Tenho uma amiga que é espírita. Ela trabalha em um centro kardecista, todas as quintas-feiras. Dá passe, participa de reuniões aos fins de semana, faz doações em cestas básicas e em dinheiro. Vive a religião dela ao máximo.
Outro dia ela reclamava de solidão. Que só conhecia homens que não queriam ficar com ela, mesmo que iniciassem um relacionamento sério logo na sequência disso. Conversei um pouco com ela, tentando entender os seus padrões de pensamento. Possivelmente ela tem algum padrão que atrai somente homens complicados ou ela mesma dá uma ideia, na realidade, de que não quer nada sério.
No meio das minhas perguntas ela falou meio ríspida: pode parar com isso, não quero saber. Ela falou que já tinha feito uma oração a um anjo para que ele trouxesse para ela o homem certo. Que a mãe dela tinha feito uma novena e que ela sentia, mediunicamente, que conquistaria o amor em breve. Não deixou nem eu terminar de falar. Isso foi há cinco anos. E ela continua solteira.
Sou a primeira fã de espiritualidade e sei que os seres de luz – ou até mesmo de sombra – são capazes de nos ajudar de verdade. Creio nisso. Mas também sei que eles são seres diferentes da gente. Que eles vivem em dimensões onde alguns dos nossos problemas mundanos, como arrumar um namorado, nem tem importância real. E acredito que é impossível que a espiritualidade aja se não tiver um terreno fértil.
Ou seja, precisamos fazer a nossa parte. Entender que temos padrões psicológicos que precisam ser mudados, por exemplo. Que carregamos comportamentos que precisam de uma estrutura diferente, que somos seres imperfeitos e que não sabemos de tudo. Somos eternos aprendizes da vida e estamos aqui para nós melhoramos.
Vejo muito dessa arrogância religiosa por aí. Acham que as entidades, Deus, Nossa Senhora, exus ou qualquer outra coisa vai resolver os nossos problemas. Pois é, não vão. Eles são seres que apoiam e até mesmo facilitam alguns processos, isso com certeza. Mas não tem como fazerem algo se você continuar a repetir as coisas, a ser egoísta, narcisista ou teimosa. Sinto muito.
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Em uma passagem do livro “Comer, rezar, amar”, Elizabeth Gilmore conta uma piada italiana. Um homem pedia, todos os dias ao seu santo de preferência: Por favor, me deixe ganhar na loteria. Depois de alguns anos, o santo apareceu para ele e disse: Sim, eu vou permitir, mas pelo menos compre um bilhete. É isso. Compre um bilhete e depois entregue aos seres para terminarem o serviço. É uma troca, e os seres não são nossos escravos. Precisamos deles, mas eles também precisam de nós.
Já comprou o seu bilhete hoje?