Como era gostoso brincar na rua. Me lembro como se fosse ontem. Taco, pega-pega, polícia e ladrão, esconde-esconde, pular elástico, queimada e muitas outras brincadeiras simples, que nos faziam voltar para casa tarde da noite, a contragosto de nossos pais. Mas isso é algo que quase não vemos nos dias de hoje.
Quantas crianças já não devem ter escutado que é perigoso brincar na rua, principalmente as que moram nas grandes metrópoles? E então, o que elas fazem para se divertir? Simples, acabam ficando limitadas a um mundo de tecnologia ou ao espaço do condomínio onde moram. A realidade atual também acaba deixando as crianças longe das ruas, é risco de sequestro, assalto, de atropelamento, etc.
Os pais de hoje em dia têm muito medo de que coisas ruins aconteçam com seus filhos na rua. Nos playgrounds, as crianças podem brincar à vontade, mas é claro, com a supervisão de um adulto que esteja por perto. E as escolas também não ficam de fora de toda essa vigilância. Há algumas que disponibilizam em tempo real imagens do seu filho.
Mas, segundo um estudo feito pela Universidade da Carolina do Norte, toda essa intensa fiscalização e preocupação com os filhos impede que eles desenvolvam a mente da maneira adequada, ou seja, essas crianças não se desenvolvem de modo saudável. Este tipo de comportamento dos pais recebe o nome de “helicópteros”, o que significa dizer que eles sempre pairam sobre seus filhos.
Toda essa mudança da área urbana acaba proporcionando consequências tanto no quesito emocional quanto no quesito físico dessas crianças, por exemplo, causando aumento de peso, sedentarismo e grande dificuldade para enfrentar situações consideradas de risco.
As crianças que não arriscam um pouco, que não experimentam sensações novas, mais tarde podem sofrer com isso.
Em muitos casos, a capacidade motora delas não se desenvolve de modo adequado, bem como o poder de negociação, o equilíbrio e a agilidade para lidar com problemas da vida adulta e com desafios.
Brincadeiras ao ar livre são capazes de ampliar os limites e as percepções das sensações, dos movimentos, das emoções e do espaço circundante e o ser. Jogos lúdicos ajudam a estimular o desenvolvimento cerebral, ou seja, a capacidade cognitiva.
Embora não possamos deixar de lado toda a importância dos desenhos animados e dos jogos eletrônicos, é essencial que as crianças se juntem para usarem toda a imaginação e se divertirem com brincadeiras simples e tradicionais de rua.
Essa interação é importante, porque permite que crianças de outras faixas etárias e classes sociais interajam socialmente, incrementando, assim, o senso de sociabilidade e de responsabilidade. A invenção de brincadeiras também favorece o desenvolvimento, além de melhorar a criatividade.
É somente através de vivências e experiências novas que o nosso cérebro aprende como se controlar em situações de risco.
Por exemplo, é essencial que a criança leve tombos para aprender a controlar o seu corpo e, assim, conseguir evitar um tombo no futuro. Pode parecer muito perigoso e arriscado subir em uma árvore, no entanto, essa atividade ensina muito sobre equilíbrio, coordenação motora, tomada de decisão e controle emocional. Brincar de roda estimula o senso de comunidade, o sentimento de pertencer a uma equipe, um grupo.
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Ao brincar, as crianças aprendem importantes lições para a vida, por exemplo, a perder (a derrota sempre vai acontecer), a perceber que existe a necessidade de se trabalhar em conjunto para resolver problemas mais complexos, ou executar alguma tarefa, etc.
Por isso, mesmo com tantos perigos na rua, os psicólogos acreditam que o real perigo é impedir que as crianças se arrisquem.
- Texto escrito por Flávia Faria da Equipe Eu Sem Fronteiras.