Saúde Integral

Como ajudar um filho tímido?

Escrito por Eu Sem Fronteiras

A timidez é vista por muitos como um charme, porém, este “charme” pode ser um tormento para quem vive com ela. As principais características são:

  • Dificuldade em estar perto de outras pessoas
  • Medo de críticas
  • Não conseguir falar sobre seus sentimentos
  • Ansiedade, suor frio, fala atrapalhada antes de apresentações escolares e entrevistas de emprego
  • Dificuldade em olhar para quem está perto
O que é timidez?

Antes de tudo, é preciso esclarecer que timidez não é o mesmo que introversão. A timidez é uma dificuldade de expressão vinda do medo da reação alheia. A introversão, conceito desenvolvido pelo psicólogo e psiquiatra suíço Carl Gustav Jung é a qualidade de afastar-se um pouco do mundo exterior para conectar-se ao seu mundo interior. Uma pessoa introvertida e até mesmo um extrovertido podem ter momentos de timidez.  Veja as características da introversão:

  • Gostar de ficar sozinho
  • Não expor ideias sem pensar
  • Interagir após analisar o grupo
  • Falar somente o indispensável

A palavra timidez tem duas origens, a primeira vem do verbo latino timidus, que significa medo, a segunda é a palavra grega thumos que origina a palavra tino, glândula perto do coração importante para o sistema imunológico.

Origens

Críticas constantes, repressão, humilhações e rejeição dos pais e colegas de escola são algumas explicações para a timidez.

É hereditário?

O comportamento não passa dos pais para os filhos, mas pai e mãe com essa característica podem sim influenciar a criança, pois, não conseguirão ensinar algo que está fora do alcance. A timidez dos pais é uma influência ambiental.

Mitos e verdades

Há quem ache lindo uma pessoa tímida. Os tímidos preferem ficar sozinhos? Será que tudo isso é verdade? Confira nossa sessão de mitos e verdades para tirar suas dúvidas.

Mitos

Timidez é doença? Não, como já dissemos, ela é provocada por críticas, repressão e rejeição, ou então influência do ambiente em que a pessoa vive.

Ser tímido é um charme? Um dos maiores mitos sobre a timidez. Na conquista, confiança e comunicação são elementos muito apreciados. Existem pessoas que se encantam, mas são poucas.

O tímido prefere ficar sozinho? Na verdade, um tímido evita interagir porque não tem autoestima e acredita que todo mundo vai criticá-lo.

Verdades

A timidez começa na infância? Em alguns casos sim, pais tímidos ou repressores, ou então, ser muito magro, gordinho ou gago podem ser o gatilho desse comportamento.

Deficiência torna alguém tímido? Pode ser, mas, além da deficiência física, mental, visual ou auditiva, uma cicatriz no rosto pode levar a pessoa a evitar fazer amizades, não querer namorar e se isolar.

Precisa fazer terapia para se livrar? Depende da pessoa, alguns conseguem mudar sua percepção sobre si e reverter o quadro, entretanto, a timidez crônica (ou fobia social) precisa de tratamento psicológico. 

Teste

O Shyness Research Institute, centro de pesquisa fundado em 1994 que investiga a timidez, fobia social e transtornos de ansiedade, desenvolveu esse teste para medir a timidez. Cada alternativa tem um ponto, alternativa A: 1 ponto, B: 2 pontos e C:3 pontos. Você deverá somar os pontos para identificar o perfil. Responda as perguntas sinceramente e confira o resultado:

1 – Com que frequência você experimenta momentos de timidez:

a) Uma vez por mês
b) Quase todos os dias
c) Constantemente, várias vezes ao dia

2 – Comparado com seus conhecidos, você é:

a) Menos tímido que eles
b)Tão tímido quanto eles
c) Mais tímido que eles

3 – “Minhas mãos suam e o coração bate acelerado quando fico tímido.” Esta descrição:

a) Não se parece comigo
b) Às vezes, me sinto assim
c) Tenho esses sintomas sempre

4 – “A timidez me faz pensar que as pessoas reagem negativamente ao que penso e falo”. Esta descrição:

a) Não se parece comigo
b) Às vezes, me sinto assim
c) Tenho esses sintomas sempre


5 – “Sinto dificuldade de me apresentar socialmente ou começar uma conversa.” Esta descrição:


a) Não se parece comigo
b) Às vezes, me sinto assim
c) Tenho esses sintomas sempre

6 – “Fico tímido na frente de alguém a quem admiro ou que me atrai.” Esta descrição:

a) Não se parece comigo
b) Às vezes, me sinto assim
c) Tenho esses sintomas sempre


7 – “Fico tímido quando converso com pessoas em posição de autoridade – chefe, professor, especialistas no meu ramo.” Esta descrição:a) Não se parece comigo
b) Às vezes, me sinto assim
c) Tenho esses sintomas sempre


Resultado


7 a 11 pontos: você não tem problema nenhum com timidez.


12 a 16 pontos: você é um pouco tímido, comportamento que, frequentemente, atrapalha seu dia a dia. Tente mudar suas atitudes, enfrente o problema.

17 a 21 pontos: a timidez é um traço marcante, que lhe impede de aproveitar a vida em todos os sentidos. É melhor procurar ajuda.  
 Terapia para timidez

Psicoterapia Cognitiva Comportamental. Veja detalhes sobre essa terapia.

Dica de livro

Manual de Sobrevivência dos Tímidos é o primeiro livro do ilustrador, designer e quadrinista Bruno Maron. A obra tem sete capítulos que abordam o tema com muito bom humor. O prefácio da jornalista Alexandra Moraes, autora da tirinha e livro homônimo O Pintinho, faz uma analogia a aviação: “O terror dos tímidos, neste livro e na vida real, não difere tanto assim do pânico de uma aterrissagem forçada, de um pouso na água, da inflação de um colete salva-vidas na hora da desgraça.”

Fobia social

Muitas vezes, a timidez passa da conta. O psiquiatra Nei Nadvorny explica o que é fobia social, transtorno reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que atinge aproximadamente 5% da população mundial: O fóbico social vive em um mundo de fantasia, na medida em que acredita que há um holofote sobre sua cabeça em qualquer lugar frequentado por ele.” Usar banheiros públicos, comer na frente de outras pessoas e entrar em uma sala cheia são coisas impossíveis para quem sofre com a doença. Náuseas, tontura, tensão muscular, diarreia e batimento cardíaco acelerado são sintomas das crises.

Causas

Hereditariedade

Para o psiquiatra Antonio Egidio Nardi, a fobia social é uma doença hereditária.

Estrutura do cérebro

Pessoas cuja amídala cerebelosa é hiperativa são mais propensas a ter a fobia. A estrutura forma e regula comportamentos sociais e reações emocionais, como o medo.

Traumas

Bullying, rejeições, conflitos familiares e abuso sexual estão relacionados ao transtorno.

Diagnóstico

A confirmação vem quando os sintomas abaixo começaram há seis meses ou mais:

  • Sensação de que é constantemente observado e analisado
  • Medo de fazer algo ridículo, constrangedor ou humilhante
  • Ansiedade que vai além das situações do cotidiano
  • Evitar interações sociais ou vivê-las com medo e ansiedade ao extremo
  • Medo e ansiedade sem explicação

Tratamento

Psicoterapia Cognitiva Comportamental.

Timidez infantil
Mother and child are hugging and having fun outdoor in nature

Ela é problema quando a criança tem extrema dificuldade para se expressar, não quer sair de casa, se esconde quando tem visitas e demonstra sofrimento por não conseguir interagir. Criticar a timidez, fazer piadas e comparações agravam ainda mais a situação. Crianças excessivamente tímidas que não recebem apoio da família e tratamentos psicológicos serão adultos com problemas sérios, conforme explica a especialista em Psicopedagogia e em Educação Especial, Maria Irene Maluf: “Seja na profissão ou nos relacionamentos amorosos, a participação da pessoa muito tímida será inibida e, do ponto de vista psicológico, pode até se tornar uma neurose.”

Como ajudar seu filho?

  • Superproteger sufoca, portanto, deixe seu filho interagir com outras crianças
  • Respeite o jeito de ser dele, não critique, nem compare com ninguém
  • Não interrompa a criança, tampouco responda por ela. Agindo dessa forma, ela fica ainda mais insegura
  • Não crie situações constrangedoras. Nem pense em fazer uma festa de aniversário surpresa cheia de gente. Faça algo menor com pessoas mais próximas, convide mais gente apenas quando seu filho pedir
  • Nada de forçar a criança a fazer alguma coisa. Saiba quais são os interesses dela e convide seu filho para atividades que ele gosta. Nas palavras do psiquiatra e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais Antônio Benedito Lombardi: “Os interesses em comum sempre aproximam as pessoas, nos dão um motivo para chegar perto do outro.”

Dica de livro

Vencendo a Timidez, do autor Bernardo J. Carducci aborda a influência familiar e traz um guia para ajudar o tímido nas seguintes situações:

  • O primeiro dia em uma nova escola
  • O encontro com parentes em reuniões de família
  • Passar a noite na casa de amigos
  • Ser chamado em sala de aula
  • Práticas esportivas, aulas de música…
Mutismo seletivo

Pouca gente conhece esse problema. Os primeiros relatos são do século IX, mas não existem muitas pesquisas sobre o assunto. Sabe-se que atinge crianças a partir dos 3 anos, que as meninas são mais atingidas e que a cada 1000 crianças, de 3 a 8 são afetadas. O transtorno pode ter origem genética ou surgir após algum trauma (início da vida escolar e violência).

Crianças muito tímidas podem ter mutismo seletivo. Elas têm dificuldades para expressar seus sentimentos e, nas poucas vezes que sorriem, é para demonstrar ansiedade. A comunicação torna-se mais difícil em alguns lugares e situações. Crianças afetadas pelo mutismo tendem a ser comunicar com olhares ou sinais.

O DSM-IV – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders), classifica o mutismo seletivo da seguinte maneira:

A. Não falar em situações sociais específicas (onde há expectativa para que fale, ex: escola), apesar de falar em outras situações.

B. Interfere no desempenho escolar, ocupacional ou na comunicação social.

C. Duração mínima de 1 mês (não limitado ao 1º mês de escola).

D. O fato de não falar não é devido à falta de conhecimento ou de não se sentir à vontade com a língua falada na situação social (ex: criança que mora em um país e se muda para outro com cultura totalmente diferente).

E. Não é devido a um Transtorno de Comunicação (ex: gagueira) e não ocorre durante uma psicose.

O termo mutismo seletivo não é bem visto, porque, na visão de especialistas, passa a impressão de que a criança decide por conta própria não falar. Na literatura médica, o mutismo seletivo é tratado como “problemas de comunicação” ou “estados de ansiedade”.

Esse trecho do livro Os gatos nunca mentem sobre o amor, escrito por Jayne Dillon explica o transtorno de maneira bem objetiva, confira:

“Mutismo seletivo é um transtorno de ansiedade infantil. As crianças afetadas por ele falam fluentemente em algumas situações, mas permanecem caladas em outras. Sabe-se que a condição manifesta-se precocemente e pode ser transitória – mas em casos raros, pode persistir durante toda a vida escolar da criança. Ainda que se comuniquem de maneira não verbal, essas crianças não falam com seus professores e podem até permanecer caladas com seus colegas. (…) Com frequência, a criança não tem qualquer outro problema identificável e conversa livremente em casa e com amigos próximos. Ela também pode ter progressos adequados à idade na escola em áreas que não exigem a fala.”

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A psicóloga Elisa Neiva, que mantém a página Mutismo Seletivo – quebrando o silêncio no Facebook explica que o psicólogo precisa ter vasto conhecimento sobre o assunto para fazer o diagnóstico correto. Elisa ressalta ainda a importância de conversar com os pais e professores da criança. O mutismo pode durar a vida toda e ainda não há catalogado níveis de mutismo seletivo. Veja as características desse problema:

  • Birra
  • Tristeza
  • Perfeccionismo
  • Dificuldade para manter contato visual
  • Queda do rendimento escolar

Tratamento

A opção mais indicada é a união de psicoterapia com Terapia Assistida por Animais (TAA). O animal é um polo condutor de comunicação, ajudando a criança a expressar seus sentimentos. Caso a família tenha animal de estimação, Elisa Neiva incorpora o pet, do contrário, incentiva à adoção.

Também podem ser adotadas medidas para estimular a fala, incluindo de igual forma esses três vetores, começando em baixa intensidade e aumentando ao longo da atividade:

Pessoa implicada no ato comunicativo

– Criança e professor
– Criança, professor e um colega
– Pequenos grupos de dois ou três com o professor
– Grupo/turma

Longitude da emissão requerida

– Emitir sons com o corpo
– Emitir sons articulados
– Responder com monossílabos (sim, não, outros)
– Responder com uma palavra
– Responder com frases curtas

Intensidade da emissão verbal

– Vocalização sem som
– Vocalização com som apenas audível
– Vocalização com som audível mais baixo
– Volume ajustado à situação

As atividades podem ser:

  • Jogos com produção de sons com as mãos e os pés
  • Jogos com encadeamento e gradação dos sons
  • Jogos com associação de sons e movimentos
  • Brincadeiras onde a criança precise falar no ouvido do colega

Seja timidez ou mutismo seletivo, não saber e ter vergonha de expressar os sentimentos e não querer sair de casa são sintomas que não podem ser ignorados. Não jogue seu filho em situações embaraçosas. Tenha paciência com ele e não hesite em procurar ajuda psicológica.

Gostou das nossas dicas para ajudar crianças tímidas? Conte para gente o que achou e como está usando com seu filho.


Texto escrito por Sumaia de Santana da Equipe Eu Sem Fronteiras. 

Sobre o autor

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