O terceiro Yama no caminho do Raja Yoga é Asteya – não roubar. É preciso propor uma reflexão mais profunda em torno desse Yama. Não roubar vai muito além do ato em si, não podemos nos deter no evento, isso apenas estaria estimulando julgamentos. É preciso analisar quem rouba e quem é roubado através de uma análise sistêmica.
Maria foi roubada por João, ponto. Ela é a vítima e João o algoz. Prende-se João e pune-se João, com isso, resolve-se o problema. Pobre da Maria se não tiver seguro.
Olhando além do tempo e do espaço vamos perceber que não existem algozes ou vítimas no Universo, escândalos são necessários.
Maria foi roubada por ser um ser humano roubável, no mínimo sua frequência vibratória acabou atraindo esse infortúnio em função das culpas e remorsos remanescentes na estrutura do seu inconsciente; sabe-se lá a quantos Maria não roubou? Nessa ou noutras vidas? Sabe-se lá qual é a avaliação que Maria faz de si? Se não se julga digna de sofrimento? Será que existem acidentes, injustiças ou descuidos do Universo? Das duas uma, ou a Lei do Carma existe ou não existe. Se existe, Maria precisava ser roubada e João foi um instrumento.
João, por sua vez, expressa um nível de consciência ainda embrionário, pois não encontrou meios de resolver suas necessidades psicológicas de forma diferente, roubar pareceu-lhe a única opção viável, dentro do seu nível mental. João precisa preencher com coisas o grande vazio que desconhecimento da própria natureza provoca. As ações equivocadas de João servirão como aprendizado, pois o resultado para ele será o mesmo no futuro.
Olhando desta forma, percebemos que tudo faz parte de um movimento natural de ajuste. Existe uma pessoa que se acha merecedora de perdas e outra pessoa que desconhece a ética Universal, pois João não tem a menor ideia do que significa Asteya. O Universo, simplesmente, uni essas pessoas e o escândalo acontece.
É preciso que aja o escândalo, mas ai daquele que provoca o escândalo.
O conceito de Asteya irá desenvolver-se aos poucos para o João, através de implicações duras por atos impensados, mas para nós, livres dessas inclinações criminosas, Asteya vai além. Não roubar significa muito mais para aquele que busca o caminho da transcendência, significa livrar-se dos desejos que nos levam a cometer apropriação daquilo que não nos pertence, cuidado com os pequenos gestos que denunciam qualquer prejuízo para o outro, assim por diante.
O funcionário que fica na internet em horário de trabalho está roubando o empregador, as músicas ou filmes baixados em sites piratas estão roubando direitos alheios, tudo aquilo que trouxer qualquer tipo de prejuízo a alguém é um roubo.
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O comportamento daquele que busca a realização através da observância dos Yamas, deve seguir aquele preceito antigo, ensinado por cristo, mas preconizado, também por Confúcio: “Fazei aos outros o que queres que te façam”.