CAPÍTULO 79 – O QUE CUSTA NÃO “CORTAR” O DEVANEIO DO OUTRO?
Isso mesmo! Por que ser o(a) chato(a) que invade os sonhos e eventuais pirações das demais pessoas, apenas pelo prazer… de ser chato(a)?
O que é isso? Simples: a pessoa está compartilhando, por exemplo, um sonho, como o de comprar um belo carrão daqueles todo equipado, carérrimo, aí vem o sujeito estraga-prazer de sempre e dispara a pergunta fatal:
“Mas você já pensou no seguro, no IPVA e nas despesas de manutenção desse carro? Compra um carrinho do tipo 1.0, usado, maneiro, baratinho e vai tocando a vida, uai!”.
É uma geleira inteira que despenca em cima da cabeça da pessoa, não apenas um balde de água fria! Muitas vezes ela sabe que está sonhando com algo grandioso demais, porém está usufruindo intensamente do sonho, quem sabe até consolando-se com ele, o que é muito saudável.
E aí vem aquela tia amarga que parece ser obrigatória em todas as famílias, aquele pessoa que tem como maior trunfo a capacidade de ser a ave de maus bofes que pousa nos ombros dos desavisados e pia o pio cavernoso com toques rascantes dos seus infelizes e despropositais conselhos?
Não se sabe quem a tenha condenado às amarguras de uma solidão renitente e de um amargor pior que o suco concentrado da losna, seguido por um belo pudim de boldo, mas o fato é que essas pessoas sabem como poucas o que fazer para desestimular alguém que esteja em plena “viagem” pelos sonhos.
Seja uma grande diferença na vida das pessoas nesse momento! Como todas as pessoas, sem exceção, sempre estão expostas aos corvos de cemitérios abandonados e ao seu crocitar limitador das perspectivas do belo, seja a companhia deles por algum tempo para que a pessoa não seja arrancada de sua “viagem” pelo ilimitado universo dos sonhos.
Não quer dizer que você empurrará a pessoa sonhadora para o abismos das impossibilidades reais, mas certamente será a companhia no curto espaço de tempo em que sonhar é permitido e sem limites.
Tia Concetta era uma figura sem igual na minha família, ali pelos distantes anos 1960, italianíssima família miscigenada com brasileiríssima família.
Recordo-me de duas de suas características: a capacidade de esbravejar, como espumante e raivosa cachoeira de impropérios, contra tudo que achava errado e do autoproclamado “olho pichicológico” de que só ela dispunha.
Este seu olho era capaz de enxergar, segundo dizia, o que se esconde na alma das pessoas, então seu julgamento era implacável: “Non presta questo uno cretino!”.
O pior momento da Tia Concetta se dava quando explodia os devaneios das pessoas que, ingenuamente, deixavam escapar seus sonhos, que eram captados pelos antenados ouvidos dela: “?☠” (tradução para a linguagem corrente: “Se liga, seu mané, para de deslizar na maionese e vai procurar o que fazer, desocupado de uma figa!”).
Quando ela nos deixou e migrou para a outra dimensão, a voz corrente na família foi durante muitos anos a de que, enfim, se podia sonhar em paz, sem temer a terrível bruxa do reino dos sonhos negados… Bem, mas ela deixou eternas saudades.
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