O que eu mais queria era entender o limiar entre mim e mim mesma. Olho para frente e vejo tênue luz que separa os outros de mim. Os sentimentos misturados fazem-me confundir o que é meu e o que é do outro.
Isso me faz questionar: será que algo é especificamente de um só? Será mesmo que temos uma identidade? Ou será que somos parte de um todo que se machuca e se mantém com os machucados alheios? Como se nos alimentássemos da dor do outro e, assim, seguíssemos em frente?
Quando olho no espelho e vejo um par de olhos cansados, não me vejo ali. Mas sou eu.
Quando olho no espelho e vejo velhice se aproximando, sinto que me foi roubada uma vida que nunca tive. Fantasiosa vida essa.
Hoje estou assim: questionando o tudo do nada. Aprendi a sentir mais meu corpo. Para isso, tive que me esforçar para não temer o outro. Neste caso, o outro me ajudou, cuidou de minhas feridas, delicadamente amparou-me nos momentos de dúvida, nojo e insegurança. Mas o que faço por ele?
Além do sentimento de angústia que se instalou em seu íntimo, não sei mais o que fiz. Antes de se envolver com minhas dores, ele se sentia mais feliz. Cheguei e roubei a felicidade que restava, já que era alguém que trazia uma história de dores maiores do que eu possa imaginar ou suportar. Mas mesmo assim, suas dores juntaram-se às minhas e conseguimos curar um pouco do que eu trazia…
Mas o que eu queria mesmo, além de não fazê-lo mais sofrer, era entender até onde eu sou eu e o outro é o outro. Ou ainda: até onde o que o outro é influencia no que eu sou. Faz tempo. Faz tempo suficiente para se ter uma resposta. A música toca atrás de mim. A tela se interpõe à minha frente. E eu? Não me vejo, não me sinto, não me refaço.
O que eu mais queria era entender o limiar entre mim e mim mesma. Olho pra frente e vejo tênue esperança de enxergar a verdade. Fixo o olhar, mas as vistas já são cansadas. Tenho, então, uma vaga ideia da realidade. Conformo-me com ela? Procuro lentes de aumento que me ajudem a observar melhor? Desisto de ver a verdade e tiro os sapatos para molhar meus pés no rio?
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O rio. Sim. Este sabe a resposta… caminha. Apenas caminha. Não procura entender o limiar entre ele e o trajeto… Vou caminhar, então.
Como o rio… como o rio… como o rio…