“Há uma tendência na sociedade ocidental em se perguntar, em todas as áreas, o que se pode fazer pelos idosos, nem sempre se considerando o reverso da questão, ou seja, também considerar o que os idosos podem fazer pelos outros seres humanos e pela sociedade” — Ana Pandochi.
O mês de outubro começou com as comemorações do Dia do Idoso. Aposto que você não sabia dessa data, e esse é só o começo do problema: a invisibilidade dos idosos. A gente vive num mundo que produz conteúdo, roupas e programas para jovens e adultos, esquecendo os idosos e suas necessidades.
A grande verdade é que mesmo as pessoas na maturidade esquecem de suas necessidades. A maioria, apesar daquela inquietação no fundo da alma, acha que não há nada mais para viver depois de certa idade.
Para a Antroposofia, porém, a partir do nono setênio (ciclos de sete anos), ou seja, a partir dos 63 anos, há ainda muito a ser feito! É uma época de liberdade sem igual, em que a pessoa está livre do carma pessoal e pode se dedicar ao carma da humanidade.
Alguns vão ler isso e pensar que nessa fase querem mais é descansar, não ter mais uma tarefa. O problema com esse pensamento é que a falta de ocupação muitas vezes acaba deixando a pessoa muito ligada às limitações do corpo, e isso afeta demasiadamente a qualidade de vida.
A falta de propósito nessa época pode levar a problemas como alcoolismo e depressão. Portanto o legal seria a gente cumprir essa tarefa, mas agora do nosso jeito! Como?
Entendendo as limitações do corpo
Na maturidade, o corpo já não é fonte de energia, sendo mais uma distração da vida em relação aos sentimentos e à espiritualidade.
Cabe a nós ter um entendimento de cada sentido e de como eles nos afetam. O médico antroposófico Norbert Glas diz que dá para medir a idade de uma pessoa pelo enfraquecimento dos seus sentidos. Para a Antroposofia, eles são doze. O malfuncionamento de qualquer um deles afeta o corpo todo. Um deles é chamado sentido da vida, que é o que nos dá informações sobre o estado do corpo e a sensação de bem ou de mal-estar.
Uma das formas de preservarmos nosso sentido da vida é tendo uma ocupação. Se essa ocupação for voltada para o bem de outras pessoas, melhor ainda, porque ajuda a evitar que fiquemos presos aos nossos processos corporais.
Neste texto você pode aprender mais, de forma prática, sobre os efeitos do malfuncionamento de cada sentido na nossa vida e como preveni-lo. Por exemplo: uma pessoa com audição prejudicada tende a mal-interpretar o ambiente e as pessoas a seu redor. Isso faz com que ela comece a suspeitar de todo mundo, até o ponto em que começa a agir de forma grosseira.
Deixar que as limitações do corpo ditem como podemos viver uma fase tão plena de sabedoria é algo que podemos evitar.
Revisando a sua história
Para a Antroposofia, nesta época apenas motivações internas podem levar à ação. O estudo da sua biografia é de grande importância para acordar a vontade de mudar o futuro.
Você pode fazer isso de várias formas: com um profissional (aconselhador biográfico) ou mesmo sozinha:
- Fazendo uma linha do tempo, colocando os principais eventos e revisando como se sentiu diante de cada um deles;
- Escrevendo um conto de fadas que represente a sua história;
- Desenhando um árvore em que as partes são os encontros que você teve. O que aprendeu com cada um deles?
A vantagem de olhar para a sua biografia com a ajuda de um profissional é que você vai poder entender como um setênio tem impacto no que você está vivendo. Por exemplo, a idade de 56-63 espelha o setênio de 0-7. Como foi esse período pra você? Como foi a sua infância? Você se sentia acolhida dentro da sua casa, do seu corpo? Isso faz uma grande diferença em como você vê o mundo hoje e como pode contribuir.
Tendo consciência das suas qualidades
As forças dos sentidos, agora menos necessárias à manutenção do corpo, são metamorfoseadas em sabedoria e podem ser usadas de uma nova forma, novas habilidades, novo sentir, novo viver. Tudo isso pode ser usado para o seu bem viver, e para o do próximo.
O idealismo da juventude, por exemplo, consome as forças etéricas — o sentido da vida que mencionei acima. O idealismo maduro, ao contrário, confere força.
A fase a partir dos 63 é relacionada ao “inverno da vida”. É quando se nota mais a essência da árvore. Aqui, os impulsos interiores podem florescer e a árvore pode dar frutos, preparando as próximas gerações.
Ferramentas de autoconhecimento, como o MBTI®, podem ser de grande ajuda para ajudá-la a resgatar qualidades que você muitas vezes ignora, mas que podem ser de força imensa nesse momento.
Cuidando do ritmo na sua vida
Alguns autores dizem que o que você pode fazer de mais importante por si nessa época é cuidar do ritmo: diminuir, por um lado, e imprimir, por outro.
Para a Antroposofia, o ritmo é o que dá energia; está ligado ao corpo etérico (sopro da vida, chi, prana).
Quando as forças metabólico-sexuais diminuem, é importante que a gente também mude o ritmo: aquela soneca depois do almoço, respeitar-se mais, ouvir mais o corpo, saber dizer “não”.
Também é necessário observar que haja uma rotina e que o caos não esteja instaurado para que a pessoa se sinta energizada.
As caminhadas ajudam a vivificar, mas nesse caso é bom que sejam feitas com presença, observando as pessoas, para aumentar o sentimento de comunhão com outro ser humano. Nessa fase é perigoso que aconteça o isolamento, pois, além da solidão, pode conduzir a um certo endurecimento, que leva a ver o mundo de uma só forma.
Estimulando a ação
Um dos conceitos-chave na Antroposofia é o da trimembração do ser humano, que é a divisão em pensamento (cabeça), sentimento (tronco) e vontade (membros), essa última ligada à ação e ao querer.
Lembra que falei acima que a fase dos 56-63 espelha os 0-7? A gente diz que a pessoa na idade prateada está bem próxima da criança, e é por isso que é tão boa a relação entre a criança e seus avós.
Na criança, porém, o sentimento está pouco desenvolvido e a vontade funciona assim: o que ela quer, tenta ter (vontade) imediatamente. No idoso, esse querer está mais enfraquecido e há uma preocupação com o futuro, bem como um apego ao passado. É preciso estimular o querer.
É muito importante, na maturidade, estabelecer objetivos para si mesmo, para fortalecer a vontade. Ao rever a sua história, pergunte-se: que sonhos deixei para trás?
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Não se prenda agora aos “não dá” e “não posso”, porque estas são limitações impostas pela mente, mas ao mudarmos a nossa atenção para as possibilidades, veremos que para quase tudo há um jeito.
Quer começar a empreender mas não sabe como usar as redes sociais? Pode contratar alguém para ajudar ou fazer uma permuta. Não quer fazer sozinha? Entre para um grupo de apoio, e assim por diante.
A autora antroposófica Gudrun Bukhard diz que cada um de nós tem uma pergunta que rege a nossa biografia. Você pode já saber qual é a sua ou pode tentar descobri-la. Mais ainda, pode colocar uma pergunta como meta de vida para o que você quer alcançar nesses anos de graça.
Que eles sejam leves e frutíferos!