A liberdade só pode ser alcançada por meio da conquista de nós mesmos. Buscar o que nos alivia, nos acalma, nos nutre e nos motiva fora de nós é inútil e exaustivo; dentro de nós repousa a sabedoria que buscamos desesperadamente fora.
A realização de um ser repousa nele mesmo. Compreender que a simplicidade guarda a elegância, a beleza e, principalmente, a leveza que nossas almas tanto buscam só é possível quando damos crédito a essa simplicidade latente em nosso mundo interior.
No entanto, desde muito cedo somos destituídos desse contato pessoal
Os outros definem quem somos e, mesmo que lutemos por nossa individualidade, chega uma hora que acabamos desistindo de nós mesmos para sermos o que os outros esperam de nós.
Não nos abandonamos deliberadamente, isso acontece devido à força dos hábitos e costumes que marcam nossa cultura e que vamos aprendendo e incorporando por meio das relações afetivas; assim, somos conduzidos a ler nosso mundo interno pela orientação do outro, do que está fora.
Não há problema real em ser conduzido e orientado, no entanto, para que o indivíduo possa amadurecer, precisa de orientação sobre o que existe fora, mas também sobre a importância do que existe dentro de cada ser. E aprendemos muito pouco sobre nós mesmos, o autoconhecimento ainda é entendido como algo distante ou privilégio para poucos.
É fundamental compreender que o desenvolvimento da autonomia individual e o conjunto de competências, habilidades e valores que a autonomia representa é o caminho mais seguro e efetivo para a busca da liberdade, entendendo que o conceito de liberdade pode ser diferente para cada um. Mesmo assim, quando alcançamos autonomia podemos exercer o direito de escolha e a força de assumir a responsabilidade sobre o resultado dessas escolhas.
Nesse sentido, devemos compreender que o mundo interno e o externo são complementares e precisam estar harmonizados para que nossa experiência de vida seja, de fato, um caminho para o crescimento e amadurecimento em sua plenitude; para isso precisamos ressignificar nossa relação conosco, com o outro e com o mundo.
Abraçando as verdades sociais conduzidas pela lógica externa acelerada e superficial, vamos cada dia mais nos afastando da sabedoria que repousa dentro de nós, a qual não acessamos por acreditarmos que algo de ruim habita em nosso interior e que, se não vigiarmos, controlarmos e nos contermos, podemos liberar e fazer mal a nós e aos outros.
Quanto mais damos crédito ao externo, mais confusos nos tornamos quando olhamos para dentro de nós e cada vez mais desconfortáveis, esvaziados e aflitos nos sentimos, pois o que está fora glamouriza a artificialidade do externo e desqualifica a simplicidade das necessidades internas, esse fenômeno faz com que sejamos o que temos e não o que, de fato, somos.
O TER substitui o SER e vamos nos tornando coisas
Portanto, a partir do olhar de “coisa”, não posso ver pessoas, paisagens, sensações e percepções, apenas objetos que manipulo. Assim, também aceito que me manipulem e as relações se tornam frias, baseadas em trocas. Cada dia que passa, ganhar ou perder não faz diferença, pois esse tipo de relação não leva à satisfação, leva à euforia se eu ganhar ou à impotência se eu perder, mas a saciedade nunca chega.
O alívio libertador que a completude traz só é possível quando aplicamos esforço em descobrir quem nós somos. Cada ilusão que dissipamos sobre nós acalma a pressão diária de querer agradar o tempo todo, vencer sempre e estar constantemente atrás de uma felicidade inatingível atribuída às coisas ou às pessoas, pois não nos bastamos.
É necessário sair do automático para identificar que a simplicidade desacelera, acalma e nutre; a partir de então, é possível compreender a verdadeira busca, que é conhecer a nós mesmos, como apontou Sócrates há tanto tempo atrás.
É compreender o que Gandhi quis dizer com a frase: “seja a mudança que você espera no mundo”.
Estamos em um tempo no qual mudar não é mais uma opção. A velocidade tecnológica, a globalização e a ameaça planetária com questões climáticas e de sobrevivência da espécie em termos sociais, culturais e econômicos nos lançou em um caminho sem volta: ou aprendemos a mudar com consciência ou seremos arrastados pela lógica desse tempo.
Para lidarmos com esse tempo precisamos desenvolver lucidez sobre quem somos, mas, para isso, precisamos contestar o que achamos que somos, precisamos aprender novos saberes, novas habilidades, modos de ser e de conviver; esse objetivo exige compromisso, esforço e muita persistência. E nada além da própria inquietação de cada um pode mobilizar essa vontade de mudar.
Se você sente familiaridade com o texto, busque o seu despertar pessoal. Descobrir-se é uma jornada potente que te ajuda a lembrar de suas limitações, mas também de suas reais capacidades de superar esses limites.
Busque o melhor que repousa em seu potencial e assuma a responsabilidade sobre si mesmo, se preparando e fortalecendo pelo exercício do autoconhecimento, em busca da liberdade de poder SER a sua melhor versão.
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