Capítulo 41 – NÃO TEM O QUE DIZER? CALE-SE, ORA BOLAS!
Pois é… Na ânsia de não deixar a outra pessoa sem uma resposta ou um comentário, agimos sob o impulso de uma carga de adrenalina e soltamos as bobagens e impertinências de sempre. “Pior a emenda que o soneto”, já diziam nossos avós, ao falarem sobre aquelas situações em que teria sido melhor permanecer no prudente silêncio.
Não se pode ter opinião sobre tudo, a não ser nos raros casos do conhecimento em nível universal, o que, no entanto, não basta para justificar a intromissão na vida das demais pessoas para dizer o que deveria ficar sem ser dito.
Se não conhecemos a totalidade do que se passa com as pessoas à nossa volta, em especial o que lhes marca em termos de vivência e sofrimento, nada melhor que o silencio respeitoso e oportuno.
Não será por dizer qualquer coisa que conquistaremos a gratidão e a admiração das pessoas, e é quase certo que elas nos serão muito gratas, pelo menos as pessoas inteligentes e maduras, se guardarmos o silêncio e as deixarmos com as energias centradas no ato de suportar os problemas do momento.
Fazer a diferença na vida das pessoas também é reconhecer que nada é mais eloquente que a beleza do silêncio que guarda respeito à sensibilidade do outro, uma poderosa blindagem contra a tonificação das dores internas.
Convém – e aí está um sopro de sabedoria em nossos excessos ao falar e pouco ouvir – que a prática do saber calar-se seja uma prova de que os conselhos úteis às vezes não são ditos, porque podem ser deixados para que as pessoas os ouçam nas suas vozes internas.
Não sei se é ficção da cabeça de quem possa ter me contado essa historinha ou ficção de uma ala rebelde da minha cabeça, que insiste em fugir do meu controle, porém eis o relato: houve, em certo tempo, um homem que sabia como ninguém quando ficar calado e o que dizer, quando decidia se expressar. Não era um homem sábio nem buscava sabedoria alguma. Era apenas um homem comum. Defeitos e virtudes também comuns, nada de extraordinário.
Era assim que se via seus atributos. Falava e silenciava sempre na mesma proporção, não faziam pergunta alguma e não respondia a todas perguntas que lhe dirigiam, assim era o homem comum de uma cidade também comum. E ele tinha uma profissão muito requisitada: ficar calado diante das pessoas, para que elas exercitassem a capacidade de ter algo a dizer que justificasse a manutenção do silêncio.
Era, diziam, sempre uma oportunidade para aprenderem a ficar caladas em certas ocasiões e , de silêncio em silêncio, ganhar tempo para aprender a refletir sobre os temas e a sopesar os sentimentos antes de abrir a boca.
Um dia, esse homem desapareceu. Muitos anos depois, centenas decerto, achou-se numa distante dobra do terreno, juntinho de uma fonte onde nascia um riachinho que muitos quilômetros depois seria um rio bem grande que faria o mar tremer quando nele desaguasse, bem ali, pertinho, uma lápide inscrita em aramaico antigo: “Falou pouco, mas ouviu tudo que precisava. Ouviu muito e fez com que falassem o que precisavam. Agora está junto comigo”.
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