Certa vez, há mais de quinze anos, eu trabalhava como operadora de caixa em um restaurante vegetariano da minha cidade. Era meu segundo emprego formal, eu era ainda bem jovem. Fazia faculdade durante a semana e trabalhava aos finais de semana, no horário do almoço. Era muito grata por meu emprego, pois, além de ter meu sustento, eu podia realizar refeições maravilhosas, de forma gratuita, com um grupo de colegas muito aprazível.
Chegava um momento da tarde, após as 15 horas, principalmente aos domingos, que o cansaço começava a bater. Um dia, uma senhora pagou seu almoço e se despediu, dizendo: “Tenha um bom trabalho!” Aquilo soou maravilhosamente satisfatório. Parecia que ela realmente se importava com o fato de que era tarde e eu ainda não havia comido, estava trabalhando para que mais pessoas pudessem ter uma refeição feliz. Ouvir o desejo de um bom trabalho da parte daquela senhora me caiu tão bem, me animou tanto, que logo esqueci a fome. Desde aquele dia, passei a desejar a todos os que me atendessem, por onde eu passasse, um “bom trabalho”. É tão simples, que podemos entender como menos importante. Como que incomodasse um namorado que tive, ele me questionou o motivo de eu me “engraçar” para os funcionários, dizendo isso. Tolo ele. A simpatia era porque eu também era trabalhadora e sabia o poder daquelas palavras. Sentimo-nos importantes quando alguém se importa conosco. Sentimo-nos iguais, sentimo-nos mais do que empregados.
Gentileza é o adubo da gratidão. Ser gentil, ser cordial, ser atencioso com pessoas desconhecidas alimenta a roda da amabilidade. Não é tolice dizer que um gesto de educação se multiplica a partir de outras manifestações, como uma sementinha do bem. Considerar que, em meu momento de lazer, alguém trabalha para que eu tenha conforto e alegria, e agradecê-lo por isso, de modo amigável, é fazer o planeta girar mais feliz e em paz. Assim, despedir-se dizendo “tenha um bom dia, tenha um bom trabalho” é corresponder com delicadeza ao gesto de atenção que recebemos quando somos servidos. E quando estamos do outro lado, servindo, queremos fazê-lo da melhor maneira, agradando ao cliente e proporcionando a melhor experiência.
Ter um bom trabalho é assistir dando o melhor de nós mesmos. A mesma senhora que mudou meu modo de tratamento com as pessoas, me deu outro exemplo de bem viver: numa tarde de chuva, com o restaurante vazio, ela chegava para almoçar. Eu exclamei: “Que chuva chata, né?”, ao que ela me respondeu: “Estamos vivas!”. Mais uma vez, a gratidão estava ali para ser vivida, e a chuva é uma benção para os animais e para as plantas, além de encher os rios. Ver a beleza dos pequenos episódios, ser grato, ser alegre, ser gentil é poder experienciar o amor do Universo e oportunizar que amemos aos nossos semelhantes.
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Você já reconheceu que há alguém labutando no seu momento de descanso? Você já desejou um bom trabalho a quem está trabalhando para que seu dia seja mais frutuoso? Experimente! Compreenda que todos servimos a um mesmo propósito e damos o nosso supremo esforço para que o planeta seja mais afortunado e tranquilo. Faça a roda da empatia girar! Sejamos carinhosos!