Rio de Janeiro, março de 2016
Olá, querido Dr. Bach! Sei que estás bem.
Só o milagre das explicações quânticas e da possibilidade de dar saltos na temporalidade, indo para o passado, através das conexões emocionais e cognitivas, me permitiu poder escrever para você e imaginar um encontro que aconteceu através dos livros, das essências sintonizadas por você e de nossas consciências.
Te sinto muito próximo, mas não sei como me referir a você.
Confesso que tenho tamanho respeito e admiração para chamá-lo de doutor, mas quero me sentir fraternalmente próxima e me imaginar como uma aluna, pois temos em comum a Terapia Floral. E, mais do que isso, temos uma história de rupturas de paradigmas em busca de uma inteligibilidade do ser humano.
Quem é o ser humano? Como acontece o seu processo de evolução espiritual que não circunscreve apenas essa encarnação? Como ajudá-lo em seu sofrimento? São reflexões que venho dividindo com você.
Li vários de seus livros. Especialmente no Cura-te a ti mesmo, achei que reescrevê-lo diversas vezes, até ganhar a densidade que permite ao leitor ler cada palavra e cada frase, buscando os significados e dialogando com a própria vida, foi uma atitude gentil da sua parte, Dr. Edward Bach.
Falo de gentileza, pois sua produção permite ao leitor se integrar ao texto como o artista faz com o artefato produzido e, nesta integração, o conteúdo lido passa a integrar a subjetividade do leitor, fazendo-o pensar sobre a sua vida, suas escolhas, seus estados emocionais e sua saúde.
Assim foi o meu encontro com um texto já lido, mas, agora, profundamente refletido e introjetado em minha vida, provocando reflexões e mudanças. Foi criada uma dialogicidade que me fazia questionar se eram palavras de Dr. Bach ou se eram as minhas próprias palavras, pois você expressou várias premissas que me são caras no atendimento com a Terapia Floral e na minha representação da vida humana.
“Cura-ti a ti mesmo”
Frase curta, mas contundente.
Fazendo essa leitura dialogada com o seu texto, muitas percepções me foram possíveis. A começar pela originalidade da sua escrita, pois seu texto traz um novo paradigma de cientificidade. Não penses que estou desmerecendo-o. Acredito que essa apresentação do seu texto tenha sido um artifício proposital para trazer uma nova forma de reflexão e produção científica para as ciências médicas.
Você foi um visionário, escreveu um texto dogmático no qual tudo o que não existe é a objetividade ou o afastamento entre autor e o objeto de estudo. Você, com suas flores e essências florais, defendeu dogmas numa produção que misturava conhecimentos sobre a espiritualidade, a natureza humana e a vivência ética, feliz e responsável neste mundo.
Estava tão envolvido com as essências e com a proposta da nova Medicina, que não dá para separar quem é Dr. Bach, das essências e dos postulados científicos.
Sei que desejou trazer os referenciais de uma nova forma de conceber a saúde, ao pensá-la como fenômeno holístico, quântico, simples e natural na existência humana. Em suas palavras, o objetivo deste livro foi:
“Espera-se humildemente que ele seja um guia para todos os que sofrem para buscar dentro de si a verdadeira origem dos seus males, de modo que possam ajudar na cura de si mesmos”.
(BACH, 2006, p.15).
E como resposta as tantas perguntas que seu livro me suscitou, criei uma representação amorosa e admirada de você, como um caminhante. Um caminhante que confere à pessoa doente a possibilidade de compreender a subjetividade da doença e de encontrar a cura.
Neste caminho, foi possível perceber a materialidade das suas premissas ao sentir a dor em cada passo meu e no ressoar das suas palavras: a causa das doenças está na desarmonia entre a alma e a personalidade, sobretudo, na necessidade de viver com alegria o bem comum e o amor incondicional, elementos que nos aproximam do Pai criador e nos ajudam na realização de uma missão que deve ser vivida em paz.
A sua história afetou muito a minha vida, eu estava com esporão de calcâneo e uma fascite plantar, doenças que aceitei porque precisava parar de tanto correr por caminhos que estavam me distanciando da minha Alma e da minha paz. Parecia que pisava em espinhos. Não estava satisfeita com os caminhos percorridos, sempre com pressa, superficialidade e sem o afeto que tenho condição e desejo de dedicar as pessoas.
Adoeci. Na dor, pude perceber o quanto a minha alma estava andando a esmo e que eu precisava me encontrar comigo mesma. Para isso, precisaria tomar consciência e fazer escolhas, aceitar que algumas decisões implicam perdas e riscos que eu não queria correr. A reflexão só foi possível a partir da dor nos pés que me impossibilitou de caminhar.
Ainda não sei aonde chegar, querido mestre, mas percebi que precisava refletir sobre os meus passos e escolher os caminhos que desejo trilhar daqui para frente. Sair do estado emocional da indecisão e voltar a assumir o controle da minha vida com calma, paz e ternura. Como você tão bem explicou.
Sabia que a doença e que os meus estados emocionais foram provocados por experiências de dor, e como dizia o poeta Milton Nascimento: “Por tanto amor, por tanta emoção. A vida me fez assim”. Sou imperfeita, mas sigo buscando a saída para os labirintos pessoais e profissionais que me levavam à desilusão. Sou a própria emoção encarnada e nada passa por mim sem me despertar sentimentos.
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Como o artista que não consegue imaginar a obra pronta finalizada, estou vivendo o processo da Terapia Floral, cada etapa, cada instante e cada aprendizado através do contato com esta sua obra. Compreendi que a doença ocorre quando permitimos que outras pessoas interfiram em nosso propósito de vida e que “saúde é sucesso, felicidade e verdadeiro serviço. Servir através do amor, em perfeita liberdade e à nossa própria maneira”. (BACH 2012ª, p. 104)
Ao ler Cura-te a ti mesmo, ficou claro o quanto você o escreveu para os médicos no desejo de reformular a medicina a partir da reformulação da concepção da doença e do doente.
Só posso lhe confessar a minha admiração e o meu desejo de tê-lo como mestre. Meus pés já estão melhores. Agradeço-te por isso.
Com amor,
Taísa Vliese