Como decidir/agir melhor em nossas vidas?
Por que nos sentimos culpados, frustrados e infelizes?
Esses sentimentos são sinais de desarmonia interna e podem estar relacionados com algumas decisões/ações que tomamos frente às situações que surgem em nossas vidas e que estão em desacordo com os nossos padrões morais.
E como tudo isso se processa?
Mediante a um estímulo externo que nos impulsiona a agir, teoricamente temos possibilidades de ação das quais, com o nosso livre arbítrio, decidimos por uma dessas possibilidades. A tomada de decisão para a ação tem como referência padrões morais (conscientes ou inconscientes) que aprendemos/adquirimos/acreditamos durante nossa infância com os nossos pais ou cuidadores. Tomada a decisão/ação, sofremos ou não com a consequência dessa ação.
Seguem alguns exemplos de padrões morais (entre outros):
• Honestidade;
• Honradez;
• Imparcialidade (justiça);
• Ética;
• Humildade;
• Empatia;
• Desapego (material, afetivo e tempo), etc.
Vamos tomar como exemplo uma situação extrema, mas corriqueira em nossa sociedade atualmente.
Cenário: Agente público que possui adequados padrões morais (listados acima) aplicados à atividade profissional e que recebe uma proposta para dar vantagem a um empresário em troca de um ganho ilícito.
Baseado neste cenário, observa-se as seguintes possibilidades:
A. O agente público não tem desejo de aceitar a proposta, pois está fora de seus padrões morais.
• Decisão: Agente público recusa a proposta (ação de acordo com o padrão moral).
• Status: Não há conflito psíquico. Estruturas emocionais em harmonia, pois não há violação dos Padrões Morais de Honestidade, Honra, Justiça e Ética.
• Consequência: Não há sofrimento.
B. O agente público deseja aceitar a proposta mesmo estando fora de seus padrões morais. Observa-se, então, as seguintes Hipóteses Atitudinais (modelo teórico):
• Hipótese Atitudinal 1:
Decisão: Agente público aceita a proposta (ação em desacordo com o padrão moral).
Status: Há conflito psíquico. Estruturas emocionais em desarmonia, pois há clara violação dos Padrões Morais de Honestidade, Honra, Justiça e Ética.
Consequência: Há sofrimento. Claro sentimento de CULPA por violar padrões morais!
• Hipótese Atitudinal 2:
Decisão: Agente público aceita a proposta (ação em desacordo com o padrão moral), porém baseado em sua inteligência e conhecimento, justifica para si ou para outros a aceitação da proposta da seguinte forma: “Eu mereço esse ganho financeiro, pois trabalho muito e não sou adequadamente remunerado! Além disso, se eu não aceitar serei tolo pois todos o fazem e o farei pela minha família…”
Status: Há conflito psíquico. Estruturas emocionais intactas em um primeiro momento, pois não há uma clara e consciente percepção da violação dos Padrões Morais de Honestidade, Honra, Justiça e Ética. A censura moral consciente do agente público é bloqueada pela justificativa criada, mas inconscientemente ele sabe que qualquer justificativa não se sustenta frente aos padrões morais que possui.
Consequência: Há sofrimento. Agente público não sente abertamente a culpa, mas também não se sente feliz. Ele experimenta distonias emocionais e não identifica as causas. Sentimento de MAL-ESTAR EMOCIONAL, podendo se desdobrar em estresse, insônia, taquicardia, etc.
Adicionalmente, se for ser pego pela censura externa (sociedade), ele pode ser demitido/exonerado da função, processado ou preso por esse ato, experimentando as respectivas consequências emocionais.
• Hipótese Atitudinal 3:
Decisão: Agente público não aceita a proposta, pois lhe falta coragem, apesar de muito desejar.
Status: Há conflito psíquico. Apesar de não haver violação dos Padrões Morais de Honestidade, Honra, Justiça e Ética, as estruturas emocionais estão em desarmonia, pois ele não admite que tem o desejo de aceitar e reprime/recalca esse desejo e foge para não lidar com a situação.
Consequência: Há sofrimento, pois o agente público pode se lembrar constantemente desse desejo e o experimentará com mais intensidade a cada vez que for confrontado a uma situação semelhante. Sentimento de FRUSTRAÇÃO.
• Hipótese Atitudinal 4:
Decisão: Agente público não aceita a proposta, apesar de muito sedutora. Ele admite que tem desejo de aceitar a proposta e sabe que essa proposta viola os seus Padrões Morais de Honestidade, Honra, Justiça e Ética, mas enfrenta esse desejo, refletindo e avaliando as respectivas consequências legais, sociais e pessoais que pode sofrer. Ele usa a razão, negocia com si mesmo e conclui que não lhe convém aceitar a proposta.
Status: Não há conflito psíquico. O conflito psíquico foi solucionado com a reflexão e avaliação da situação pela razão.
Consequência: Não há sofrimento. As estruturas emocionais estão em harmonia, pois não há violação dos Padrões Morais de Honestidade, Honra e Justiça.
Se substituirmos esse agente público fictício por nós mesmos, o cenário proposto neste artigo pelas situações do dia a dia que nos estimulam as decisões/ações e aplicarmos o modelo teórico apresentado, começamos a perceber a capacidade que temos em criar sofrimento para nós mesmos por decisões/ações que agridem os nossos padrões morais…
Normalmente, frente a uma situação sedutora que nos estimula a uma decisão/ação, mas não se adéqua aos nossos padrões morais, tendemos a decidir/agir de forma impulsiva, considerando somente os ganhos imediatos sem pensar nas consequências (hipóteses atitudinais 1 e 2) ou fugindo da situação (hipótese atitudinal 3). Em uma decisão, olhar racionalmente os dois lados da moeda é trabalhoso, mas pode poupar muito sofrimento futuro.
Novo exemplo: Quem é que nunca, na frente de uma vitrine, teve vontade de comprar algo acima de suas possibilidades?
• Se efetivou a compra, sentiu-se culpado por gastar mais do que podia?
• Se justificou a compra com “Eu mereço!”, sentiu-se desconfortável após a compra?
• Se não efetivou a compra, sentiu uma ponta de frustração de “perda de oportunidade”?
• E se ponderou antes de comprar, analisando os prós e contras dessa compra e ter decidido desistir ou comprar algo mais simples que se adéqua ao bolso, apaziguando a vontade de comprar, mas não estourando o orçamento? Foi melhor?
Com o exemplo da compra acima, quero ressaltar que a melhor saída que temos frente a um estímulo/impulso que nos demanda uma decisão/ação que não se adéqua aos nossos padrões, é refletir racionalmente sobre os prós e contras antes de decidir/agir (hipótese atitudinal 4). Às vezes, existe a possibilidade de negociação com si mesmo e uma solução intermediária satisfatória pode surgir. Se mesmo assim decidirmos agir contra os nossos padrões, pelo menos conheceremos o autor e saberemos as respectivas consequências.
Alerto que não tenho a intenção de aqui esgotar este assunto, o qual é extenso e complexo, mas auxiliar no entendimento de quanto somos responsáveis pelas consequências que sofremos por nossas decisões/ações e indicar um caminho para decisões/ações mais sábias para sermos mais felizes e harmonizados.
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Por outro lado, quanto às dificuldades de lidar com as culpas, distonias e frustrações já instaladas, lembro aos leitores que a ajuda de um profissional da área sempre é bem-vinda, para auxiliar na superação dessas dificuldades.