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Componentes biológicos da direita e da esquerda política, pelo Filósofo Nilo Deyson

Placas indicando "esquerda" e "direita". Ambos os caminhos dão para um abismo
Lightspring / Shutterstock.com

COMPONENTES BIOLÓGICOS DAS IDEOLOGIAS POLÍTICAS & UM TEMPO PARA PENSAR

Vamos hoje refletir sobre como os conceitos de direita-esquerda podem estar, de alguma forma, contidos em nossa genética?

Vamos logo para a hipótese: os impulsos ligados à sobrevivência mais básicos dos animais (inclusive dos seres humanos), deixando de lado, por enquanto, a procriação e os cuidados com os filhotes, são – comer e conseguir não ser comido (por predadores). Todas as espécies aperfeiçoaram (por seleção natural) mecanismos tais como dentes e garras, velocidade, camuflagem, odores, pescoço comprido para comer frutos em árvores, trombas, cavar buracos para se esconder etc. Tudo isso para conseguir alimento ou para escapar de seus principais predadores.

O ser humano, a partir de determinado volume de cérebro e, em especial, após ter desenvolvido os primeiros traços de linguagem simbólica, passou a ter o que pode se chamar de evolução cultural — transmitida de uma geração a outra — para se adaptar melhor aos ambientes, diminuindo a necessidade de mutação genética. Por isto é somente hipotética a influência genética de ideologias, mas a reputamos possível.

E mesmo que se prove que não é genético, por mim, mantém-se o interesse e o assombro de que as principais ideologias até hoje existentes, possam ter vindo de uma remota ancestralidade e estejam ligadas à sobrevivência biológica!

Homem primitivo andando com um machado nas costas
1971yes / Getty Images / Canva Pro / Eu Sem Fronteiras

Sabemos que — após tornar-se um ANIMAL CULTURAL — as estruturas de poder e dominação, traçadas pela evolução da nossa espécie, são muito pontuadas por vários fatores, além dos impulsos multicitados. Sistemas de liderança e poder podem recair sobre os mais fortes, os mais sábios, os anciãos, mas estão de maneira umbilical ligadas à ideia de religião, que foi evoluindo no mesmo ventre cultural da estrutura de poder, como gêmeos bivitelinos (podem tornar-se diversos em algum momento posterior). Ou seja, nossa hipótese (bem como a maioria das explicações científicas) não é causa exclusiva, que cairia numa versão determinista do comportamento humano. Então, em síntese, chegamos à hipótese final, a partir dos dois impulsos básicos de sobrevivência:

  • o apetite (em dialética óbvia com a fome);
  • o medo de predadores.

Entendamos PREDADORES num sentido mais humano do que animal. A partir de um momento de nossa pré-história, após dominarmos o fogo, após domesticarmos os cachorros que serviam de alarme noturno contra predadores, a partir da pedra polida, que nos permitiu matar a maioria de outros animais… Descobrimos que nossos maiores inimigos eram OUTROS HUMANOS — a tribo vizinha, povos nômades e até outras espécies “primas” (sapiens x neandertal, por exemplo), que chegavam, queriam nossos territórios, queriam nos matar, queriam estuprar nossas mulheres, queriam escravizar nossos filhos!

Assim, era de se esperar que prosperassem — e aqui não há avaliação de conceitos de certo ou errado — arquétipos emocionais como xenofobia, racismo, violência contra o vizinho ou contra o diferente. Isso pode ter sido totalmente cultural? Não desdenho da possibilidade, mas penso que um comportamento estabelecido por uma mutação genética teria sido eficaz com mais rapidez (as tribos menos amigáveis ou que criaram mais proteções, nas relações com a vizinhança, procriaram e sobreviveram mais). E pronto! Estaria fundada, lá nas comunidades mais primitivas da África e da Europa (talvez também da Ásia), a ideologia da direita.

Simplificando

O horror às diferenças, o desejo da hegemonia racial e cultural, a violência com vizinhos, principalmente se os vizinhos são diferentes de nós, o medo de tomarem minha propriedade e minha família, formaram um dos impulsos norteadores da vida humana individual primitiva.

E qual era mesmo o outro impulso básico?

O apetite e sua relação com a FOME. Sabemos que muitos povos, muitas aldeias, passaram muita fome na pré-história (por eventos climáticos extremos, ou porque o próprio homem provocou desequilíbrios ecológicos fulminantes à sua sobrevivência ou por concorrência com outras espécies).

Mas é muito mais provável que humanos mais frágeis fisicamente ou aqueles que estavam à periferia das estruturas de poder tenham morrido mais de fome, porque a comida era escassa e os mais poderosos eram privilegiados com os alimentos disponíveis. Após a formação do conceito de propriedade (que igualmente está ligado à religião e à estrutura política de poder), a fome, ou o medo dela, ainda mais, tornou-se forma de dominação e, em contraponto (de novo a dialética), berçário de ideias revolucionárias e de inversão de valores de poder.

A hipótese é muito simplória, eu reconheço. Mas como tenho estado imerso em Ockham, cada vez mais penso que as explicações mais simples, com menos camadas, são as mais prováveis. A direita nasceu do ódio aos vizinhos e estrangeiros. A esquerda nasceu do horror à fome e às injustiças da desigualdade de direitos e deveres.

Placa indicando o lado esquerdo e o lado direito
pownibe / Getty Images / Canva Pro / Eu Sem Fronteiras

E é provável (por coerência com outros eventos ocorridos neste planeta, em relação aos seres vivos) que ambas tenham componentes genéticos. Até porque é certo que os impulsos são genéticos. Então, como ambos os fenótipos — ter muito medo de morrer ou perder um filho de fome OU ter muito medo da tribo vizinha ou de um bando nômade vir tomar minha casa e minha família e talvez me matar — estão ligados ao impulso do medo, é muito possível que pertençam a uma classe próxima de genes, com alguma prevalência para um ou outro tipo, em cada indivíduo ou em cada região geneticamente pouco heterogênea.

Podemos pensar então que há menos “livre-arbítrio” do que pensamos para que um humano oriente-se para a esquerda ou para a direita. Claro que a diferença de classes sociais pesa muito no conflito.

Se alguém nasce muito pobre, o gene que contém o medo de sentir fome estará permanentemente ativado, desde a infância, bem mais que em outro humano, nascido em família em estado de conforto alimentar constante (o medo da fome seria aqui um gene quase inútil).

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Por outro lado, o gene do medo de perder seu território, a família e sofrer violência física será um gene ativo desde os não totalmente miseráveis (que devem ter medo de “estrangeiros” tomarem seu subemprego ou dos mais miseráveis roubar-lhes o pouco que têm) até, por intrínseca essência de classe, aos mais favorecidos. Em análise às duas hipóteses apresentadas, há probabilidade óbvia de termos mais genes ativos para a direita do que para a esquerda, o que explica muita coisa. É como se a classe dominante e abastada, garantindo um mínimo de alimentação aos miseráveis, não esticando muito a corda da desigualdade, propicie à direita ganhar eleições “democráticas”. Enquanto aos miseráveis, se a corda da sobrevivência for rompida, é mais simples uma reação violenta do que “aguardar as próximas eleições” (no ínterim, talvez morram de fome).

Nilo Deyson Monteiro Pessanha

Sobre o autor

Nilo Deyson Monteiro Pessanha

Sou filósofo, escritor, poeta, colunista e palestrante.
Meus trabalhos culturais estão publicados em diversas plataformas. Tenho obras e livros publicados.

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Sou uma incógnita que deve ser lida com atenção e talvez somente outras gerações decifrem meu espírito artístico. Sou muitos em mim e todos se assentam à mesa comigo. Posso não ser uma janela aberta para o mundo, mas certamente sou um pequeno telescópio sobre o oceano do social.

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