Visibilidade: qualidade do que é visível, do que não está oculto. Muitos podem se perguntar o porquê da “visibilidade lésbica”. A resposta é complexa, mas tentemos compreender sua essência a fim de conhecer a importância do Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, que é comemorado no dia 29 de agosto.
Em primeiro lugar, essa visibilidade vem da necessidade de lutar contra o apagamento histórico que mulheres lésbicas vivenciam. Não se trata apenas de reconhecer que lésbicas existem, mas principalmente de dignificar sua existência, garantindo seus direitos.
Foi a partir dessa necessidade de afirmar a visibilidade da mulher lésbica que surgiu a data. E 29 de agosto não foi escolhido ao acaso. Nesse dia, em 1996, ocorreu o primeiro SENALE (Seminário Nacional de Lésbicas) e, desde então, nestes 26 anos de existência, esse movimento vem lutando por políticas públicas que contemplem a mulher lésbica brasileira e pelo combate ao lesbocídio.
No mesmo mês, também temos o Dia Nacional do Orgulho Lésbico, comemorado no dia 19, destacando agosto como o mês da visibilidade lésbica. Esse dia, marcado desde 1983, é um lembrete da primeira grande manifestação de mulheres lésbicas contra a opressão no país, ocorrida no Ferro’s Bar, quando um grupo foi proibido de distribuir exemplares do ChanacomChana, um boletim ativista da comunidade, e se posicionou contra a atitude do bar.
Mas vamos nos concentrar no Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. A fim de entender sua tamanha importância, faz-se necessário esclarecer alguns pontos essenciais, então vamos a eles.
O que é ser lésbica?
Para a grande maioria das pessoas talvez baste dizer que lésbica é uma mulher que se relaciona exclusivamente com outras mulheres, no sentido amoroso ou sexual. Mas, para a própria comunidade, essa pequena palavra carrega muito mais significado.
O que muito se discute atualmente é o ser lésbica como um ato político. Existe um apagamento histórico da mulher lésbica pelo fato de não se encaixar no papel que a sociedade patriarcal espera de uma mulher.
Assim, afirmar-se como lésbica vai além especificar sua orientação sexual. É um modo de se colocar visível no mundo, ao passo que a sociedade constantemente tenta apagar a existência da mulher enquanto lésbica. E o que seria esse apagamento? Perpassa pelas políticas públicas que não as contemplam como deveriam; ou mesmo quando fulano afirma que se trata apenas de “uma fase” ou que a mulher lésbica só “não encontrou o homem certo”.
O apagamento pode ser sutil ou escancarado, mas nunca deixa de ser doloroso para quem o vive. Assim, afirmar-se como lésbica é, também, um ato político, uma forma de visibilizar essa comunidade na luta contra o apagamento social.
Aprofunde-se no significado e nas pautas de cada “letra” da sigla LGBTQIA+
Bandeira lésbica: um símbolo controverso
A verdade é que não se sabe ao certo como surgiu a famosa bandeira lésbica, mas há um indicativo de que a própria invisibilidade no meio LGBTQIA+ despertou a necessidade de representar essas mulheres.
Foi criada, então, uma bandeira cujas cores priorizam tons de rosa, e é aí que entra uma controvérsia: algumas lésbicas não se sentem representadas por essa bandeira. Para elas, as cores escolhidas retratam o estereótipo da mulher feminina no qual elas não se encaixam ou que simplesmente não reconhecem como representativo da comunidade.
Esse é um posicionamento real que não pode ser negado, assim como nenhuma outra perspectiva de mulheres lésbicas, pois há vivências diferentes e todas têm seu valor.
Invisibilidade x representatividade
Até pouco tempo atrás, lésbicas não podiam mais do que apenas se imaginar casadas. Isso porque a união estável entre pessoas do mesmo sexo só passou a ser reconhecida em 2011. Mesmo assim, ainda não há uma lei para isso. Mas hoje vemos casais de mulheres realizando o sonho de se casar, algo que tem se mostrado também na ficção.
Trata-se de uma forma de representatividade. Ver o casamento lésbico representado na mídia proporciona uma identificação que antes não era possível e mostra como algumas evoluções têm ocorrido, apesar de ainda haver muito o que mudar.
Falando nas mídias, famosas lésbicas assumidas também são símbolos das vitórias conquistadas pela comunidade até aqui. Elas inspiram aquelas que ainda são obrigadas a viver escondidas por não serem aceitas em seu meio, o que permite o vislumbre de um futuro melhor para essas mulheres.
A maternidade lésbica é outra questão que vem saindo da invisibilidade. Hoje, vemos mais casais de mulheres gerando filhos ou os adotando. E essas representações vistas em notícias ou no próprio círculo de mulheres lésbicas inspiram as demais a explorarem suas possibilidades e lutarem por seus direitos.
Lesbofobia e lesbocídio
Já é socialmente entendido que mulheres podem ser vítimas de homicídio simplesmente por serem mulheres. Mas e as lésbicas? A orientação sexual de uma mulher pode levá-la à morte devido à lesbofobia, que nada mais é do que o preconceito e o ódio direcionados à mulher lésbica.
O difícil é ter números exatos e atualizados sobre o lesbocídio no Brasil, já que o apagamento da existência lésbica ocorre até mesmo nesse sentido. Os últimos dados dos quais se tem ciência datam de 2018, quando foi publicado o Dossiê do Lesbocídio, que cobriu o período entre 2014 e 2017. Segundo dados do dossiê, nesse período ocorreram 126 lesbocídios no país, sendo 83% das vítimas assassinadas por homens que, geralmente, são desconhecidos.
A legislação ainda não protege a mulher lésbica contra a violência motivada pela lesbofobia, e essa tem sido uma pauta amplamente defendida pelas ativistas. O que temos hoje, no Brasil, é apenas uma cobertura contra a violência doméstica, por meio da Lei Maria da Penha, que inclui relações homoafetivas em seu escopo.
Como posso contribuir?
Qualquer pessoa pode contribuir para o aumento da visibilidade de mulheres lésbicas em todo o país. Existem atitudes muito simples que já ajudam na amplificação da voz dessas mulheres, e elas vão além do básico respeito à sua orientação sexual e à sua existência.
Empregar mulheres lésbicas é uma das maneiras mais úteis de ajudar o movimento. Diante da lesbofobia, muitas têm dificuldade em conseguir um bom emprego registrado em determinadas áreas que ainda são regidas por estereótipos do que é ser mulher. Aquelas que não performam feminilidade são as que mais encontram dificuldade nesse sentido.
Ainda no âmbito profissional, você pode ajudar consumindo produtos e serviços de mulheres lésbicas, como ao adquirir arte produzida por elas ou frequentando um estabelecimento gerido por uma mulher lésbica. Pode parecer um detalhe para muitos, mas o fato é que, ainda hoje, a demanda de trabalho das mulheres lésbicas pode sofrer com a discriminação.
Para se aprofundar no assunto
Deu para perceber que esse é um assunto muito complexo, né? Felizmente, a sociedade já evoluiu consideravelmente e, hoje, é possível encontrar uma série de obras, desde filmes até livros e outros materiais, que ajudam a entender mais sobre esse assunto, se aprofundar nesse universo e, por que não, descobrir mais sobre si mesma? Separamos algumas indicações para você. Confira!
Filmes lésbicos: diversidade e representatividade na tela
- “Retrato de uma Jovem em Chamas” (2019)
Essa obra francesa poética, delicada e sensível aborda o florescer de um romance lésbico intenso e inesquecível. - “Imagine Eu e Você” (2005)
Clássico, é perfeito para os apaixonados por romances leves, já que mostra que existe, sim, amor à primeira vista entre mulheres. - “Carol” (2015)
Ambientado nos anos 50, mostra a história de duas mulheres que enfrentam a intolerância e o preconceito, mostrando que o amor é maior que qualquer coisa. - “Corações Desertos” (1985)
Lançado em 1985, quebrou vários estereótipos, mostrando a história de um casal lésbico e apaixonado sem fetichização. - “Gia” (1998)
Biográfico, mostra a história da modelo Gia, que, após enfrentar uma série de desafios em sua vida, encontra conforto em sua namorada. - “Amor Por Direito” (2015)
Explora a importância de leis que atestam os direitos de mulheres lésbicas com uma união homoafetiva estável.
Livros de romance lésbico: histórias de amor e autodescoberta
- “Amora”, por Natália Borges Polesso
O livro de contos aborda diferentes nuances de relacionamentos entre mulheres, falando sobre descobertas, desafios, medos e muito mais. - “A Cor Púrpura”, por Alice Walker
É uma importante obra que retrata um relacionamento lésbico de forma saudável e funcional, quebrando vários estereótipos e enfrentando os preconceitos da época. - “Delilah Green Não Está Nem Aí”, por Ashley Herring Blake
Esse romance adulto é leve, cativante e divertido, abordando assuntos importantes para o universo LGBT de forma inspiradora e positiva. - “Última Parada”, por Casey McQuiston
Perfeito para os apaixonados por romances leves com um quê de sobrenatural, essa obra traz reflexões importantes sobre o amor, as descobertas adolescentes, o abandono e o universo LGBT. - “Mama: Um relato de maternidade homoafetiva”, por Marcela Tiboni
Neste livro, vemos as dificuldades e felicidades que casais de mulheres lésbicas enfrentam para se tornarem mães.
Podcasts e canais no YouTube: vozes e perspectivas lésbicas em destaque
1. “Parachoque de Monstro”
Neste podcast, quatro mulheres lésbicas compartilham suas histórias e experiências relacionadas à sua sexualidade.
2. “Podcastão”
Apresentando e discutindo as novidades e questões da comunidade lésbica, Lela Gomes e Yas Campbell lideram esse podcast.
3. “Sapa Justa”
Podcast que aborda diversos temas relacionados à vivência lésbica, incluindo relacionamentos, cultura pop, visibilidade e questões sociais.
4. “Stevie Boebi”
Stevie Boebi é uma criadora de conteúdo queer que tem um canal no YouTube para abordar tópicos relacionados à sexualidade, relacionamentos e conselhos.
5. “Rose and Rosie”
Nesse canal, acompanhamos um casal lésbico que compartilha sua vida cotidiana, histórias engraçadas e conselhos de relacionamento.
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Diante de todo o exposto aqui, fica nítida a importância do Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, pois se trata de um marco pela luta de direitos de mulheres que sempre foram relegadas a um apagamento social por não atenderem ao padrão heteronormativo. Esse dia é um lembrete para as reivindicações mais do que válidas dessa comunidade que entende que sua existência merece e deve ser respeitada.