Sento-me acabrunhado no sofá. Pernas voltadas para o alto e a cabeça pendurada em direção ao chão. Contando sem entusiasmo fissuras no teto. Dando a cada uma delas um significado, só para que minha mente tenha com o que trabalhar. Tudo a volta ganha um motivo fantástico para compor todo o universo imaginário construído ao meu redor.
Cores, formas e movimentos me hipnotizam. Ruídos estranhos e misteriosos me espantam e aguçam os sentidos. Consigo notar conversas distantes, talvez vindas de uma das casas ao lado, ou dos desconhecidos que cruzam a rua aos milhares todos os dias. Começo a imaginar quem é toda essa gente. O que faz toda essa gente, quando não estou olhando.
Seria como na TV que, quando desligada, tudo ali já não mais existe? As pessoas só existem se eu posso vê-las? Mas e eu, quem sou eu? Tudo que vejo está a minha volta, então sou eu o centro de tudo? Tudo só está aqui por que eu os percebo e se não percebo é porque não existem? Mas sei que há milhões de pessoas que existem sem que me dê conta delas. Lembro então das estórias que me contam de como o mundo é absurdamente grande. Tento conceber toda essa imensidão.
Vou para fora me deitar sobre a relva. Olho toda aquela imensidão azul. A abóbada celeste como ouvira de um professor um dia desses. Reparei como ela parecia se curvar até onde meus olhos podiam alcançar. Admirando toda aquela magnitude me sentia ainda melhor e tive um pequeno vislumbre do que poderia ser essa imensidão com que muitos se referem ao mundo. Senti um insuportável desejo por liberdade naquele momento de contemplação.
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Vi pássaros e desejei poder ir com eles. Nada me dava maior sensação de liberdade como olhar os céus e os pássaros que nele brincavam. Quis ser como meus personagens preferidos dos desenhos animados. Quis me libertar, quis desbravar toda aquela imensidão diante de meus olhos. Minha mente já não mais desejava um objeto para se manter ativa, ela cessará e se entregará as sensações daquela tarde.