Quando pensamos na Cinderela, a primeira coisa que nos vem à mente é a paixão do príncipe em busca da dona do sapatinho de cristal. A protagonista do conto encontrou no casamento a sua realização. Mas será que, no início, era uma história de amor o que Cinderela queria?
Vamos explorar juntos a história dessa princesa e descobrir os ensinamentos para além da procura pelo amor de sua vida.
Leia este artigo e revisite Cinderela com a perspectiva do empoderamento
Cinderela
A origem da Cinderela vem dos talentosíssimos irmãos Grimm, autores de diversas fábulas infantis conhecidas até hoje. Para quem não se lembra, a história é a seguinte:
Pesarosamente, a mãe de Cinderela morre, e o pai, preocupado em não criá-la sozinha, se casa de novo. A madrasta tem duas filhas extremamente irritantes que só tratam bem a meia-irmã na frente do pai, humilhando-a quando ele viaja. Depois de um tempo, o pai também morre, e Cinderela torna-se uma escrava dentro de casa.
Certo dia, chega na casa um convite para o baile real, que duraria três dias. A intenção do evento é que o príncipe conheça as damas da região e escolha a sua noiva. É claro que as duas filhas da madrasta são autorizadas a ir, mas Cinderela não.
Cinderela vai, então, chorar perto da sepultura da mãe. Ela pede ajuda para uma árvore plantada a partir de um galho que o pai a presenteou pouco antes de morrer. Um passarinho ouve seus lamentos e resolve ajudá-la em um passe de mágicas.
Com um belíssimo vestido, Cinderela participa do baile, mas foge do príncipe para não ser descoberta pela família. Na terceira noite, porém, perde o sapatinho de ouro durante a fuga. O príncipe o encontra e começa uma busca para achar a dona do tal sapatinho, por quem estava apaixonado.
Uma das meia-irmãs de Cinderela chega até a cortar o próprio pé para caber no sapatinho. O plano, porém, não dá certo: ao passar pela árvore de Cinderela, o passarinho mágico revela ao príncipe quem é a verdadeira futura princesa.
Por fim, Cinderela e o príncipe se casam. As irmãs até tentam se reconciliar, mas acabam como mendigas pelo resto de suas vidas.
Enquanto eu contava a história, você deve ter percebido que algumas coisas estão fora do lugar. Cadê a fada madrinha? O sapatinho não era de cristal? E onde está a carruagem? Pois bem, todos esses detalhes foram acrescentados por Charles Perrault, em 1697. A nova versão foi exatamente a que deu origem ao desenho da Disney, em 1950, que tornou a Cinderela conhecida mundialmente.
De lá para cá, a história ganhou diversos contornos, principalmente no cinema. Em 1957, o filme musical “Cinderela” traz Julie Andrews como protagonista. Em 1965, é a vez de Lesley Ann Warren.
Nos anos 1990, a coisa muda de figura: “Para Sempre Cinderela” se passa na França renascentista, com Drew Barrymore interpretando Danielle. Em 2004, vem “A Nova Cinderela”, protagonizada por Hillary Duff, em um formato moderno de comédia romântica adolescente.
Até Selena Gomez interpretou a nova Cinderela, chamada Mary Santiago em “Outro Conto da Nova Cinderela” (2008). Há, ainda, uma versão natalina do conto, feita por Kat Decker em “O Natal de Cinderela” (2019).
Por fim, a Cinderela mais recente, de 2021, é a de Camila Cabello: uma jovem que sonha em se tornar estilista e vai ao baile para fazer o networking de sua carreira.
A cada geração, a famosa Gata Borralheira vai mudando suas origens e seus sonhos, mostrando que sua história extrapola um simples romance. E é sobre isso que vamos aprofundar a seguir.
Moral da história
Seja na versão mais antiga, seja na mais contemporânea, os grandes ensinamentos de Cinderela permanecem:
- Faça o bem e seja gentil: a Gata Borralheira pode ser vista como submissa em vários momentos nos quais a madrasta e as meia-irmãs abusam de sua boa vontade. Na verdade, o que Cinderela faz é manter o seu jeito amável de lidar com as pessoas, o que é possível perceber também em suas relações com os vizinhos e animais da casa.
- Tenha coragem: mesmo sabendo que seria negada, Cinderela tenta ir ao baile com a família. Quando isso não dá certo, ela busca outros meios de conseguir chegar lá e é recompensada por uma surpreendente fada madrinha.
- Seja persistente: depois de ter o seu primeiro vestido destruído pela madrasta e pelas irmãs, Cinderela não deixa de lado a ideia de ir ao Baile Real. O mesmo acontece quando a magia termina à meia-noite e quando a madrasta a impede de experimentar o sapatinho de cristal. A sua persistência é o que a faz ser vitoriosa mesmo na dificuldade.
- Não desista dos seus sonhos: após anos e anos sendo explorada e humilhada pela família, era de se esperar que Cinderela se conformasse com aquela realidade limitada. Mas não. Ela continua demonstrando a vontade de mudar e de ir atrás de seus sonhos. Não à toa, quando a oportunidade vem, ela está pronta para agarrá-la.
- Busque a liberdade: o sapatinho, seja de ouro ou de cristal, representa a libertação de Cinderela, a sua possibilidade de ir onde bem entender. Como vimos no tópico anterior, é algo que ela não pensa duas vezes antes de aceitar. Considerando todo o histórico da princesa, esse é o grande momento de libertação feminina dentro do conto — e não o casamento.
- Acredite em você e nas próprias origens: uma coisa que Cinderela está sempre relembrando é a amorosidade de seus já falecidos pais. Ela não se distancia, nem por um minuto, dos valores que lhes foram ensinados, e sabe que isso é mais que o suficiente para chegar onde deseja. Mesmo que a madrasta e as meia-irmãs a vejam como estranha ou um ser incômodo dentro da casa.
- Não viva a vida do outro: as irmãs de Cinderela não poderiam aparecer no conto apenas para atrapalhar, não é mesmo? Alguma lição elas têm que ensinar. E a maior delas aparece quando tentam mutilar o próprio pé para caber no sapatinho de cristal. Isso mostra que ninguém pode abrir mão de parte de si para se encaixar na vida do outro, especialmente dentro de um relacionamento amoroso (com um príncipe ou não).
E, por fim, mas não menos importante: Cinderela nos ensina a respeitar o karma. Mantendo a postura amável, gentil e independente, ela nos mostra que fazer a sua parte é o suficiente para que o universo a recompense. Enquanto, no caso contrário, o destino pode ser o mesmo da madrasta e das irmãs da princesa.
A seguir, vamos discutir a recompensa recebida por Cinderela e por que ela tem se modificado a cada nova versão.
Cinderela empoderada
Vamos ser sinceros: o que a Cinderela realmente queria era um vestido bonito e a chance de se divertir no Baile Real. Não um relacionamento.
Tudo bem que, à época, era comum que as mulheres vissem o casamento como forma de emancipação. De fato, o príncipe a libertou das garras de uma família aproveitadora, pois lhe deu condições financeiras e de status para que não precisasse mais da madrasta e das irmãs para sobreviver. O amor entre os dois pode até ter sido construído nesse processo, mas a verdade é que isso nem importa!
O final feliz da princesa veio com a sua liberdade, porque o karma a recompensou por ter sido amável e gentil durante todo o tempo de exploração.
Nos dias atuais, os filmes demonstram que o cerne do conto da Cinderela não tem nada a ver com paixão, mas com a libertação feminina, seja como for. A própria Camila Cabello, na versão mais recente da Gata Borralheira, vai ao Baile não atrás de um príncipe, mas para dar o pontapé inicial na tão sonhada carreira como estilista.
Em breve, o final feliz da Cinderela poderá ser justamente uma promoção do trabalho ou a realização de um projeto que nada tem a ver com a sua vida amorosa. E essa é a verdadeira liberdade que a princesa pode nos ensinar.
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Se você gostou dessa reflexão sobre a história da Cinderela, que tal repensar a moral da história de outras fábulas tão comuns no nosso imaginário? Tenho certeza de que muitas lições permanecem escondidas em meio a tantos contos de fada…