Você sabia que 56% da população do Brasil se considera negra ou parda? Os números, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), reforçam o fato de que o país é, historicamente, a região com a maior população negra fora do continente africano.
Esses dados, porém, contrastados com outras pesquisas que indicam números baixíssimos de negros em posições de poder ou estabilidade financeira e níveis altíssimos em relação a pobreza e violência, revela um fato extremamente perturbador: em pleno século XXI, essa população ainda enfrenta muita discriminação e dificuldades em meio a tanto preconceito.
Não à toa, medidas sociais que buscam reverter essa situação representam grande importância na sociedade — e devem sempre ser bem difundidas. O Dia da Consciência Negra, celebrado anualmente em 20 de novembro, é um excelente exemplo não só de conscientização, mas também de luta, tradição, reflexão e, sobretudo, resistência e esperança por um mundo mais igualitário.
A data, que representa a morte de Zumbi dos Palmares, considerado símbolo da resistência negra e um dos maiores líderes quilombolas brasileiros, foi proposta, inicialmente, em 1971. Mas a luta por seu reconhecimento levou muito tempo: foi só em 2003 que a data foi reconhecida pelo calendário escolar e, em 2011, a então presidente Dilma Rousseff a oficializou por meio de uma lei federal.
Direto ao ponto
O conceito de racismo estrutural
Datas como essa são muito importantes, afinal atingem a população em um nível nacional e a convida a fazer uma reflexão sobre esse problema tão sério e grave em nossa sociedade.
Entretanto não é somente em dias como esse que devemos olhar para essa causa com atenção, e sim o tempo todo. Isso porque o racismo estrutural está presente em diferentes formas e níveis, afetando a população negra diariamente.
Causado principalmente pela falta de estrutura e políticas públicas de inclusão, esse é um problema considerado herança da escravidão. Afinal de contas, ações que integrassem os negros na sociedade após esse período não existiram, o que contribuiu muito para a sua discriminação, algo que ocorre até os dias de hoje.
Tudo isso resultou no racismo estrutural, que diz respeito a uma discriminação tão naturalizada e enraizada na sociedade que muitas vezes é sutil e pouco percebida pelas pessoas.
Esse é um problema muito sério, que está por trás de uma série de outras situações que colocam os negros em desvantagem em uma comunidade que valoriza o branco e sua cultura, em detrimento daquilo que é considerado “fora da norma”.
O racismo estrutural no Brasil
Quer entender exatamente como o racismo estrutural afeta a vida dos negros, principalmente no Brasil? Dê uma olhada nesses dados:
- Um estudo realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em 2019, mostrou que mulheres negras são as maiores vítimas de violência doméstica e feminicídio no Brasil;
- O IGBE indicou que crianças e adolescentes negros são os que mais sofrem com o trabalho infantil;
- O mesmo estudo ainda ressalta que 70% dos cargos de chefia, atualmente, são ocupados por pessoas brancas;
- De acordo com SNAS de 2008, a maior parte das pessoas em situação de rua são negras.
Será que tudo isso é coincidência ou mostra que a falta de oportunidades no Brasil para as pessoas negras as coloca em situação de vulnerabilidade?
O racismo estrutural está presente em pequenas ações do cotidiano. Quando você aperta o passo porque um negro está se aproximando ou até mesmo quando você supõe que um negro trabalha em estabelecimento, em vez de todos os brancos que estão presentes ali. E tudo isso acaba sendo transmitido, consciente e inconscientemente, para a legislação brasileira.
É claro, hoje existem políticas, como as cotas, que buscam auxiliar essa população. Porém elas ainda são escassas e recebidas com grande descaso e até mesmo relutância pela população.
Para que isso mude, é importante que a educação conscientize as pessoas — mostrando, mais uma vez, a importância de ações como o Dia da Consciência Negra.
A importância da representatividade negra
Já parou para pensar em como é a vida de pessoas que crescem sofrendo diferentes tipos de preconceitos? Diante de tantas dificuldades, sentir-se representado e pertencente a uma comunidade pode dar muita força a elas, ajudando-as em diferentes áreas de sua jornada pessoal.
Nesse sentido, a representatividade negra se torna extremamente importante. Seja em livros, filmes, séries, novelas, programas de televisão ou em qualquer produção, sentir-se representado, principalmente em papéis que fogem dos estereótipos, é um grande fortalecedor da autoestima dessas pessoas.
Mais do que isso: essas ações são extremamente empoderadoras. E não há nada melhor do que se sentir empoderado, principalmente quando a sociedade te diz o contrário.
Por isso agora você vai conhecer algumas personalidades que abraçaram esse papel com muito amor e resistência!
- Maria Júlia Coutinho Portes, ou simplesmente Maju: conhecida pelo seu trabalho como apresentadora de diversos programas na Rede Globo, a jornalista, infelizmente, sofreu uma série de ataques racistas na internet. Porém, com muita força e apoio, deu continuidade ao seu excelente trabalho, tornando-se um exemplo para o Brasil.
- Lázaro Ramos: ator, apresentador, cinegrafista, escritor… São muitos os talentos do artista que, hoje, é considerado um dos mais influentes do mundo. de acordo com a ONU. E é verdade, viu? Sua fama e seu talento não são só reconhecidos no Brasil: ele já foi até mesmo indicado ao Emmy por seu papel como Foguinho na produção “Cobras & Lagartos”. Que orgulho!
- Barack Obama: não dá para falar de personalidades negras influentes sem falar sobre o primeiro candidato e presidente negro dos Estados Unidos. Sua eleição fez história não só no país, mas no mundo inteiro, afinal estamos falando de uma das nações mais influentes atualmente.
Combatendo o racismo estrutural
O ideal é que o combate ao racismo estrutural seja incentivado pelo governo, por meio de ações muito bem pensadas, que envolvem a conscientização das pessoas, o incentivo e a integração dos negros nos mais diferentes papéis na sociedade. Além disso, é preciso haver punição severa para quem comete racismo.
Porém isso não quer dizer que você não possa contribuir com a causa por conta própria! Promover vagas — seja para trabalho ou cursos — afirmativas para pessoas negras, por exemplo, é uma excelente forma de abrir um leque maior de oportunidade para elas. Dar voz a elas e deixá-las compartilhar suas vivências e opiniões sem julgá-las também é muito importante.
É preciso lembrar que essa não é uma luta individual: essa é uma luta coletiva, que engloba todas as pessoas. Por isso não ser racista não é o suficiente. É preciso ser antirracista e engajar fortemente nessa causa para garantir o futuro e uma sociedade mais justa.
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Você faz parte desse movimento — e já deu o primeiro passo ao procurar saber mais sobre o Dia da Consciência Negra e outros aspectos da luta antirracista. Agora é preciso continuar nesse caminho e, mais do que isso, incentivar as pessoas ao seu redor a fazerem o mesmo!