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Chorar é sinal de fraqueza? Nós vamos te convencer do contrário!

Mulher chorando olhando para o lado
Alex Green / Pexels
Escrito por Eu Sem Fronteiras

No meio de uma discussão, você quer se mostrar forte, quer mostrar que está no comando da situação, mas é inevitável: lágrimas começam a escorrer dos seus olhos, trazendo ainda mais raiva, constrangimento, vergonha e tristeza… Temos pouquíssimo controle sobre nossas emoções e as reações que elas causam, como o choro, mas por que choramos?

Além disso, por que chorar é visto como algo mal aceito socialmente? Se todos choramos, por que devemos nos sentir com vergonha ou mais fracos caso sucumbamos às lágrimas? Quais são as consequências para aqueles que não choram? Quando o choro excessivo pode ser um problema? Preparamos um artigo para tirar todas essas dúvidas e ajudá-lo a expressar mais livremente as suas emoções e as suas lágrimas.

Por que choramos?

Há, segundo a medicina, três tipos de lágrimas:

• As lágrimas reflexas são liberadas quando somos expostos a poeira ou a compostos químicos que irritam os olhos, como o óxido das cebolas;

• As lágrimas basais são responsáveis por lubrificar os olhos de tempos em tempos;

• As lágrimas emocionais são aquelas desencadeadas por sentimentos fortes, sejam eles quais forem.

Mulher deitada no sofá chorando
Ivan Samkov / Pexels

De acordo com essas definições, portanto, dois tipos de lágrimas são processos naturais do nosso corpo, enquanto um deles é causado por emoções que mexem conosco a ponto de nos fazer ter essa reação física.

É importante dizer que o choro é bastante subjetivo, então há gente que chora quando sente raiva, enquanto outros choram quando estão felizes demais, já algumas pessoas derramam lágrimas quando sentem alívio, por exemplo. As emoções causadoras de choro variam de pessoa para pessoa e de acordo com a personalidade de cada um.

Se chorar é uma resposta natural do corpo a um estímulo, seja externo (ex.: poeira) ou interno (ex.: sentimentos), por que ainda temos vergonha de chorar livremente quando nosso corpo sente essa necessidade?

Por que vemos o choro como sinal de fraqueza?

Essa é uma pergunta complexa, para a qual não existe resposta simples. São vários os motivos que fazem com que chorar seja visto como sinal de fraqueza. Um deles é que vivemos em uma sociedade em que o mais forte se sobressai e é quem é considerado mais merecedor do sucesso e da vitória, então é natural que as lágrimas, que representam tristeza, raiva, decepção, frustração, dentre outros sentimentos considerados negativos, seja vista como um oposto ao que a sociedade prega como ideal: sucesso, vitória, conquista e felicidade.

Mulher chorando com as mãos unidas
Polina Zimmerman / Pexels

O conceito de felicidade aplicado em nossa sociedade também exerce um papel significativamente negativo nessa equação, visto que somos ensinados a, desde cedo, buscar a felicidade o tempo todo, como se tudo o que fizéssemos devesse ser um esforço no sentido de ser mais feliz. Mas o que é ser mais feliz? O que é felicidade? É possível ser feliz o tempo todo? Há consenso na psicologia de que não, não é possível ser feliz o tempo todo, mas infelizmente ainda somos violentados por essa ideia de buscar a felicidade de maneira incessante, então ter momentos de fraqueza e de lágrimas é considerado algo bastante negativo.

Há outro fator social que faz com que o choro seja malvisto: ele é muitas vezes considerado o fundo do poço, como se chorar fosse aceitar a tristeza. E, de fato, às vezes chorar é aceitar a tristeza, e não deveria haver problema em aceitar que ela existe, acolhendo-a e sofrendo quanto for necessário antes de se levantar e seguir em frente, mas infelizmente nosso mundo idealiza que não se deveria aceitar que a tristeza existe e, pior, que deveríamos achar tudo bem sentir tristeza.

Os homens e o choro

Essa questão das lágrimas é um pouco mais cruel com os homens. Por causa dos estereótipos estabelecidos há décadas, a mulher é vista como uma criatura mais sensível e com pouca força, então não há muita surpresa quando uma mulher cai no choro. Mas quando um homem faz o mesmo, isso é bem mal avaliado.

Homem sentado no chão abraçando os joelhos
Alex Green / Pexels

Essa situação acontece porque vivemos numa sociedade machista, que prega o que chamamos de masculinidade tóxica: os homens devem ser bastiões de força, não devem demonstrar vulnerabilidades e precisam mostrar sempre uma postura agressiva e de ataque, não retraída ou triste, então é comum que os homens cresçam pensando que não têm direito de expor suas emoções e de sentir tristeza, caso contrário serão considerados fracos por seus pares ou, pior, pelas mulheres, que, segundo o estereótipo de masculinidade, precisam conquistar e impressionar incansável e incessantemente.

Aos homens, é vedado o direito de demonstrar fraqueza, sensibilidade e emoção. A consequência disso é que muitos acabam internalizando esses sentimentos negativos que precisam ser liberados, então acabam descarregando-os de outras maneiras, como sendo agressivos com parceiras, familiares, amigos e desconhecidos ou tendo comportamentos autodestrutivos ou maléficos para as pessoas que estão no entorno.

Chorar faz bem à saúde

A verdade, porém, é que chorar faz bem à saúde tanto física quanto emocional. Segundo Stephen Sideroff, professor assistente no departamento de psiquiatria e ciências biocomportamentais da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, em entrevista ao site da emissora CNN, os sentimentos causadores do choro que reprimimos têm energia, o que quer dizer “que você precisa se contrair de maneiras diferentes para reprimi-los”, explica o professor.

De acordo com Sideroff, essa postura de segurar ou fugir do choro cria desequilíbrios no corpo, porque a necessidade é suprimida, mas ainda está lá. “Se você está com fome, come e resolve o desequilíbrio”, exemplifica ele, mas então por que não fazemos o mesmo com o nosso choro, permitindo que ele seja aliviado e essa necessidade seja suprimida?

Mulher com o rosto cheio de lágrimas
cottonbro / Pexels

“Chorar e honrar suas próprias necessidades e sensibilidades é uma parte crítica do autocuidado e do amor consigo mesmo, é estar ciente das próprias necessidades e cuidar delas em benefício da saúde do corpo, da mente e do espírito”, opina Judith Orloff, autora do livro “Guia de sobrevivência do empático: estratégias de vida para pessoas sensíveis” e doutora em psiquiatria, também em entrevista à CNN.

Negligenciar a nossa vontade de chorar, portanto, vai apresentar consequências imediatas ou futuras em nosso corpo e em nossa mente, assim como ignorar a necessidade de se alimentar ou de se higienizar, por exemplo, vai trazer muitos malefícios a nós.

Mas cuidado! Chorar demais pode indicar algum problema

Já vimos que chorar é normal e deveria ser algo natural para nós, visto que é uma necessidade manifestada pelo nosso organismo em reação a algum acontecimento, pensamento, sentimento ou sensação, mas chorar demais pode ser sinal de algum desequilíbrio também.

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Ainda que seja identificada a imaturidade ou outro tipo de dificuldade de lidar com problemas e situações incômodas, chorar demais não é algo ruim por causa desses motivos. A situação problemática é outra: as lágrimas excessivas ou muito frequentes podem ser, na verdade, sintoma de algum mal que está escondido, como depressão, ansiedade, outros problemas de saúde ou mesmo uma angústia com a vida ou com algum acontecimento.

“Chorar muito e incontrolavelmente pode ser um dos sintomas de diversas condições, como alteração hormonal, hipotireoidismo, deficiência de vitamina B12, depressão, ansiedade e hipoglicemia”, explica Priscila Gasparini, psicanalista com especialização em neuropsicologia e neuropsicanálise, com mestrado e doutorado pela USP (Universidade Federal de São Paulo), em entrevista ao Viva Bem, do UOL.

Segundo ela, é preciso distinguir quando o choro excessivo é parte da personalidade da pessoa ou quando é um problema mais profundo. Ela diz que a melhor maneira de conferir isso é pensar no histórico da pessoa e em como ela manifesta suas emoções. Se ela sempre foi mais emotiva e mais sensível, é normal que acabe chorando mais, porque é assim que se manifesta sua personalidade.

Mulher com as mãos na cabeça e chorando
Liza Summer / Pexels

Mas a partir do momento em que esse choro excessivo começa a aparecer repentinamente ou acompanhado de outros sintomas, é preciso buscar ajuda médica para entender o que pode estar acontecendo, porque pode ser um problema físico, como os hormonais citados por ela, ou sintoma de um transtorno psicológico, como depressão. Buscar ajuda de um médico ou mesmo de um psiquiatra é essencial para descobrir qual é a causa oculta desse quadro de choro excessivo ou muito frequente.

A melhor maneira de entender se há algo errado com o corpo, segundo Gasparini, é um autoexame simples: “Um bom sinal é fazer uma autocomparação. Perguntar-se ‘Como eu estava nos últimos meses ou anos?’ e ‘O que tem acontecido que estou chorando mais e meu comportamento mudou?’”, sugere ela.

Como pudemos ver, chorar é uma resposta natural do nosso corpo a determinados estímulos, então não deveríamos ter medo ou vergonha de chorar, porque é uma necessidade fisiológica tão importante quanto se alimentar ou dormir, por exemplo. Não segure o seu choro, expresse-se bem, mas se notar que há excesso nele, procure ajuda médica. Cuide da sua saúde física e mental!

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