Como eram divertidas as matinês no Esporte Clube União, ao som das marchinhas antigas de carnaval em seu salão com tenda de circo…
Lembrando-me disso, começo a pensar em tudo o que tenho visto ou lido nos últimos dias.
É verdade: em nossa sociedade, indiscutivelmente, existe mais circo que pão. É verdade que há muito desperdício (de tempo e dinheiro), movimentando a economia local das folias. Alguém comentou que a renda dos desfiles do Rio de Janeiro, por exemplo, poderia ter parte destinada para a recuperação do falido sistema público de saúde local. Sem contar as notícias sobre o número de acidentes nas estradas, aumento das DSTs e a overdose televisiva de seios e bundas… Está bem! Aqui, somente quero ressaltar outro olhar, menos crítico.
Ainda que tudo figure como um grande circo com muito “mais de mil palhaços no salão”, como já cantava Zé Kéti em sua marchinha de 1967, como ignorar a paixão e a dedicação das comunidades e agremiações que compõem as escolas de samba?
Sabe-se lá quantos assuntos obscuros estão por trás ou na frente dessas histórias, mas quero sim um olhar mais sereno. A vida já exige demais de mim também.
Fora das manchetes, estão muitas pessoas em pequenas reuniões familiares que só são possíveis para elas em feriadões como esse.
A maneira pura e genuína de cada um conviver com suas próprias cinzas pessoais.
Assim como grupos de amigos que aproveitam para fortificar seus laços sem bagunça ou imprudência, apenas pelo prazer de confraternizar e estar entre pessoas queridas.
Existem diversos programas culturais alternativos, deliciosas matinês, como as que eu ia com a minha mãe, nas quais, acompanhando minha sobrinha hoje, vislumbro inúmeras pessoas vivendo para lá do seu sexagésimo carnaval, colhendo agora os confetes do pequeno sossego de uma vida inteira de trabalho.
Conheço grupos que promovem a “folia do voluntariado”, destinando seus esforços ao entretenimento de crianças carentes com atividades lúdicas e oficinas de arte.
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Pode ser muito romântico de minha parte, mas o que me comove em todos os nossos grandes circos, como o carnaval e a copa do mundo, não são o “como” e o “por quê”, mas sim perceber que esta alegria quase unânime e muitas vezes desmedida é a maneira pura e genuína de cada um conviver com suas próprias cinzas pessoais, antes mesmo da quarta-feira chegar…
E, no final das contas, cada um se volta para o lado que convém, para o que interessa e chama sua atenção, de acordo com seu nível vibratório.
Bom ou não, as opções estão todas aí.
Depois de tudo, para os que gostam ou desgostam, concordem comigo ou não, estaremos todos esperando o próximo circo, capaz de suavizar o ardor de nossas cinzas.
Cinzas, é bom ressaltar, que não são capazes de apagar nossas aspirações em busca do pão.
Nesta ordem!