CAPÍTULO 81 – O “TAMOS AÍ” É PODEROSO E FUNCIONA QUE É UMA BELEZA!
Essa expressão do linguajar popular disseminou-se nos anos 1970, como mais uma daquelas gírias de praia dos verões cariocas. A juventude da época passou a usar a expressão “tamos aí”, como se dissessem “contem comigo” e suas variações. Ela se alastrou das praias da zona sul do Rio de Janeiro para o caleidoscópio de gírias eternizadas na linguagem do dia a dia.
Seu uso pode fazer uma grande diferença na vida das pessoas, mais pela atitude que revela e é reconhecida pelas pessoas do que propriamente por sua característica como uma palavra muito engraçada.
Onde está a diferença de uma expressão tão banal? É fácil reconhecer essa diferença e entender a sua extraordinária potência: quando num apuro qualquer, naqueles pedaços da vida em que nos sentimos mais desamparados do que goleiro na hora da cobrança do pênalti, tudo o que queremos é alguém que se aproxime e nos diga que está presente, junto conosco, segurando a nossa mão e dividindo as dores e aflições!
Um telefonema, um e-mail, uma chegadinha no hospital ou na residência da pessoa que passa por algum tipo de provação, dentre as muitas que a Vida nos reserva para nosso desenvolvimento e fortalecimento, apenas para soltar um alegre e revigorante “tamos aí!” pode ser TUDO o que a pessoa esteja precisando para se sentir bem.
Mais que um mero cumprimento, uma rotina sem graça como o “tudo bem?” mecânico, repetitivo e sem emoção das nossas novas formas de interação, filhas do ausentismo das conexões por meio das redes sociais, a expressão tem tudo para se abrir e fazer florir sorrisos e sentimentos de proteção para quem a ouça, em determinadas circunstâncias, como as mencionadas.
Quando ninguém aparecia para uma palavra de conforto, eis que surgia o Ronaldo e seu rádio transistorizado, na cidade de Domingos Martins, próxima de Vitória, no Espírito Santo.
Jovem, mas com algum retardo mental, era conhecido por todos e sempre acolhido com carinho, principalmente pelas pessoas locais, que conheciam um detalhe da vida e dos hábitos do Ronaldo: onde houvesse sofrimento, de que forma fosse, não tardava e ele aparecia, depois que outras pessoas já tinham marcado presença, para um alegre “tamos aí!” Era tudo o que ele dizia e fazia: “tamos aí!” e nada mais! Mas o relato das pessoas que eram por ele visitadas era unânime: “Parece que o Ronaldo vem, diz ‘tamos aí’, vai embora, mas deixa algo bom com a gente”.
Foi com o Ronaldo, há mais de 40 anos, que aprendi essa expressão que uso sempre e de forma consciente sobre o seu real significado.
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