Dilemas Éticos
No artigo “Visão para enxergar”, amarrei um ganchinho para darmos continuidade ao tema: audiodescrição.
Talvez você esteja pensando: mas como alguém que nasceu cego vê as cores e as formas se não forem tocadas? Se ele não tem uma memória visual, qual é a referência? Por isso, se seus clientes são os cegos, nada mais natural do que escutar, perguntar e aprender, e não só estudar. Esse papo fica para um outro artigo, pois tem muita história bacana para contar.
Mais que histórias, um compêndio!
Minha sócia Marcia e eu já pesquisamos um tanto assim sobre: como descrever cores para os cegos?
Pesquisa em campo, claro. Ou escuro, enfim.
A fagulha que incendiou nossa página no Facebook foi provocada por uma descrição, onde nomeamos algo com a cor ocre.
ÓCREATURA! Foi pior que xingar a mãe de todos!
O povo das redes sociais adora uma polêmica, mas sempre tem alguém de bom humor que prefere o “punto e basta”.
Enquanto alguns diziam não saber o que era ocre e outros tentavam explicar, um rapaz cego de nascença, finalizou a conversa assim:
“Gente, eu nunca vi as cores, nem sei se enxergo tudo branco ou tudo preto, como vou saber o que é claro ou escuro? ”
Cri cri cri…vácuo total.
Bem podíamos ter dado uma pausa para o café, mas engolimos a saliva à seco e partimos para mais trocas de informações.
Alguns cegos enxergam claro ou escuro e até luzes coloridas. E sabem.
Mas no caso desse rapaz, ele não sabe.
Todos temos memórias sensoriais. Cores estão diretamente ligadas as sensações do tato, olfato, sabor, sempre há cor, e a minha nunca será igual a sua.
O que você diz ser azul pode ser um pouco mais verde para mim.
Associar cores a sensações é um bom método: moreno cor de caramelo; olhos azuis claros cor de céu de verão; vermelho sangue, azul e laranja avermelhado fogo, e, assim, cada um imagina a cor que sua percepção alcançar.
E voltando ao ocre, dizem os estudiosos que é o pigmento orgânico mais antigo, usado para deixar registros nas cavernas.
Ocre das folhas das árvores canadenses no outono, esmaecidas entre tons de amarelo dourado e marrom amarelado.
Ocre do acolhimento caloroso, quando o sol despenca no fim da tarde atrás das montanhas amarronzadas.
Descrevendo assim, os olhos da imaginação pincelam a vida em multicores.
Podem crer! É ver pra crer.
Um grande abraço acessível!
Vejam que interessante esse relato do jornalista da BBC Damon Rose: https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/03/150302_cego_escuridao_lab
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