Tenho refletido bastante sobre a importância da criação e do fortalecimento dos coletivos femininos e dos grupos de mulheres na nossa sociedade. O amparo público e social às mulheres que sofreram violência está bem longe de ser ideal.
Recentemente auxiliei uma menina que necessitava da assistência da Delegacia da Mulher e não o recebeu. Como, infelizmente, tantas outras. Para ser mais precisa, em 2016, quinhentas e três mulheres foram agredidas a cada hora no Brasil segundo uma pesquisa realizada pelo Datafolha. Esses são os números das estatísticas, sendo que a grande maioria das mulheres ainda não tem coragem de denunciar seu agressor.
Ana (vou colocar o nome fictício aqui da menina que auxiliei) me dizia que procurar auxílio em delegacias era uma segunda grande violência. E todos sabemos do descaso e desrespeito que muitas mulheres sofrem no momento pós-abuso. Muitas vezes a mulher é considerada responsável e culpada pela violência que sofreu, por homens e mulheres que ainda mantém suas crenças e padrões limitados a um sistema patriarcal, que muito subjuga o sexo feminino.
Penso que as delegacias da mulher, assim como a lei Maria da Penha em suas essências possuem ótimas intenções, mas faltam profissionais treinados e qualificados para poderem assistir às vítimas em suas necessidades nos momentos que mais precisam.
Ana, quando chegou na delegacia, deu as caras com a porta fechada em uma das unidades de São Paulo, que funcionam somente de segunda a sexta-feira em horário comercial. Só a unidade da Sé funciona 24 horas. Como se a violência tivesse hora marcada para acontecer. Isso falando da assistência em São Paulo, onde existe a maior concentração de delegacias da mulher do país.
Ana também se deparou com a realidade que somente mulheres que sofreram violência doméstica podem ser atendidas pelas delegacias. Só que há muitos casos de assédio ou abuso moral e físico que acontecem em ambientes fora do âmbito familiar. E essas mulheres então ficam novamente à mercê do atendimento quase que sempre desrespeitoso das delegacias comuns.
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Sabe-se que vivemos em um momento do despertar da energia feminina na Terra. Entretanto, muitas de nós ainda vivem com a dor de terem que suportar relacionamentos abusivos, violentos, repressores e machistas, por se sentirem sós e desamparadas pela família e pela sociedade em geral. Por isso, é de extrema importância a existência, a ampliação e o fortalecimento de organizações, coletivos, grupos e associações não governamentais que compreendam o papel “ofertado” à mulher até hoje e qual a direção, na esfera da visão e da ação, que devemos seguir daqui para frente, ampliando as redes de apoio, proteção e validação dos direitos, papéis e saberes femininos no Brasil e no mundo.