Alguns símbolos se tornam tão icônicos, que podemos encontrá-los fora de seus países de origem, em estampas de roupas, esculturas, broches, tatuagens e tantos outros artefatos – como exemplos, temos a Torre Eiffel, a Torre de Pisa e o Cristo Redentor.
Um símbolo que é mundialmente conhecido, de grande impacto e que vai além das fronteiras de seu país é “La Catrina”, ou simplesmente “Catrina”.
A caveira feminina com um vestido elegante e um chapéu extravagante é uma figura muito presente na festividade mexicana do Dia dos Mortos. Está por toda a parte e há concursos no país para escolher a fantasia mais bonita ou a que melhor representa La Catrina.
Entenda o que significa essa figura tradicional da cultura mexicana e descubra que esse esqueleto representa muito mais do que a morte!
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A origem de La Catrina
La Catrina surgiu a partir da Deusa da Morte asteca, Mictecacihuatl, que guardava os ossos dos mortos para que, se fosse necessário, pudessem ser usados. Ela também presidia as festividades do Dia dos Mortos. Era casada com o Senhor do Reino dos Mortos, conhecido como Mictlantecuhtli. Eles moravam na nona e última camada de Mictlán, o inferno para os astecas, um local vazio onde nada existia.
Antes de se chamar “La Catrina”, ela se chamava “La Calavera Garbancera”, ou “A Caveira Garbanceira”. Foi criada pelo cartunista e ilustrador José Guadalupe Posada (1852-1913), em 1910.
O cartunista desenhou um crânio usando um extravagante chapéu, representando o fato de a morte ser universal e democrática, pois atinge a todos indiscriminadamente e sem privilégios de classe social ou qualquer outro atributo. Ele usou o símbolo para fazer um protesto político contra as desigualdades e injustiças sociais geradas pelas ditaduras de Benito Juárez, Sebastián Lerdo de Tejada e Porfirio Díaz, buscando nas raízes mexicanas um jeito irônico de expressar o seu modo de pensar e de alertar o público.
Posada usou o termo “garbancera” fazendo referência às pessoas que assimilaram os costumes de outras nações – por exemplo, as nações europeias –, em detrimento de manter as próprias origens indígenas mexicanas. Ele pretendia destacar a importância do nacionalismo. O chapéu ornamentado que desenhou na gravura era alusivo a um modelo francês. Ele popularizou a figura de La Catrina.
Foi Diego Rivera (1886-1957), pintor muralista e marido de Frida Kahlo, quem deu o nome de “La Catrina” à Calavera Garbancera, quando a retratou no mural “Sonho de uma tarde de domingo no Parque Alameda”, de 1948, resgatando as raízes da cultura mexicana e representando mais de 400 anos de história do México por meio de diversos ícones. La Catrina foi feita de corpo inteiro, com vestido muito enfeitado e elegante e acessórios próprios da época. A partir daí permaneceu o nome La Catrina.
La Catrina também fazia parte das Calaveras Literárias, tradicionais poesias da cultura mexicana, comuns nas celebrações do Dia dos Mortos, que ridicularizavam e satirizavam a vida e a morte no cotidiano.
Atualmente vemos a La Catrina em estampas de tecidos, roupas e louças, como maquiagem no Dia dos Mortos e em outras datas pelo mundo, em ilustrações, tatuagens e tantos outros locais. Ela se tornou um símbolo da cultura popular moderna, sendo muito vista em crânios, e não somente em esqueleto de corpo inteiro. Bem-desenhada, em preto e branco ou muito colorida, ela pode até trazer a ideia da morte e ter a função de uma “memento mori” (expressão latina para “Lembre-se de que você é mortal”), com muita vivacidade.
La Catrina no Dia dos Mortos
O Dia dos Mortos no México é uma celebração com festividades por todo o país. Há o Festival Cultural de Caveiras, no qual as pessoas festejam a morte como uma parte inevitável da vida e utilizam maquiagem de caveiras, representando a figura de La Catrina, enaltecendo a cultura e valorizando as raízes. O Festival é uma atração de Aguascalientes, a 523 Km da Cidade do México.
Uma caveira desenhada diretamente no rosto é a maquiagem mais comum de La Catrina. No Dia dos Mortos no México, ela estampa os rostos, inclusive das crianças. Para os mexicanos, essa prática é uma oportunidade para a união familiar. Os parentes se juntam para se maquiar, orar, lembrar e honrar os antepassados falecidos, sempre considerando a indiscutível verdade de que todos terão os corpos transformados em ossos após a morte, o que, para eles, não representa o fim, mas outra forma de existência, num lugar de abundância e alegria. Por isso a data é de festa e La Catrina é a expressão e o resgate da ancestralidade.
La Catrina nas artes
Guillermo Flores e Maurício Groenewold são dois mexicanos da arte contemporânea que incluem em suas obras a figura de La Catrina.
Para Guillermo, La Catrina lembra como a vida é efêmera e, por isso, temos que usufruí-la ao máximo. Ele a inclui nas suas obras por representar uma crítica social. As principais referências da obra dele são a botânica e o surrealismo. Então, suas Catrinas têm esses elementos.
Para Groenewold, a figura de La Catrina na cultura mexicana é um símbolo forte que não traz tristeza, mas cores e alegria. Ele tem como referência artistas mais tradicionais, como Posada, Toledo, Durero, Escher, Leopoldo Mendez e outros. As Catrinas dele são mais “realistas” e nacionalistas.
O que La Catrina simboliza?
Muito além de representar a Deusa da Morte, ela serviu como uma crítica social contra governos ditatoriais, mostrando, no cotidiano, a miséria, as barbaridades políticas e a hipocrisia da sociedade mexicana.
La Catrina é parte do movimento intelectual nacionalista de valorização da cultura indígena do México. Ela resgata as raízes mexicanas, sendo parte do indigenismo. Essa figura icônica, de uma beleza singular e que desperta a estética criativa é muito carismática.
O significado da “Deusa da Morte”, da “Caveira Garbanceira” ou de “La Catrina” é profundo. Ele nos mostra que, por mais diferente que seja a vida de cada um, a morte nos irmana, nos faz iguais, indistintamente. Esse é um conceito universal, do inconsciente coletivo. Talvez por isso o símbolo transcenda a cultura mexican
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La Catrina é um instrumento de autoconhecimento, porque nos permite refletir sobre o valor que damos à nossa vida e como desfrutamos as oportunidades que surgem. Ela nos faz pensar se, além dos ossos, deixaremos uma história memorável (para os astecas, os crânios guardavam memórias), em que medida as nossas raízes nos influenciam e o quanto as conhecemos. Faça uma imersão nos seus conceitos e aproveite a bela experiência de viver!