Estou falando isso porque percebo as pessoas ávidas por respostas e por mecanismos de fast cura. Não tem esse produto fast nas prateleiras da Constelação Familiar. A urgência não combina com o jeitão dessa abordagem. Eu não sei por que a maioria das pessoas chegou a essa conclusão: “pra resolver rápido, faz Constelação Familiar”. Não é assim. A sessão é mesmo breve. Uma só sessão já traz à tona muita coisa interessante. Mas não é porque o diagnóstico é brevíssimo que ela será um agente de dissolução de questões a jato.
Como assim? Mês um, mês dois, mês três, um ano, dois anos, 10 anos. Quem compreende essa lógica do tempo sobre o tempo voa com o método das Constelações Familiares. Voa porque quer vivê-la com tudo o que ela oferta (incluindo a “lentidão”). Mas quem só quer usá-la como quem usa um shampoo, um carro, uma TV ou um alívio não entendeu muito. Vou voltar a falar do abismo, do escuro e do mistério.
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Quem já viveu mais de 40 anos aí sabe que é nos momentos de trevas que mais crescemos, certo? O sofrimento é fértil. Bert Hellinger fala muito da Noite Escura do Espírito de São João da Cruz. Essa Noite Escura é punk. Purificação total. É quando nós chegamos ao esgotamento e dizemos “eu abro mão”. Pra continuar adiante, algumas vezes é preciso abrir mão de algumas coisas, de algumas pessoas e de alguns hábitos.
Nesses momentos nossa alma não acredita mais em nada. Assemelha-se ao que dizem sobre o fundo do poço (lugar escuro também). É quando você baixa a guarda e sacode a bandeira branca, dizendo: “me rendo”. Eita! Hora boa pra se aprender algo. A razão está esgotada e a alma pode atuar (enfim). Ah, lembrei-me aqui de outro algo que é também escuro: a palavra “aluno”. É linda, essa palavra. Já pensou nela? “A-luno” quer dizer ausência de luz; desisto, bandeira branca, me ensina seus métodos, pois os meus estão um tanto insuficientes.
Percebe, então, como o escuro pode ser bom? Bert Hellinger não observou só as claridades, mas também as escuridões da alma. Como elas são importantes! Como as desprezamos, porém! Estamos melhorando nisso, mas ainda falta um bocado de chão nessa trajetória de “amar também os nossos mistérios”. Claro que não estou sugerindo que você vire o Batman, morcegando por aí. Parece-me que só anda bem na claridade quem respeitou a sombra (tema caro a C.G Jung, psicanalista).
A Constelação Familiar não entrega o resultado em si; ela entrega movimento. A Constelação Familiar não entrega luz apenas; ela traz mistério e breu também. Se você não suporta uma charada, então poderá mesmo rejeitar esse trabalho. Se você compreende a amplitude e a beleza das incógnitas, então poderá se entender bem com a Constelação Familiar. O vazio é e ponto. E a gente o deixa sendo. Esse é o convite!