Cada fase da vida tem suas particularidades e passamos por cada uma delas de maneira inevitável. Acontece com a infância, com a transição para a adolescência e, depois, para a vida adulta. Mas uma fase que preocupa muito as pessoas, tanto homens quanto mulheres, é a dita meia-idade. Não existe uma idade exata, porque ela acontece na segunda metade da vida adulta, entre os 40 e os 60 anos. É uma fase em que a juventude já passou, então a pessoa toma consciência da finitude da vida, por causa da aproximação da velhice. É nessa etapa que pode surgir a tão temida crise da meia-idade, quando somos tomados por grandes questionamentos.
Materializando a angústia
O termo “crise da meia-idade” foi criado em 1965 pelo psicólogo canadense Elliott Jaques. Naquela época, como a expectativa de vida não ultrapassava os 70 anos, a chegada dos 35 anos denotava uma retração na qualidade de vida, o que causava reações extremas.
Segundo Jaques, vários fatores próprios da faixa etária podem desencadear a crise – por exemplo: morte de parentes, insatisfação com a vida profissional, a famosa síndrome do ninho vazio (aquela solidão que bate quando os filhos decidem sair de casa), menopausa ou andropausa, entre outros.
Os efeitos dessa pressão da idade podem envolver uma intensa vontade de fazer grandes transformações na vida (virada de carreira, divórcio ou término de relacionamentos) ou atitudes que fogem do âmbito da maturidade, como gastos exagerados para ostentar com bens de luxo desnecessário.
Alguns estudos dizem que não é só uma sensação, que a crise existe mesmo. Um estudo publicado em 2012 no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences, inclusive, indicou que a crise da meia-idade também acontecia com grandes primatas, como orangotangos e chimpanzés.
Esse estudo, liderado por Andrew Oswald, pesquisador e professor da Universidade de Warwick (Inglaterra), mostrou que os animais em cativeiro apresentam redução do bem-estar emocional quando chegam à meia-idade, assim como os humanos. Esse estudo sugere que essa frustração pode ser um traço evolutivo, não um efeito da vida moderna.
Em contrapartida, algumas pesquisas já derrubam o conceito, relegando-o ao status de mito. É o caso de um estudo feito pela Universidade de Alberta (Canadá) e publicado no periódico Developmental Psychology, em 2015, indicando que o que existe é um êxtase da meia-idade, em vez de “crise da meia-idade”. As pessoas demonstravam mais felicidade nessa faixa de idade do que quando eram mais jovens.
A pesquisa foi coordenada pela professora de psicologia Nancy Galambos. Foram criados dois grupos – estudantes do ensino médio acompanhados por 25 anos e universitários, acompanhados por mais de 14 anos, que deviam responder periodicamente à pergunta: “Qual o seu grau de felicidade com relação à sua vida?”. Esse grau caiu levemente entre os 32 e os 43 anos, mas ainda se mantinha mais alto do que na adolescência e na juventude. Quando estavam casados, saudáveis e empregados, esse grau era maior.
Como nos sentimos?
A forma como cada pessoa reage ao processo de chegada à meia-idade depende muito do seu estado emocional e de como ela cuida do físico e do psicológico. Existem até mesmo pessoas que nem sentem o peso dessa faixa etária.
Mas entre os que se abalam, daí entrando na dita crise, começam os questionamentos sobre as realizações (ou não) ao longo da vida, a autocrítica (principalmente sobre se chegou aonde queria chegar). A perda do vigor físico também começa a ficar mais evidente, e ainda mais preocupante, pois vivemos numa sociedade que cultua a beleza e a juventude. E isso também mexe com a ideia de utilidade, pois até mesmo quem adquiriu uma aparente estabilidade é considerado velho no mercado de trabalho a partir dos 40 anos.
É muito fácil não se sentir mais útil a partir de então. Sem falar no desempenho sexual, que já não é mais o mesmo. Isso pode fazer com que algumas pessoas tentem se reafirmar, ao passo em que outras se prostram. Alguns comportamentos até mesmo demonstram um retrocesso na maturidade, tanto que essa fase é apelidada de adolescência tardia.
Homens e mulheres
Do ponto de vista físico, as mulheres estão mais propensas a sofrer com os efeitos da crise da meia-idade. Isso acontece principalmente graças à menopausa. Com uma redução na produção de estrógeno – hormônio associado ao ciclo menstrual –, o resultado é o surgimento de sintomas físicos (como ressecamento de pele e mucosas, ganho de peso, arritmias cardíacas e suores noturnos) e psíquicos (oscilações de humor, ansiedade, depressão).
Já a andropausa (que é o declínio hormonal masculino) não é tão acentuada como a menopausa, já que seus efeitos ocorrem muito lentamente (os hormônios começam a baixar por volta dos 30 a 40 anos e vão diminuindo progressivamente até os 80 a 90 anos).
Mas esses são fenômenos físicos. A questão emocional nem sempre depende deles. Nesse sentido, não existe um consenso sobre se a crise da meia-idade apresenta diferenças entre homens e mulheres. Já houve a teoria de que nos homens ela atinge mais a sua relação com o sucesso no trabalho, ao passo em que com as mulheres esse abalo se relacionaria com o envelhecimento e a questão estética.
Mas é um conceito que cai por terra e é um tanto quanto discriminatório, visto que homens e mulheres – em especial nos dias atuais – têm os mesmos interesses e capacidades (dois bons exemplo são as buscas mais frequentes por tratamentos estéticos por parte dos homens e uma dedicação feminina muito maior à carreira profissional, levando-as adiar (ou mesmo cancelar) os planos de maternidade).
O que fazer, então?
Mito ou não, se você está nessa faixa, entre os 40 e 60 anos, e se sente um tanto quanto estranho ou desanimado, tente entender que crises nunca são eternas. Tudo passa e sempre há um jeito de atravessar as fases difíceis com mais leveza.
Mente sã num corpo são
Para amenizar os efeitos biológicos dessa transição etária, procure praticar atividades físicas. Caminhada, musculação, hidroginástica ou pilates são boas alternativas para manter o corpo forte, a elasticidade e o tônus muscular. Já a ioga é um exercício completo, pois ativa mente e corpo. Atividades menos completas, mas igualmente prazerosas, como dança de salão, também são boas opções, além de criarem um clima de socialização importantíssimo para gerar uma troca entre pares.
Uma boa alimentação também é fundamental não só para manter o peso e afastar doenças cardiovasculares, comuns nessa faixa etária e que reduzem muito a qualidade de vida, o que mexe também com o emocional.
Tarefas como artesanato e outras atividades cognitivas são essenciais para exercitar a mente e mantê-la ativa, o que também ajuda na prevenção a doenças neurodegenerativas.
No entanto é preciso também mudar de dentro pra fora. Algumas dicas podem ajudar você a passar por esse momento de forma leve e sem traumas. A vida é boa demais, então se surpreenda.
Aceite a finitude das coisas – inclusive da vida
Esse é o primeiro passo. O desapego é um conceito, inclusive, muito usado no budismo. Não temos controle sobre tudo, e muitas vezes na vida seremos controlados à nossa revelia.
Seja grato
Pode parecer um clichê, mas a gratidão transforma o nosso coração e o nosso olhar sobre as coisas. É uma forma de ser mais feliz e menos frustrado com as lições da vida.
Aposte no simples
A vida não é só ter. Às vezes conquistamos muitas coisas materiais, mas ainda assim nos sentimos incompletos. Além disso, muitas dessas conquistas nos renderam grandes sacrifícios, inclusive emocionais – como ausência para os filhos, descanso, noites de sono ou mesmo admirar coisas simples, como um pôr do sol ou o canto dos pássaros.
Sinta a energia das coisas que não têm preço. O sorriso do seu neto, o vento batendo no rosto, um almoço em família. Assim você dará valor à vida como um todo e se sentirá ainda mais grato por ter vivido tudo que foi permitido ao seu coração.
Pense mais em você
Não, não se trata de egoísmo, mas de intuição, de não ultrapassar o limite da dignidade, de evitar competições e comparações desnecessárias. Trata-se de não precisar provar nada a ninguém ou atender expectativas alheias.
Abrace o novo
Tudo na vida é novo. O dia seguinte é uma novidade, pois nunca o vivemos antes. Então não tema o que não conhece. Abrace o novo como um desafio agradável, mas sem a pressão de ter que superá-lo como uma obrigação, mas como um caminho divertido que será trilhado por você.
Tenha fé
Isso não significa somente ser religioso ou acreditar em Deus. Se você tem a sua religião, pratique-a com genuinidade e sentimento. Mas se você não é inclinado a seguir algum rito ou culto, apenas tenha fé dentro de si. Crie e expanda essa energia boa e procure passar aos outros. Tudo que damos de bom ao universo, ele nos retribui.
Cultive amizades
Faça novas amizades, resgate as do tempo do colégio, sorria para seu “vizinho” de fila no supermercado. É muito bom ter alguém, nem que seja pra falar besteiras ou desabafar, ou mesmo reclamar em vão… No final, sempre é divertido ver como nossos dramas se curam com boas conversas.
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Valorize suas conquistas
Dê valor a tudo o que você conquistou até aqui. Não foi fácil… Você lutou, deu tudo de si, mostrou competência, compartilhou sua experiência e o mundo de pelo menos uma pessoa foi impactado pelo seu trabalho.
Amor, muito amor
Não é da boca pra fora. O amor é um sentimento que, quanto mais cresce e se expande, melhor faz para a gente e para todos e tudo ao nosso redor. Essa capacidade de amar – e principalmente de estar aberto e receptivo ao amor – é uma das maiores forças que movem as engrenagens do universo. O amor é um alimento constante.
Seja qual for a sua questão com o avanço da idade, lembre-se de que todas as fases têm um início e um fim. E de que tudo o que vem depois pode, sim, ser ainda melhor do que aquilo que já foi.