Relacionamentos

Casamento às cegas: um encontro do amor líquido com o constrangimento

Um casal se beijando e segurando uma aliança.
smolnyi / 123rf
Escrito por Eu Sem Fronteiras

O amor é cego? Para as pessoas mais românticas, a resposta é sim. Para as que têm uma visão mais pragmática sobre os relacionamentos, a resposta é não. E há os indivíduos que não têm uma opinião formada sobre o assunto e que só diriam sim ou não depois que essa teoria fosse testada.

Foi pensando nisso que surgiu o programa “Casamentos às Cegas”. Sucesso na versão estadunidense e na versão brasileira, o reality que promete construir relacionamentos amorosos profundos e sinceros tem muito a nos ensinar sobre o tema. Com o conteúdo a seguir, reflita sobre relações líquidas e amor verdadeiro!

“Casamento às Cegas – Brasil”

“Casamento às Cegas – Brasil” é um reality show de relacionamentos de 2021 disponível na Netflix. Em 10 episódios, acompanhamos pessoas que querem viver um grande amor, mas não estão satisfeitas com as maneiras convencionais de fazer isso. Então elas recorrem ao programa, que apresenta uma dinâmica de encontros um pouco diferente.

Duas pessoas brindando uma taça de champagne.
Pixabay / Pexels

Primeiro, são formados dois grupos, que não vão se ver pessoalmente até certo ponto. Um grupo é constituído de homens e outro grupo é constituído de mulheres. Depois, essas pessoas são encaminhadas para cabines individuais, onde todas as mulheres terão a chance de conversar com todos os homens, mas sem vê-los.

Nessas conversas, os participantes do experimento social devem ir se conhecendo. Quando se sentirem compatíveis com alguém, podem recusar encontros com outras pessoas do programa. Assim, um relacionamento começa a se desenvolver. Um homem e uma mulher passam a conversar apenas entre si, ainda separados pelas cabines.

Se tudo der certo nas cabines, uma das pessoas do casal deve pedir a outra em casamento. Somente depois que o pedido for aceito é que elas poderão se ver pela primeira vez. Após esse primeiro encontro, os casais formados seguem para uma lua de mel, que é uma viagem na qual eles poderão se conhecer ainda mais.

Ao final da viagem, os pombinhos vão morar juntos em um apartamento oferecido pelo reality. Nessa etapa, eles vivem a rotina um do outro e os primeiros problemas começam a surgir. Porém se os casais considerarem que as diferenças entre eles podem ser superadas, encerram a experiência de um pouco mais de um mês com um casamento.

Aparência ou essência?

Na sociedade moderna, estamos acostumados a conhecer uma pessoa pela aparência dela em primeiro lugar. Inclusive os aplicativos de relacionamento são focados nisso, o que leva muitos indivíduos a modificar ligeiramente a própria imagem para terem um visual melhor do que a realidade.

Uma pessoa segurando um celular com a aplicação Tinder sendo exibida na tela.
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Nesse contexto, a proposta do “Casamento às Cegas” parece uma loucura. Como alguém pode se casar com uma pessoa que conhece há tão pouco tempo? E como é possível se apaixonar por alguém sem nunca ter visto esse indivíduo? Ainda que esse experimento seja extremo, ele levanta uma discussão importante.

Afinal será que nós nos apaixonamos pela aparência ou pela essência de uma pessoa? Provavelmente, a maioria das respostas para essa pergunta seria: “Pela essência, é claro”. Isso porque nós sabemos, racionalmente, que a aparência de alguém é a parte mais superficial dessa pessoa e que só a essência importa de verdade.

Mas na prática, nem sempre consideramos o interior em detrimento do exterior. Para se aprofundar nessa realidade, é importante conhecer o conceito de amor líquido, de Zygmunt Bauman. O sociólogo defende que as relações interpessoais estão se tornando cada vez mais superficiais e enfraquecidas, sem qualquer solidez. Ou seja, são relações líquidas.

Como consequência desse fenômeno, nós nos envolvemos com mais pessoas, sem conhecê-las de fato. Em vez de ter vários encontros com alguém, por exemplo, escolhemos uma pessoa que consideramos bonita, saímos uma vez com ela e partimos para a próxima. Vivendo assim, como seria possível chegar a um casamento, no qual as duas pessoas devem se conhecer e se amar com solidez e confiança?

Também é importante considerar o peso dos padrões de beleza nesse cenário. Aqueles que se encaixam melhor nos padrões podem ter mais chances de se relacionar com outras pessoas, mesmo que sejam relações superficiais. Por causa disso, os indivíduos fora do padrão sentem que não são atraentes e não serão amados, comprometendo até as relações duradouras que poderiam ser construídas.

Expectativa x realidade

Outra questão que o “Casamento às Cegas” levanta é a relação da sociedade com o mito do amor romântico. Por essa maneira de pensar, o amor que uma pessoa sente pela outra é suficiente para que elas permaneçam juntas. Então se um casal se apaixonou nas cabines, quaisquer outros problemas que surgirem na vida a dois seriam irrelevantes.

Um homem e uma mulher segurando um balão letrado com a palavra "love".
cottonbro / Pexels / Eu Sem Fronteiras

Tal teoria é levada tão a sério que os participantes devem se casar com apenas 30 dias de convivência, já que o amor que sentem poderia superar tudo. Apesar disso, as expectativas dos casais sobre como seriam as relações um com o outro foram frustradas pela realidade.

O motivo disso é que as pessoas que participaram do programa se apaixonaram pela imagem que criaram sobre o outro a partir do que esse outro dizia sobre si mesmo para elas. E quando estamos conversando com outro indivíduo sobre nós mesmos, dificilmente apontamos nossos defeitos ou o que poderia causar algum tipo de incômodo.

Portanto quando se inicia o período de convivência, o constrangimento toma conta de muitos casais. Isso porque eles precisam morar com alguém que conheceram há algumas semanas e ainda devem seguir a dança do acasalamento para manter o brilho da relação que estão construindo aos poucos. Casos de machismo e de falta de responsabilidade afetiva foram comuns nesse período.

Ou seja, o mito do amor romântico é apenas um mito. Em um relacionamento, é preciso mais do que amor para que duas pessoas se deem bem. Elas precisam de confiança, de compatibilidade e de planos semelhantes para o futuro. Além disso, é fundamental que elas conheçam a maioria das características do outro, as boas e as ruins, e que tenham uma boa convivência diária. Isso se tornou evidente a partir dos casais que terminaram o programa dizendo sim.

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Como conclusão de todas as reflexões apresentadas, podemos observar que o amor não depende das aparências, mas deve ser construído dia após dia, em uma relação profunda. Ao tentar apressar os processos, acabamos voltando para as relações líquidas, nas quais as pessoas não se conhecem de fato. Assista ao reality para pensar mais sobre essa questão e forme sua opinião sobre o assunto!

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