A grande descoberta reside no sistema dos próprios interstícios, capaz de fazer voar as magistraturas rabiscadas nas impressões do que acreditamos desvendar. Não é o óbvio que refaz as velhas salvaguardas, mas a imensidão do não visto, permeando os rodeios dos holofotes, que trazem ao jogo as nuances do que nos negamos a perceber durante toda uma vida.
Não tenho dúvidas de que meu itinerário corresponde tão-somente ao honorário da vigia. Os passantes da minha história merecem tão-somente seu capítulo de vírgula, auxiliando os desinformados a implementar as vozes da solidão como maneira genuína de se fazer presente em meio aos barulhos perdidos que não são seus.
Penso com frequência nas vezes em que sucumbi ao ócio de ficar tempo demais. Demorar nas esperas assemelha-se aos motins das multidões que, em suas sombras, reconfiguram os olhares como modo de mostrar-se lúcido ao que ninguém entende. Às invenções bêbadas de perversão e saudosismo.
Pobres poetas recostados em suas dores. A todo momento revisitados pelos limites de seus versos, à mercê dos julgamentos intempestivos de gestos inescrupulosos de leitores desatentos. Não é possível ler um poema de Barros sem retomar a vivência do campo, assim como não é possível rememorar as vigílias das noites em claro sem retomar o nome de quem as guardou em seu pranto.
Há um quê de inércia nos olhos de quem se senta à beira das estações. Há uma atmosfera de saudade nos labirintos revisados pela simplicidade do que vamos deixando para trás à medida que sofisticamos nossas exigências.
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Nunca soube medir os aforismos dos tempos transmutados em descobertas fora das suas janelas. Abro as portas das palavras como via de colocar em algum lugar uma criação desajeitada e sem pretensão de ficar. Eu fico apenas onde os olhos encontram cheiros conhecidos para recostar o seu perfume. Sou a própria amostragem do silêncio para os barulhos que buscam as melhores formas de não serem tudo o que já são.
É como encontrar na plenitude das mãos o mais perfeito toque para as tormentas que subsidiam os espasmos do corpo. Nossa respiração, ofegante, renasce a cada mistério por desvendar. A cada chaga de lembrança pequena que vem nos remodelando pela amorosidade das estações.
Não são pequenos os pesadelos de vento. Não são desprezíveis os julgamentos em queda. Todas as vezes em que estive em apuros sensitivos, liguei-me ao centro das sensações como forma de relembrar as alegorias traduzidas em emoções. Não são poucos os roteiros que compõem nossos sentimentos, assim como não são besteiras os holofotes que nos colocam para existir.
Hoje sei que, se um dia for preciso, escolherei pela maciez do não dito em vez do excesso do discurso. Nas não palavras, encontro a travessura para escrever o que, de outra maneira, não conseguiria esboçar no mundo.