No intuito de conquistarem suas vitimas, logo de inicio mostram-se totalmente compatíveis somando-se a todos os sonhos de suas futuras presas, até fica parecendo que a pessoa ideal chegou. Se a vítima não tem autoconfiança, ele mostra que ela é o máximo, se ela sugere que é insegura, ele faz questão de demonstrar as capacidades dela. Todas as aspirações, gostos e desejos de ambos são magicamente compatíveis, ao mesmo tempo em que uma aura de encantamento e sedução gradativamente vai delineando os contornos de uma cerca invisível.
Com a cerca pronta e com a vítima enredada, o lado B do abusador manifesta mais ainda a sua natureza perversa, esta é a hora onde o prazer associado à transgressão começa a aparecer.
Na busca da quebra de tudo o que pode significar valor para as vítimas, o narcisista perverso inicia suas provocações em meio a imposições indevidas, avançando rapidamente para toda sorte de insultos. Se para os parceiros os laços e a tradição familiar são algo de importante, é por este caminho que irão exercer as suas mais terríveis manipulações desestabilizando tais sentidos. O mesmo pode ocorrer em relação a religião, amigos, trabalho, vestimentas, histórico de vida, etc.
Quanto aos argumentos depreciativos, estes vão correndo num crescente de desrespeito, desde “você não raciocina“, “nunca faz nada direito”, “sempre consegue me irritar”, “esquece de tudo”, “só abre a boca para falar bobagem”, “cala a boca”, “cadela”, até que num breve espaço de tempo, um mínimo de bom senso no trato, deixa completamente de existir. Lembrando de que todo este contexto costuma acontecer nos locais onde ninguém vê.
As vítimas pouco a pouco vão se dando conta de que há algo de muito errado ocorrendo em suas vidas. Logo de início culpam a si mesmas, pensando que devem estar fazendo algo diferente do começo da relação para causar tanta fúria no parceiro. Com um pouco mais de tempo começam a se dar conta das injustiças e das ameaças de abandono, mas na maioria das vezes, já abaladas e emocionalmente contaminadas, duvidam das próprias percepções. O abusador perverso quebra a linha lógica da realidade fazendo o famoso Gaslighting, manipulação máxima que tem o poder de drasticamente inverter verdades, culpabilizando suas vítimas por qualquer infortúnio inventado por eles ou mesmo por possíveis traições que serão justificáveis ou negadas mesmo que em meio as mais descaradas evidências contrárias.
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O perverso transforma as suas vítimas em brinquedos que geram prazer na medida em que ele vai destruindo as suas identidades. Podem caminhar para a violência física, mas ainda assim às convencerão de que nada foi tão grave e que elas mereciam. Em público, embora muitas vezes a falência das forças das vítimas fica evidente, o casal costuma se apresentar de modo impecável. Quando os abusos ocorrem dos pais para com os filhos, o padrão é o mesmo.
Leva-se anos para se recuperar de abusos desta ordem. As sequelas vêm desde a negação dos fatos, transformando os ocorridos em sintomas físicos a esquecimentos, depressões e outros.
Por ser muito inteligente, o narcisista perverso sabe rapidamente com quem está lidando. A maioria de suas vítimas, em alguma medida, possuem questões relacionadas à sentimentos de rejeição, perfeccionismo e autoestima, mediante isso, facilmente sentem-se culpadas quando não conseguem atingir tanto as suas próprias exigências, como as de outros. Portanto facilmente tornam-se presas e dependentes do olhar de aprovação de um outro.
Com isso, eles vão criando desarmonias em todas as áreas da vida de suas presas. Como verdadeiros vampiros de energia, alimentam-se das emoções desconfortantes de suas vítimas, desestabilizando-as sutilmente, criando climas e intrigas nos ambientes familiares, entre amigos e afins, sempre alavancando emoções como medo, rejeição, mágoas, ansiedade, raiva e profunda tristeza. Fazem o que for necessário para convencerem as suas vítimas de que eles são superiores, mostrando que tudo o que é menos e ruim, está com os outros.
Afinal, o que acontece com o emocional profundo do narcisista perverso para que ele aja deste modo?
O narcisista perverso possui uma má imagem de si mesmo que lhe é insuportável, inadmissível e impensável. Se ele fosse entrar em contato com este aspecto terrível, na certa enlouqueceria, portanto todo este conteúdo que não suporta em si mesmo é projetado para fora, ou seja, num outro. Como o seu psiquismo não deu conta de ter um amadurecimento saudável, para ele o mundo ainda está fragmentado e não unificado. Isso significa que ele ficou perdido no tempo em que não diferenciava a sua própria mão, como extensão do seu corpo, não sabia o que era um pedaço de si mesmo, o que era um objeto e o que era uma pessoa fora dele. Não soube se as imagens das pessoas eram pedaços dele, ou se eram outras individualidades. Não chegou nesse tipo de amadurecimento psicológico. Nessa patologia, embora a pessoa cresça, em algum nível ainda, o eu total não fica claramente dividido entre si mesmo e o outro e não existe a menor consciência desse fato. Ainda em sua precária evolução emocional, como um mecanismo de sobrevivência, inconscientemente escolhe ficar com os bons aspectos, exilando para fora e nos outros, tudo o que possa lhe parecer mau e que ele necessita destruir por medo de que estes pedaços possam ameaçá-lo de fazer parte do si mesmo, aniquilando-o. O lema é este: destruir para não ser destruído. O paradoxo, porém, reside no fato de que de modo totalmente inconsciente, ele próprio, ao projetar o mal no outro, fica sendo o grande vilão e o verdadeiro mau da história e sem a menor condição de reconhecer este fato.
A fúria em nome da sobrevivência do psiquismo é tão forte, que um crescente de ataques e invalidações podem levar as vítimas a extremos de desespero e por fim, ao suicídio.
As raízes deste mal estão na educação não adequada, no desamparo e nos traumas de violência muitas vezes sofridos na infância. Este tipo de adoecimento, porém, não se fecha com este diagnóstico, muitos pesquisadores da atualidade entendem que as causas também podem ser genéticas.
De qualquer modo, para as possíveis vítimas fica o alerta para reconhecerem se de fato estão enredadas nesta terrível trama, a sinalização para pedirem ajuda quando necessário e para que definitivamente possam se libertar de relacionamentos abusivos. Afinal, ninguém merece.