CAPITULO 29 – PEDIU EMPRESTADO, DEVOLVA!
Não se trata de dinheiro, porque nesse caso a obrigatoriedade da devolução é óbvia demais e não justifica maiores atenções no contexto desse livro, além do fato de ser a mais elementar das obrigações.
O que se deve devolver é tudo o que se pede emprestado: livros, discos, vídeos, panelas, frigideiras, alicate, chave de fenda, raquete de matar pernilongo, revista de mulher (e homem) pelados, partituras musicais, tudo, enfim! Se fosse dado, não precisaríamos nos preocupar com a devolução mas, se emprestado, a pessoa a quem pedimos não deve se preocupar com a devolução porque sabe que ela será feita e aí está a diferença! A maioria das pessoas simplesmente se apropria de objetos os mais variados. A título de empréstimo, e sem a menor cerimônia não os devolvem, a não ser que o indigitado emprestador faça cobranças bem acintosas e prometa sanções terríveis!
Além de deselegante, não devolver algo que se tomou emprestado é uma invasão na propriedade do emprestador e quase um ato de surrupio, que sempre aborrece muito e é caso para ser pensado e repensado: pediu emprestado, devolva, de preferencia na data prometida ou pelo menos dê uma satisfação para o emprestador, quem sabe pleiteando um novo prazo para devolução, mas faça ENORME diferença devolvendo.
Uma curiosidade: um amigo jornalista, que se dizia “jornalista de letras invisíveis”, tinha um pôster bem grande na sala de estar da sua casa, pertinho do bar que era o legítimo epicentro daquele ambiente, e que tinha escrito em caprichadas letras padrão arial black negritado: “Na minha casa não se pisa no gato, não se olha para as pernas da minha mulher e não se pede nada emprestado!”
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Mais uma curiosidade: o cronista, escritor, ensaísta, colunista de jornais e revistas, e para muitos, quase uma unanimidade no Rio de Janeiro dos anos ali entre 1960 e 1980, José Carlos de Oliveira (1934/1986), para muitos o quase angélico Carlinhos de Oliveira, era uma pessoa afável, divertida e sempre de bem com a vida e seus espantos. Nas praias da Zona Sul do Rio de Janeiro, onde só ia para dar uma “piedosa espiada nas moças sem piedade dos simples mortais”, a conversa com ele era fácil e, numa delas, eu que era ainda jovem e seguia a trilha do sem lenço e sem documento do Caetano Veloso, ouvi do Carlinhos que, se dependesse só dele, “quando morresse iria se levantar todas noites de sábado da tumba só para fazer cócegas nos espaços meridionais das pessoas em embates sexuais, que lhe tinham tomado coisas emprestadas e que não as tinham devolvido”.
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