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Carma familiar: entenda e identifique

Homem e mulher sentados um em cada parte do sofá, com expressão irritada
Fizkes / Getty Images / Canva
Escrito por Eu Sem Fronteiras

Em algum momento da sua vida, você já deve ter se deparado com a palavra “carma”. Provavelmente quando alguém associou esse termo a uma fatalidade, um fardo, seja por sorte ou azar. Por exemplo: “Essa pessoa carrega um carma na vida”.

Também associamos o carma a algo negativo, como uma punição por uma ação ruim que tenhamos feito. É a famosa frase: “O carma não perdoa”. Mas o conceito de carma vai além disso. E, neste artigo, falaremos mais sobre o tema. Acompanhe e boa leitura!

Carma, de modo geral

De origem sânscrita, “carma” (ou “karma”) significa “ação; ato deliberado” e é um termo comum ao budismo e ao hinduísmo. Pode, ainda, significar “força; movimento”. Nos livros pós-védicos, ganhou uma acepção mais “evoluída”: lei ou ordem, lei de conservação da força. Isso quer dizer que nossas ações trazem consequências.

Por falar em causa e consequência, o termo “carma” também passou a ser adotado pelo espiritismo. Assim como nas religiões de sua origem, aqui o carma também traz a importância de termos boas atitudes e de praticarmos ações corretas.

Como mencionamos mais acima, a ideia de carma é muito associada a coisas ruins, a punições por nossos atos. Apesar de ele ter muito a ver com os resultados de nossas escolhas, nem sempre se associa a castigos ou penalidades.

Carma é tudo aquilo que falamos e pensamos, sendo definido no momento em que agimos ou reagimos tanto positiva quanto negativamente. E essas nossas ações deixam marcas — físicas, mentais, emocionais e até mesmo espirituais. Por exemplo: um hábito, um vício ou uma crença podem ser considerados carmas, visto que cada um deles se torna uma marca em nossas vidas, permanecendo ao longo dos tempos, caso não sejam resolvidos.

Se você tem um comportamento que traz sofrimento — por exemplo: vivencia as mesmas relações amorosas conturbadas —, é preciso analisar as ações e reações que tem tido ao longo de sua existência. O que você tem feito ultimamente que te leva a esses padrões repetitivos? Que ações lá atrás estão te levando para o mesmo caminho?

Mulher andado por um caminho carregando uma bolsa e com os cabelos ao vento
Sindre Strom / Pexels / Canva

Analisar o que foi feito no passado ajuda a entender por que você ainda está preso a determinados vícios. Só que o passado já passou. Sim, você, hoje, é resultado das suas escolhas pregressas. Nada pode mudar o que ficou lá naquele tempo. Mas você pode — e deve — mudar seu comportamento, para que, no futuro, as marcas das suas ações sejam completamente diferentes das que você traz agora.

É no presente que começamos a corrigir nossas ações, a modificar o nosso carma. Sim! Dá pra mudar o carma. Ele não é inflexível e muita gente acaba se resignando, estagnando, acreditando que tem que aceitar o que o passado está trazendo, e isso é um erro.

E quando o carma é familiar?

Como falamos mais acima, o carma tem a ver com as escolhas que fazemos. O que poderia levar a entender que só podemos mudar o carma quando o assunto é o nosso processo individual, certo? Não é bem assim.

Como carma é um conceito ligado a ação e reação, podemos também levar essa mudança de padrão para todos os âmbitos de nossa vida, sejam as influências pessoais (ou seja, só nossas) ou aquelas que exercem sobre nós.

É aí que entra a questão familiar. Entre os vários tipos de carma, o familiar é um dos que mais causam estragos emocionais em nossas vidas, porque nossas ações são basicamente “herdadas” de comportamentos que possivelmente também foram herdados por nossos pais, avós e assim por diante.

Carregamos características e impactos que vão “percorrendo” a árvore genealógica e se tornando um ciclo de comportamentos. Podemos absorver e repetir os comportamentos que nos são transmitidos pelo convívio, pela genética… e, até mesmo, sem percebermos. Se for um ciclo ruim, ele precisa ser rompido.

E como fazer isso? Tudo na vida é escolha. Precisamos decidir interromper ciclos ruins, porque, a partir do momento em que replicamos as ações de nossos pais, estamos optando por dar continuidade a esse padrão ruim, e aí passa a ser uma decisão nossa, uma ação nossa… que trará frutos. Se não mudarmos isso no presente, alimentaremos esse ciclo de sofrimento.

Homem e mulher brigando ao fundo e menina com as mãos tapando o ouvido na frente da foto
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Mas nem sempre é fácil identificar o carma familiar, porque, quando agimos, estamos colocando em prática o nosso livre-arbítrio. Sem falar que, quando praticamos as ações, somos nós os únicos responsáveis por elas — e, claro, por suas consequências. Mas existem formas de analisar e identificar quando o carma é familiar.

Sinais do carma familiar

Algumas situações, comportamentos e sentimentos do presente podem ser indícios de que estamos carregando — e reproduzindo — o carma familiar. As feridas emocionais dos nossos ancestrais também podem ser transmitidas para nós. Assim, há ações que replicamos sem nos darmos conta de que são heranças cármicas, mas que podem ser corrigidas assim que identificadas. Veja alguns sinais:

Padrão de parentalidade perpetuado

Se seus genitores eram distantes de você, te tratavam com frieza, não te dando carinho ou amor, verifique se esse não é um comportamento que você vem repetindo com seus filhos. Às vezes, você nem percebe, mas ainda assim pode se sentir incomodado com suas ações. E, quando percebe, certamente a sua primeira afirmação é: “Serei uma mãe/um pai melhor”.

Aliás, quando identificamos esse padrão, antes mesmo de nos tornarmos pais, já temos essa ideia em mente. Se conseguir perceber que é um padrão reproduzido, tente quebrar esse ciclo, que pode ter começado até mesmo com os pais dos seus pais, ou antes disso. Seja a primeira pessoa a romper com esse padrão, a se conectar aos seus filhos e transformar isso num carma bom, que eles vão passar adiante, para os filhos, netos e bisnetos.

Problemas de autoestima

Mulher se olhando no espelho. A imagem refletida é a de uma mulher com cabelo bagunçado e maquiagem  borrada
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Se você não recebeu estímulo, companhia e aceitação dentro da sua família, seja na infância ou em épocas posteriores, certamente terá grandes problemas de autoestima e autoaceitação. E isso se torna uma bola de neve pelo simples fato de que, muito provavelmente, na sua relação familiar, em busca desse retorno parental, você fazia de tudo para agradar aos seus pais.

Hoje isso pode se refletir no seu comportamento de tentar corresponder à expectativa de muitas pessoas, quase sempre ignorando suas vontades e emoções. Tudo por medo de contrariar uma pessoa e, com isso, perdê-la. Pode ser difícil, mas você precisa, em primeiro lugar, ter em mente que a falta de afeto e estímulo foi um problema dos seus pais. Não seu. Então você tem que entender que deu o seu melhor e que, na vida, não vai agradar a todos. E está tudo bem. Você não tem essa obrigação!

Comportamento egoísta e autocentrado

Se você hoje se sente mal por se pegar pensando somente em si ou considerando apenas os seus sentimentos, não importando o que vá causar ao outro, isso pode vir da influência familiar — seja no núcleo, seja com outros parentes.

Pode ser que, no passado, você tenha sido posto de lado ou havia algum familiar que ganhasse prioridade em tudo, muitas vezes em detrimento do seu bem-estar emocional. Isso pode fazer com que você hoje tente “sobreviver”, colocando-se em primeiro lugar, talvez até fazendo o mesmo que lhe fizeram.

Mais uma vez, tente se conectar com o outro: nem todos querem seu mal ou te deixar de lado. Trabalhe sua mente e seu coração para entender que é doando que temos retorno. Se você alimentar esse carma, vai se sentir ainda mais abandonado. Experimente compartilhar e pensar mais nos outros. Certamente, a retribuição virá e você vai se sentir parte de algo.

Ciúme, inveja e competitividade

Se você vive num lar em que todos competem de uma forma que não é saudável, é fato que seu comportamento pode vir a ser influenciado a agir do mesmo modo. Você pode repetir esse padrão, sendo competitivo no trabalho, agindo com inveja em relação aos seus amigos (e possivelmente, com isso, destruindo suas amizades), sentindo ciúme em relacionamentos amorosos e por aí vai.

Mas um sinal de evolução — ou, ao menos, de reação a tudo isso — é a possibilidade de destoar da sua família, não repetindo o padrão e odiando toda a competitividade e a inveja alimentada no lar. Porém ainda assim pode se sentir atingido por isso.

Se você reproduz esse comportamento, dê um passo atrás e repare em como ele não é capaz de construir absolutamente nada. Entenda que a cooperação e o trabalho em conjunto é o que nos fazem evoluir e seguir em frente. Se você ainda vive no ambiente familiar e se opõe a isso, talvez seja hora de mostrar aos seus parentes uma forma diferente de atuar. Se não obtiver sucesso, lembre-se de que, por ser familiar, esse também é um carma deles, cabendo a eles lidar com os próprios comportamentos. Não se deixe atingir.

Dificuldade para criar laços

Mulher com as mãos no rosto e homem conversando ao fundo
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Se você hoje não confia em ninguém, não consegue criar laços com as pessoas nem sente vontade de manter amizades, isso pode estar associado à sua relação pregressa com sua família, ao fato de eles não terem estabelecido bases sólidas de confiança entre si.

Pode existir também o medo de ser abandonado. Em algum momento da sua infância, por exemplo, seus pais podem ter deixado você sozinho, o que te causou enorme medo, insegurança e sensação de abandono.

Você cresceu. Manter-se afastado das pessoas não vai te proteger desse sentimento. Pelo contrário, é hora de dar uma chance às relações, criar laços e expressar sentimentos, porque tudo isso faz bem. Quebre essa corrente que te aprisiona e se dê uma chance. É óbvio que nem todo mundo será digno da sua confiança, mas é você que precisa mudar o seu carma. Quem sabe não ajuda alguém a mudar também?

Mas e agora? O que eu faço?

É óbvio que há inúmeros outros comportamentos e sinais que indicam que estamos alimentando um círculo vicioso originado na raiz familiar. E cabe a você dar aquele famoso passo atrás, olhar o quadro geral e entender que, para o seu futuro, suas ações devem ser efetuadas no presente, que só dependem de você.

Assim como fizemos uma pequena sugestão em cada um dos exemplos anteriores, sempre é bom você olhar pra dentro de você, analisar memórias e eventos passados. Tentar entender pode ser um começo, mas é necessário encontrar o seu próprio processo e sair dessa roda que está girando em direção ao caos.

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Carmas familiares estão no caminho hierárquico dos carmas de outras vidas… e vão se tornando um ciclo implacável, mas eles podem se encerrar por meio da nossa jornada individual. Existem diversas formas de se desvencilhar dessas influências. A tomada de consciência é essencial para começar.

A partir do momento em que você toma consciência das energias ruins de um carma familiar e que está dentro desse círculo doloroso, é menos complicado recapitular o passado e se desconectar dessas engrenagens.

Para uma ajuda mais detalhada sobre como quebrar esses padrões que vão sendo transmitidos, leia este artigo.

Seu carma é sua missão. Mas o carma dos outros é deles. Tentar mudar as pessoas pode trazer decepção, cansaço e rupturas que podem ser irreversíveis. E você, por mais que tenha “herdado” o carma familiar, não precisa carregá-lo como um fardo, porque carma não é isso. Carma é a chance de aprendizado, de evolução. É como se fosse um chamado para o nosso interior: é hora de mudar esse padrão. Use essa chance para evoluir e cocriar um futuro mais saudável emocional e espiritualmente.

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