se nas mulheres empoderadas e se atualize
- Aprenda a reconhecer relacionamentos tóxicos entre mãe e filha
Muitas vezes, acreditamos que o empoderamento feminino só é necessário para as futuras gerações, e nos esquecemos daquelas que nos educaram. As nossas mães sofreram a pressão da sociedade para se encaixar em padrões patriarcais, e transmitiram isso para nós com a melhor das intenções, sem perceber que estariam nos fazendo mal, prezando pela nossa aceitação nos ambientes que frequentaríamos.
Levando isso em consideração, em primeiro lugar, não julgue a sua mãe por ter te ensinado o que ela aprendeu. Pense bem: se a sua mãe fosse capaz de entender que as pressões que sofreu ao longo da vida poderiam ter sido evitadas, ela não faria isso por você? O seu empoderamento deve começar pela compreensão de diferentes realidades e formas de vida, entendendo que todas as mulheres ainda precisam passar por um processo de desconstrução, inclusive sua mãe.
Uma vez que você conseguiu se libertar das crenças limitantes que nos são apresentadas desde o nascimento, ajude sua mãe a se libertar disso também. Lute pelo empoderamento dela! Tenha paciência e explique o que ela não entende, mostre como a realidade pode ser muito melhor e permita que ela compartilhe as experiências que viveu. Crescer ao lado da sua mãe e ajudá-la a crescer é o que te fará uma mulher empoderada!
A maior dor do ser humano é não pertencer. Precisamos pertencer, encontrar a nossa tribo. Ter uma função que faça sentido no mundo, corporificar nossos sonhos, materializá-los, tornar carne. Em um Círculo de Mulheres onde a Sororidade está presente, somos todas incluídas. “Ah, Patricia, mas só há luz, não tem sombra? Não tem competição?”. Sim!! Tem! Mas estamos conscientes de que podemos lidar com isso, e não nos deixar dominar! Temos consciência de que todas estão lá para evoluir, que podemos atuar como ventre psíquico de nossas irmãs, sermos parteiras umas das outras. Geramos empatia, acolhimento autêntico. Essa é uma reflexão importante. Pense nisso. Sinta isso.
Nos encontramos em breve.