Seguindo essa mesma tradição, perguntamos: O que é o suicídio? Que motivos levam uma pessoa a tirar a própria vida? O suicídio é um ato de covardia ou coragem? É preciso coragem para tirar a própria vida? Como a filosofia explica o suicídio?
Parece um paradoxo, mas falar de suicídio é falar de vida. Sim, de vida real, vida concreta. Da minha vida e da sua vida. Da vida das pessoas que amamos, dos nossos familiares, amigos, conhecidos, dos que nos rodeiam.
Biologicamente falando, é natural nos organismos vivos o impulso pela vida, o desejo de viver. O suicídio é o avesso desse princípio. Logo, atestar a causa morte de alguém é sempre muito difícil. Ninguém aceita a realidade da morte. E quando se trata da morte por suicídio, a dor é ainda maior.
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) apontam que o suicídio representa 1,4% de todas as mortes no mundo, tendo se tornado em 2012 a 15ª maior causa de mortalidade na população mundial; e, entre os jovens de 15 a 29 anos, é segunda principal causa de morte.
Esses são números alarmantes. Estatísticas atestam a urgência de uma ampla discussão sobre o tema. Ou seja, é chegada a hora de falarmos abertamente sobre o suicídio em escolas, igrejas e nas próprias famílias.
Campanhas como “Setembro Amarelo” ajudam na prevenção ao suicídio. No entanto, mais do que falar dos motivos que levam uma pessoa a atentar contra a própria vida, deve-se falar, em sentido estrito, da beleza da existência, da liberdade, da autonomia.
A sociedade contemporânea é sabidamente caracterizada pela “era liquida das incertezas”, para citar o sociólogo polonês Zigmunt Bauman (1925-2017). Tal metafísica está na base de uma nova expressão cultural: crise de sentido. O que eu estou fazendo no mundo? Qual o sentido da minha vida? Vale a pena viver num mundo tão violento e trágico?
Saltam aos olhos as crises que o homem contemporâneo vive. São crises de todos os tipos. Crises econômicas, ambientais, morais. Crises de valores, crises de afetos, crises de ralações sinceras, crises existenciais…, formando um todo complexo e de difícil compreensão. O mosaico se fecha com o aparecimento de novas patologias, sejam elas físicas ou psicológicas.
Paradoxalmente, causas “absolutas” provocam desconfianças no homem. Ou seja, o relativismo está na moda e “o homem contemporâneo pode ser aquilo que ele quiser”. Com efeito, para a filosofia, ser livre significa tomar consciência do não poder sobre as coisas que nos circundam.
Ou seja, definir o homem, segundo a tradição clássica, como animal racional, significa não capitar a autêntica dimensão existencial do homem.
Considerando, porém, sob o aspecto positivo, ou seja, na sua identidade social, o homem não encontra a sua mais profunda essência vivendo sozinho. Ou seja, o ser humano sempre precisou e sempre precisará do outro para sobreviver e ser feliz.
Se somos seres racionais, inteligentes, afetivos e amorosos, onde encontramos “coragem” para cometer um ato tão insano e solitário de tirar a própria vida? Não é a razão que nos distingue dos outros animais?
Que outra experiência temos nós, seres humanos, para avaliar se a vida é boa ou ruim se ainda não temos consciência do que não conhecemos? Somente percorrendo até o fim o caminho da vida, cumprindo o ciclo natural, é que teremos alguma coisa razoável para dizer, assim como o poeta,
“A vida é uma merda, mas vale a pena ser vivida”.
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