Precisamos falar sobre o clitóris. O desenvolvimento de grande parte dos conteúdos e das pesquisas com relação à sexualidade humana tem uma particularidade: giram em torno do masculino. Para se ter uma ideia, o primeiro estudo de que se tem notícia sobre a “origem do orgasmo feminino” foi publicado em 2016 na revista científica “JEZ – Molecular and Developmental Evolution”. Além disso, teorias científicas positivas (e devidamente aprofundadas) sobre o clitóris começaram a ganhar força só a partir de 1998 graças a urologista australiana Hellen O’Connell. E é exatamente sobre o universo clitoriano que nos debruçaremos hoje.
O prazer feminino, incluindo o próprio corpo da mulher, é um personagem da história que viveu enclausurado por anos: escondido, com medo, rotulado por inúmeros tabus. Culturalmente, em diversas partes do mundo, a mulher não foi ensinada a ter e a receber prazer, mas a dar prazer. As coisas, no entanto, estão mudando. Por mais tabu que ainda exista em torno da sexualidade feminina, a revolução da equidade de gênero chegou também ao mundo da medicina e a geração atual tem a oportunidade de acessar muito mais informações do que as mulheres nascidas até o século XIX.
Clitóris tem origem grega – “kleitoris” – e significa pequeno monte. A primeira observação que se tem registro sobre ele é de Hipócrates, considerado ocidentalmente o “pai da Medicina”. Ele viveu entre 460 e 377 antes da Era Comum. Apesar disso, a primeira tomografia de um clitóris ereto de que se tem notícia aconteceu em 1998. Um intervalo tamanho que parece absurdo, não é mesmo? Mas que diz muito sobre como nossa sociedade tratava a sexualidade e o prazer feminino: sem nenhuma prioridade. E a alienação é uma das formas de controle mais primitiva que existe. Portanto, mulher, conheça seu corpo e seu clitóris, pois isso faz parte da nossa revolução amorosa.
O que você encontrará neste artigo:
Onde fica mesmo?
A genitália externa feminina é chamada de vulva e a origem desse nome está no sânscrito “yoni”, que significa “passagem divina”, “lugar de nascimento”, “fonte de vida” e até “templo sagrado”. É interessante acessar as culturas milenares, pois muitas trazem uma abordagem totalmente diferente do que estamos acostumados nos conhecimentos ocidentais, principalmente sobre a sexualidade. Mulheres e homens são parte da criação e tão divinos como tudo o que está manifestado no Planeta Terra. Assim, é natural que a “porta de entrada” para viver por aqui seja vista com respeito e sacralidade. Por mais simples que isso pareça, é bom que nos lembremos que a única forma de chegar ao mundo é pelo ventre de uma mulher (natural ou de laboratório).
A vulva é a morada do clitóris. Ele fica localizado na parte superior próximo aos pequenos lábios, protegido pelo prepúcio e composto por corpo, glande e bulbos vestibulares. Apesar de ser comumente conhecido como esse pequeno ponto externo, internamente ele é muito maior. O clitóris tem mais de oito mil terminações nervosas (que podem variar de mulher para mulher). Seu corpo interno, localizado atrás dos lábios internos e ao redor da uretra e do canal vaginal, tem extensões que chegam a 10 centímetros cada. Ele é considerado a zona mais erógena do corpo feminino e sua função principal é simplesmente proporcionar prazer.
O clitóris em todos nós
Apesar do desequilíbrio de informações, o pênis e o clitóris têm a mesma origem em termos de estrutura biológica. Eles se originam do mesmo tecido embrionário e seu desenvolvimento se inicia em todos os seres humanos. É só a partir da oitava semana de desenvolvimento fetal que o cromossomo Y do DNA masculino passa a ativar a diferenciação do tecido genital para desenvolver um pênis. Eles guardam diversas semelhanças entre si, simplesmente se diferenciando pelo formato e pela localização. Compreender essa origem nos auxilia na compreensão de como a desinformação sobre o corpo feminino é uma questão cultural. Foi graças ao grande desenvolvimento da força feminina na sociedade nas últimas décadas que a ciência finalmente se debruçou, de fato, nas pesquisas sobre esse importante órgão.
Inclusive, uma pesquisa publicada na revista “Clinical Anatomy”, em novembro de 2019, conduzida pelo médico britânico Roy Levin, trouxe luz sobre o fato de que o clitóris não só é primordial para o prazer feminino, mas que a sua estimulação tem um papel importante na fertilização da mulher. Seu estímulo promove o aumento do fluxo sanguíneo vaginal, o que evita dores durante a penetração, eleva a temperatura e os níveis de oxigênio da vagina, além de aumentar a lubrificação. Isso auxilia o recebimento dos espermatozoides e facilita a fertilização do óvulo, pois todo o estímulo proporciona a movimentação do colo do útero.
Deleite feminino e autoconhecimento
Para a mulher contemporânea, é fundamental conhecer o próprio corpo e se permitir sentir prazer. O orgasmo é fundamental para a saúde emocional do ser humano, já diria Freud e todas as recentes pesquisas da neurociência. Ele traz reações físicas e psicológicas, ativando o sistema límbico (relacionado ao prazer), estimulando o sistema nervoso parassimpático pela liberação de hormônios e liberando endorfina, hormônio do bem estar, e oxitocina, que auxilia no estabelecimento de vínculos de confiança. Daria para fazer uma lista enorme de benefícios; e, especificamente sobre a mulher, uma vida sexual confiante e ativa significa também confiança, autoestima, amor-próprio, criatividade e conexão com seu alto poder interno e natural.
O clitóris é fundamental para que a mulher chegue ao orgasmo. É importante que ele seja estimulado diretamente e levado em consideração em outras posições. Lembre-se de que o número de terminações nervosas ligadas ao clitóris é praticamente três vezes o número presente no pênis, por exemplo, portanto, não o deixe de lado. Dicas como circular os dedos, apertar, acariciar são as mais conhecidas, mas tenho uma boa notícia: o prazer feminino ganhou foco científico pelo movimento OMGyes, que atua com estudos que visam desmistificar os tabus do prazer, além de proporcionar informações sérias sobre técnicas para o prazer feminino.
Outro ponto importante é o fato de que, para chegar ao orgasmo acompanhada, é fundamental conhecer esse orgasmo sozinha. Afinal, como você vai escolher seu sabor preferido de sorvete sem ter experimentado alguns antes? É preciso derrubar, de fato, todos os tabus da sexualidade feminina para que nenhuma mulher se sinta suja ou impura por simplesmente tocar o próprio corpo. Recebemos esse templo sagrado e conhecer todos os seus mistérios faz parte de uma caminhada saudável e empoderada. Uma vida sexual plena e ativa tem ligação direta com o desenvolvimento de consciência que nossos tempos tantos necessitam.
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Portanto, mulher, dê a você mesma esse presente: conheça seu corpo, suas preferências, faça testes com acessórios, leia sobre o assunto e descubra todo o poder da sua Yoni. O melhor ponto nisso tudo é que, quanto mais se pratica, melhor fica. E é comprovado que uma mulher plena sexualmente com seu próprio corpo não aceita mais migalhas sob nenhuma forma em sua vida. Viva!