Estamos todos reclusos. Alguns mais, outros menos. Muitos não têm escolha: é o trabalho da linha de frente nos hospitais, clínicas, serviço de limpeza pública, delegacias, supermercados. Os que podem, ficam em casa.
Em casa ou nas ruas, somos todos reféns. O medo virou uma quase certeza. Rememoremos os nossos ancestrais, os homens das cavernas. Naquela época longínqua, o medo era matéria essencial para a sobrevivência. O tempo passou, as coisas e o homem evoluíram, mas aquele medo que nos ajudava a sobreviver tem seu lugar reservado em nossa memória, em nossos ossos, em nossa pele. Mesmo nos dias de hoje parece que sempre estamos nos preparando para algum ataque (foram anos de prática). Além dos dinossauros, lidamos com guerras, caça às bruxas, terrorismo, vírus, bactérias, fobias.
Pensando nos dias de hoje, uma ameaça real suscitou o medo em toda face do planeta. Não, não é mais um “blockbuster” sobre o fim do mundo. É a vida real. É só sair na janela para ver as pessoas nas ruas usando máscaras, luvas, se afastando uma das outras. É esse nosso cenário atual.
Voltamos à origem. No medo, na incerteza da sobrevivência, na impotência. Então devemos deixar o medo tomar conta de tudo e ficarmos de braços cruzados esperando algo fatídico e desconhecido tomar tudo o que temos e conhecemos? Claro que não. O voltar à origem é mais do que esse misto de sentimentos ruins perante o inimigo. É poder se redescobrir, encontrar a coragem e a força que todos temos dentro de nós. A capacidade de se reinventar, de persistir, de encorajar, de fortalecer e de amar. Quantos de nós estávamos tão atarefados que já nem conhecíamos mais a nossa própria casa? Não havia mais diálogo com aqueles que dividimos o mesmo teto, os mesmos sonhos. Não havia mais olhos nos olhos, a gratidão verdadeira, nem respeito à natureza. O consumir nos consumia.
Sim, voltamos à origem. A origem de todos os sentimentos, dos afetos e dos laços: o ser humano. Vamos vencer mais uma vez. E o medo? O medo será mais uma vez a válvula propulsora da evolução.
Como Oswaldo Montenegro bem disse em sua canção “Metade”:
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“Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio;
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca;
Porque metade de mim é o que eu grito,
Mas a outra metade é silêncio…”