CAPITULO 28- GUARDE TODOS OS SEGREDOS!
Todos, sem exceção, desde que não estejam sob a mira de uma arma, pressionado por um dispositivo legal ou por algo maior que a sua escolha, guardem todos os segredos que tenham sido confiados à sua guarda em quaisquer circunstâncias. A pessoa que confiou a você a chave para mantê-lo guardado, confiou em sua dignidade, e isso não tem preço.
Muitas vezes as pessoas confidenciam algo que lhes aflige e o fazem intencionando, por vezes, “dividir” o peso da guarda do assunto, quando não fazem buscando um alívio em termos mais concretos. Ouvir um segredo implica na sua guarda. Se, eventualmente, você não se sentir à vontade ou não quiser responsabilidade, o que deve fazer é recusar-se a ouvir e pronto, tudo resolvido de forma limpa e honesta.
Não há um documento que formalize a guarda de um segredo, apenas a confiança em que ouve vinda daquele que compartilha. Ainda assim, a inviolabilidade do confiado é uma das mais antigas práticas dos rituais humanos, tão perdidas no tempo que não há trecho da história da humanidade em que a posse de um segredo não se destaque pela relevância e influência. Ademais, tanto os historiadores quanto os ficcionistas revelam a densidade dos laços que unem as duas partes, tamanha é a complexidade envolvida na guarda de um segredo.
Você fará diferença na vida das pessoas também na razão direta da sua confiabilidade, manifestada na absoluta discrição e silêncio de estátuas de mármore na proteção do que lhe venha a ser confiado.
Em alguns livros meus mencionei o Pé de Alufante, um morador das ruas do centro de São Paulo que ficou meu amigo e com quem troquei muitas impressões sobre a vida e o que se passa nas almas dos seus companheiros de infortúnio. Um homem simples mas oceânico em termos de sabedorias que não cabem nos recônditos acadêmicos e nos tratados sobre a divina natureza humana, o Pé de Alufante sempre surpreendia com as coisas que dizia. Quando se tratava do que acontecia nas geladas e terríveis madrugadas dos baixos dos viadutos e pontes da cidade, aí mesmo é que surpreendia e me deixava atônito, impactado por tanta tragédia nos mistérios guardados nos farrapos humanos que sobreviviam todas as noites e renasciam todos os dias, mais mortos um pouquinho.
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Um dia ele me disse que sabia quem era cada uma das dezenas de outros moradores de rua daquela região, inclusive um que dizia ser pai de uma celebridade muito bem resolvida financeiramente, cujo nome o Pé de Alufante sabia e nunca me disse, porque também, nunca perguntei. O interessante é que o Pé de Alufante me respondeu porque não informava aos Assistentes Sociais que sempre estavam pela região, de modo a que o referido senhor pudesse ser resgatado daquela vida e tivesse oportunidade de ser melhor: “Ora! Porque ele me pediu segredo e eu sou lá homem de trair segredo de amigo?”
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