Você já tentou calçar um sapato um número menor? É uma sensação estranha, né? Talvez até um pouco difícil de explicar o que você sentiu no momento, especialmente se era um calçado que você queria muito e que você tinha certeza de que era a combinação perfeita com uma determinada roupa ou até um evento ou simplesmente parecia ser uma opção de puro conforto para seu dia a dia.
Então, por mais que parecesse o calçado perfeito, não era! Simplesmente porque seus pés não cabiam.
Agora, o que sapatos menores que seus pés têm haver com sua vida? Com as suas escolhas? Com quem você se relaciona? Com a forma como você se relaciona consigo?
A similaridade vai depender de quanto você tem o hábito de se diminuir para caber. Algo mais ou menos assim. Para levar o sapato que não serve, você corta seus dedos fora, pois assim o calçado passa a servir. Entendeu?
Talvez você fique um pouco em choque com a ideia de cortar os dedos dos pés e afirme categoricamente que jamais fez ou fará isso em sua vida. Espero que de forma literal você realmente nunca precise amputar os dedos dos pés por pura escolha, mas de forma figurada talvez você já tenha feito isso muitas e muitas vezes em sua jornada por aqui.
Uma coisa que percebi, criatura divina aí desse outro lado, é que invariavelmente, em algum momento de nossas vidas, passamos por algo assim. Nós nos mutilamos para podermos permanecer ou entrar em algum lugar.
Como somos seres coletivos que precisam de convívio e buscamos avidamente nos sentirmos integrados e pertencentes a algo, é comum que deixemos algo nosso de lado para poder encaixar em algum lugar.
Neste momento, pode ser que você esteja afirmando novamente que é inconcebível alguém se mutilar por pura vontade somente para estar em algum lugar.
Você já deixou de dormir mais cedo pois alguém apareceu na porta da sua casa? Você já comeu algo de que não gosta só pra agradar alguém? Você já foi a uma reunião de família ou amigos quando queria na verdade fica em casa descansando? Você já disse “sim” para um colega de trabalho ou chefe para não perder o emprego? Você já mudou toda a sua rotina só para satisfazer a vontade de outra pessoa? Você já teve relação sexual com seu parceiro sem querer só para ele/ela não ficar achando que você não gosta mais dele/dela? Você já fingiu não saber de algo só para não deixar o outro desconfortável?
Ou seja, você já aceitou fazer qualquer coisa única e exclusivamente para agradar o outro?
Então, minha cara criatura divina, você já se mutilou. Talvez de formas muito mais brutas do que mutilar os dedos para que seus pés entrem no calçado, pois você abriu mão de algo muito mais importante. Você abriu mão da sua verdade, você abriu mão de você!
Neste momento, você pode pensar: “Ah, mas, Mari, não tem como fazer sempre o que quero como eu quero. Tem que ceder, né?”.
Bem, criatura divina, não é sobre ceder. Ceder já mostra que algo está sendo forçado a acontecer. E se existe uma força contrária àquilo que é verdadeiro e amoroso para você, então está errado.
Sim! Está errado! Errado para você. Simples assim. E quando começamos a barganhar com aquilo que nos faz bem com medo das consequências de dizer “não” para o outro e “sim” para si, os resultados são catastróficos.
Você corre o risco de se perder de si mesma(o) e literalmente perder sua individualidade e integridade como consciência única e exclusiva que é.
Calma que eu explico.
Vou usar um exemplo para ficar mais fácil. Seja você homem ou mulher, sujeitando-se a ter uma relação sexual com o parceiro pois está com medo de que ele/ela deixe de gostar de você, vá buscar fora da relação e/ou ache que você não o/a ama mais. Veja bem: em nenhum momento estou falando que essa relação sexual está sendo forçada pelo outro, pois se o fosse seria um abuso.
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O abuso que existe aqui é de você para consigo mesmo. O outro não sabe o que se passa dentro de você. E você mesmo sem estar com a libido a ponto de querer ter a troca sexual, com energia ou com vontade mesmo. Você aceita, afinal o que tem milhões de histórias ruins que sua mente está contando para você para justificar por que deve dizer “não” para si?
E nesse momento você se torna seu pior algoz. E vai criando parâmetros totalmente distorcidos da realidade. Da sua própria realidade. Nesse exemplo em questão, não é só sobre sentir prazer em uma relação sexual que ficará alterado, mas toda a energia de suporte e prazer pela vida. Especialmente porque a entrega que tem o desfecho o sexo é algo maravilhoso, é momento de criar tudo aquilo que está em nossos corações.
Um dia falo mais sobre a energia da criação.
Mesmo diante desse exemplo, você ainda pode dizer: “Mari, mas são concessões necessárias.” E eu vou continuar explicando que não são. Anular sua alma em prol do outro não é divino, não é amoroso, tampouco digno.
A solução para isso está no ajuste de comunicação. Aprender a expressar de forma amorosa e elegante quais são seus limites. Até onde de fato você consegue ir. Deixar claro o que fere a sua alma, pois existem referenciais ainda a serem trabalhados que o outro sem saber pode ativar.
Então fale! Crie momentos para troca de escuta e fala ativa. Agora, se mesmo assim o outro não der sinal de um movimento acolhedor e tampouco resolutivo para que ninguém na história esteja se mutilando, bom, você provavelmente não vai gostar do que vai ler agora. Criatura divina, é hora de bater em retirada. Simples assim.
Não importa se o outro é o trabalho, é o pai, uma mãe, um irmão, uma irmã, o cônjuge. Quando você precisa mutilar sua essência todos os dias para estar onde está, isso não é abençoado. Isso é permissivo e só distanciará você daquilo que realmente é seu por direito divino.
A cada momento. A cada instante estamos escolhendo e nos posicionando. E quanto mais consciência criamos sobre a vida, mais responsabilidade temos diante das consequências das nossas ações.
Conte comigo para criar o movimento do “sim” a favor de si em sua vida.
Com fé, amor e gratidão.
Mari de Carvalho