Se você gosta do reality show Big Brother Brasil ou apenas acompanha as notícias diariamente, já deve ter visto a confusão causada pela mídia sobre a participante do BBB22, Linn da Quebrada. Afinal, é uma mulher trans? É travesti? O certo é ele ou ela?
Conforme a sigla cresce, aumentam as dúvidas acerca da população LGBTQIA+. Essa união de letrinhas, inclusive, reúne diversos grupos com diferentes identidades e orientações sexuais. É o caso de lésbicas, gays, bissexuais, e por aí vai. Como um movimento social, o seu objetivo é combater qualquer tipo de preconceito associado a essa população, garantindo direitos e políticas públicas voltadas para o grupo.
Além de sofrerem historicamente com a discriminação, as pessoas LGBTQIA+ são perseguidas, violentadas, reprimidas e, infelizmente, até assassinadas. Como se não bastasse, ainda têm que ficar explicando a toda hora as denominações com as quais se identificam. Então, vamos aprender de uma vez por todas para não errar mais?
Mais sobre a letra T da sigla LGBTQIA+
- Significado da sigla LGBTQIA+
- Vamos entender o que significa LGBTQIA+:
- Aprofunde-se no significado e nas pautas de cada “letra” da sigla LGBTQIA+
- Cisgênero
- Transgênero e transexual
- Travesti
- Bandeira transgênero: história e simbolismo
- Dia Nacional da Visibilidade Trans
- Transfobia: um crime a ser combatido
- Como descobrir se sou uma pessoa LGBTQIA+?
- Várias definições, porém com qual eu me identifico?
- Será que é importante assumir uma identificação no universo LGBTQIA+?
Significado da sigla LGBTQIA+
A primeira coisa que você precisa ter em mente é a diferença de orientação sexual e identidade de gênero, ambos conceitos presentes dentro da comunidade LGBTQIA+. Enquanto orientação sexual tem a ver com quem a pessoa se relaciona de forma afetiva ou sexual (com o mesmo sexo, com o sexo oposto ou com ambos), a identidade de gênero diz respeito a como ela se identifica (características femininas, masculinas ou outras).
Para abranger tanta diversidade, a sigla foi se transformando com o passar do tempo. No início, resumia-se a “GLS” ou “gays, lésbicas e simpatizantes”, mas depois foi ganhando algumas letrinhas novas, todas conquistadas por meio de muita luta por parte de grupos ainda menores dentro da comunidade.
Vamos entender o que significa LGBTQIA+:
- L de lésbicas: orientação sexual referente a mulheres que se atraem por outras mulheres;
- G de gays: orientação sexual referente a homens que se atraem por outros homens;
- B de bissexuais: orientação sexual referente a pessoas que se atraem tanto por homens quanto por mulheres;
- T de transgêneros: identidade de gênero referente a pessoas que se identificam com um gênero diferente daquele que lhes foi atribuído ao nascer;
- Q de queer: identidade de gênero referente a pessoas que transitam entre ou além dos gêneros feminino e masculino;
- I de intersexuais: identidade de gênero referente a pessoas que nasceram com características sexuais biológicas que não se encaixam nas categorias de feminino ou masculino;
- A de assexuais: orientação sexual referente a pessoas que não sentem atração por outras pessoas, independentemente de como elas se identificam;
- + para se referir a outros grupos que não são nomeados pela sigla, mas fazem parte da comunidade.
Portanto, se fôssemos encaixar a cantora Linn da Quebrada em uma dessas letras, seria o T, certo? Certo! Antes, porém, de aprofundarmos no que significa ser uma pessoa trans ou até mesmo discutir se ela seria transexual ou travesti, precisamos entender alguns conceitos importantes, como veremos a seguir:
Aprofunde-se no significado e nas pautas de cada “letra” da sigla LGBTQIA+
Cisgênero
O primeiro deles é o cisgênero. Cisgêneros, diferentemente dos indivíduos transgêneros, são aqueles que se identificam com o gênero que lhes foi atribuído. Confuso? Vamos exemplificar:
O que é homem cis? Homem cis é aquele que nasceu com órgãos sexuais masculinos e se identifica como homem. O que é mulher cis? Mulher cis é aquela que nasceu com os órgãos femininos e se identifica como mulher. Está diretamente ligado à identidade, em como a pessoa se compreende enquanto gênero.
Isso nada tem a ver com a orientação sexual, já que uma mulher cis, por exemplo, pode gostar de outra mulher e continuar se identificando com o gênero feminino. Por isso, não confunda: há uma enorme diferença entre cis e hétero. Pessoas cis podem ser heterossexuais, homossexuais, bissexuais, panssexuais ou assexuais – uma coisa não interfere na outra.
Transgênero e transexual
Chegamos, então, ao trans. O que é uma pessoa trans ou, simplesmente, o que é trans? Como vimos, é o contrário do cis. Um indivíduo pode ter nascido com um pênis, ter um quarto todo azul durante a sua infância e ser ensinado desde pequeno a se comportar como um homem, mas, se ele não se identifica com as características masculinas, ele se torna trans.
Assim, o homem trans é aquele que foi designado para ser mulher, mas se identifica como uma figura masculina. Já a mulher trans é aquela que foi designada para ser homem, mas se identifica como uma figura feminina.
É importante lembrar que dentro do termo trans, estão várias identidades: o transexual, o transgênero, o travesti, pessoas não binárias, entre outras. Pessoas trans são representadas pela bandeira trans, cujas cores azul, rosa e branco abraçam, respectivamente, os meninos, as meninas e os intersexuais.
Travesti
Travesti, então, como se autodenomina Linn da Quebrada, é apenas uma das identidades trans. O termo já foi muito associado à prostituição, mas hoje vem se ressignificando e tem enorme peso político.
De forma geral, o termo é associado a pessoas trans que não fizeram cirurgias para modificarem seus corpos, enquanto transexuais seriam aquelas que já as realizaram. Como, entretanto, a comunidade LGBTQIA+ preza muito pela autoidentificação, o melhor mesmo é respeitar como cada indivíduo se enxerga. Se Linn disse que é travesti, ela é travesti e ponto.
Bandeira transgênero: história e simbolismo
Para representar o orgulho e a identificação das pessoas LGBT, essa comunidade também desenvolveu bandeiras para que esses indivíduos possam abraçar e chamar de suas.
Desenvolvida em 1999 e exposta pela primeira vez em 2000, durante uma parada do orgulho, a bandeira trans é uma criação da artista transexual Monica Helms. Ela consiste em um conjunto de cinco faixas horizontais, sendo: duas faixas azuis, que representam os homens, duas faixas rosas, que representam as mulheres, e uma faixa branca, que representa as pessoas em transição, pessoas de gênero neutro ou pessoas sem gênero definido.
Mas nesse universo nada está escrito em pedra. Buscando abraçar todas as pessoas dessa comunidade, essa bandeira original, apesar de ser a mais difundida e conhecida amplamente até os dias de hoje, também possui as suas variações.
A ativista e escritora trans Raquel Willis, por exemplo, já trocou a faixa branca pela cor preta. Fez isso com o intuito de representar a comunidade negra no universo trans e, dessa forma, dar maior visibilidade às lutas específicas que essas pessoas enfrentam em seu dia a dia.
Existe, também, o design de Lindsay. Um pouco mais simplificado, ele consiste em uma faixa horizontal rosa, uma faixa horizontal azul e, ao meio, o símbolo de todos os sexos ⚧ na cor branca.
Já o design de Andrew é mais complexo: possui quatro faixas horizontais rosas que são intercaladas por linhas brancas e três faixas horizontais azuis, além de um símbolo do masculino e feminino, em lavanda, na sua parte superior esquerda.
Um fato curioso é que, em Israel, a bandeira trans é totalmente diferente dos modelos que conhecemos: tem um fundo verde neon e o símbolo ⚧, em preto, em seu centro.
Dia Nacional da Visibilidade Trans
A conscientização e a celebração do orgulho trans são ações muito importantes para lutar cada vez mais contra a transfobia e garantir os direitos dessa comunidade. É por isso que foi estabelecido o Dia Nacional da Visibilidade Trans, que, no Brasil, é celebrado anualmente em 29 de janeiro.
Essa data foi escolhida para honrar o marco histórico do lançamento da campanha “Travesti e Respeito”, em 2004, e está diretamente ligada à necessidade de destacar as lutas, conquistas e demandas da comunidade em âmbito nacional.
Historicamente, as pessoas trans enfrentam muitas dificuldades em suas vidas simplesmente por serem quem são. Entre o preconceito, as violências e a invisibilidade, torna-se urgente a promoção de seus direitos e o reconhecimento de sua existência.
Para você ter uma noção, a expectativa de vida da população trans é de apenas 35 anos. O Brasil, país que mais mata essa comunidade, também torna difícil a sua ingressão em ambientes profissionais e estudantis, o que intensifica a sua marginalização.
Assim, o Dia Nacional da Visibilidade Trans funciona como uma oportunidade para conscientizar as pessoas por meio do reforço das realidades vividas por esses indivíduos. Relatos e histórias reais não só dão voz à comunidade como também sensibilizam a sociedade sobre essa causa.
Portanto, essa é uma ocasião para unir a comunidade e fortalecer a sua voz, reivindicando a igualdade, o respeito e a dignidade. Para isso, são organizadas atividades e eventos que vão desde palestras e debates até marchas, exposições e campanhas de conscientização.
Transfobia: um crime a ser combatido
Infelizmente, muitas pessoas trans ainda sofrem com a transfobia, ou seja, tornam-se alvo de preconceito, discriminação e aversão de outros indivíduos.
Isso ocorre de uma série de maneiras diferentes. Por exemplo, a recusa em usar os pronomes certos ou a insistência em proferir o nome morto de uma pessoa trans, como ocorreu com Lina Pereira dos Santos – ou Linn da Quebrada -, no BBB 22, consistem em um misto de violência e assédio verbal e moral, em que há o intuito de constranger e prejudicar a autoestima e o bem-estar emocional da pessoa atingida.
A violência física também não é incomum, resultando em ataques brutais e covardes direcionados e motivados por conta da identidade de gênero, como ocorreu com a travesti Dandara dos Santos, de 42 anos, que foi espancada até a morte por um grupo de homens.
Outra questão é a discriminação institucional. Embora hoje o Brasil e o mundo contem com leis voltadas a essa comunidade, ainda há muito a evoluir.
A recusa de atendimento médico, a falta de especialistas, a dificuldade em atualizar os documentos com as informações certas e até mesmo o impedimento de usufruir de certos direitos e profissões (como ocorreu com Lumen Müller Lohn, major travesti que foi perseguida pelo seu trabalho na PM) são violações sofridas diariamente por pessoas trans.
Ou seja, deu para perceber que a transfobia possui uma série de nuances e, assim, pode até ser difícil de ser identificada em situações mais sutis e por olhos menos treinados. Somente a evolução da sociedade pode corrigir essas falhas com cada vez mais frequência e rigidez.
Como descobrir se sou uma pessoa LGBTQIA+?
A descoberta da própria identidade de gênero ou orientação sexual é um processo muito íntimo. Não existe uma fórmula pronta ou um teste para descobrir se você é LGBTQIA+. É preciso respeitar o próprio tempo e prestar atenção em quem desperta os seus desejos românticos ou sexuais ou em como você realmente gosta de se vestir, comportar e enxergar quando se olha no espelho.
Lembre-se: a sua escolha é extremamente pessoal e não diz respeito a ninguém. Não deixe que ninguém apresse você ou queira decidir por você com base em estereótipos. Como veremos abaixo, as possibilidades são inúmeras.
Várias definições, porém com qual eu me identifico?
Encare o universo da sexualidade como algo fluido, em que os rótulos podem ajudar, mas não são uma regra. Ouça a sua intuição, experimente, converse com outras pessoas da comunidade LGBTQIA+. É só com muito autoconhecimento que você será capaz de descobrir como você se identifica.
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O + ao final da sigla tem um objetivo: abranger toda e qualquer possibilidade que permita a sua existência, independentemente de qual seja ela. Veja abaixo como encarar esse processo de descoberta com mais liberdade:
Será que é importante assumir uma identificação no universo LGBTQIA+?
Para algumas pessoas, escolher uma identificação dentro da sigla LGBTQIA+ é se limitar. Para outras, é uma forma importante de se reconhecer e resistir aos preconceitos.
Para Linn da Quebrada, reforçar que ela é uma travesti é dar um novo significado a um termo que já foi muito pejorativo no passado, demarcando que ela existe e continuará lutando para existir e ser vista. É o que ela quis mostrar com a frase que viralizou nas redes: “Eu fracassei. Sou um fracasso de tudo que esperavam que eu fosse. Não sou homem, não sou mulher, sou travesti!”.
No fim, não importa a identidade assumida por você – se é que assumiu alguma. O que importa é o respeito por quem você e todas as outras pessoas decidiram ser nesse mundo.