Se você veio em busca de uma resposta simples para a pergunta do título deste artigo, é “sim”. Sim, é possível crer na ciência e na espiritualidade ao mesmo tempo.
Por muito tempo, e ainda hoje, muita gente acreditou que ciência e espiritualidade eram opostas e rivais, como clubes de futebol que têm torcedores que se odeiam. Mas a verdade é que, apesar de haver pontos de discordância, você pode muito bem crer em uma e crer em outra.
Antes de mais nada, o que é ciência?
Para deixarmos as coisas bem explicadinhas antes de seguirmos em frente, vale esclarecer esse conceito. O que chamamos de ciência neste artigo é o seguinte: todo conhecimento que explica fenômenos e que foi comprovado por métodos científicos.
Métodos científicos se baseiam em experimentos e observação. Sabemos que determinado remédio combate determinada dor porque diversas substâncias foram testadas para aliviar essa dor e descobriu-se que essa medicação funciona. Essa conclusão foi submetida a mais outra dezena de testes para ser comprovada.
Portanto, ciência é a explicação lógica por trás de uma situação. Ah, e importante: não existe “a” ciência, algo como um instituto que define o que é certo ou errado. O conhecimento científico está sempre se desconstruindo e se modernizando.
E o que é espiritualidade?
Espiritualidade é a busca por explicações que transcendem os nossos sentidos e a nossa capacidade de testar e observar, ou seja, os métodos científicos.
Há pessoas que creem que a meditação harmonize as energias do nosso corpo. Isso é impossível de ser medido, certo? Como medir as tais energias? Assim como há pessoas que acreditam que, ao morrermos, iremos ao céu ou ao inferno; mas como comprovar a existência desses lugares? Impossível.
Assim sendo, espiritualidade é tudo aquilo que tenta explicar ou dar sentido a tudo o que não podemos comprovar ou para o qual não encontramos sentido lógico. A ciência, por exemplo, provavelmente jamais poderá deduzir o sentido da vida. Não há como fazer isso. A espiritualidade, por sua vez, pode fazer isso.
É importante dizer que espiritualidade não é sinônimo de religião. Religiões são conjuntos de crenças estabelecidas que seguem cultos, rituais, regras etc. A espiritualidade é ampla: você pode crer no Deus cristão, no poder da meditação budista e participar de eventos em um terreiro de candomblé. Espiritualidade é individual.
Alguns exemplos simples
Usando alguns exemplos simples e até um pouquinho bobos, vamos mostrar a você que ciência e religião não se excluem. Vamos lá:
Parece absurdo uma pessoa estar esperando a vacina contra o coronavírus, mas, mesmo assim, todos os dias dobrar seus joelhos e pedir a Deus que proteja sua família e sua vida? Não, certo? Pois a ciência está aí, na vacina, e a espiritualidade está aí, em Deus.
Mais um exemplo: é absurdo estar passando por um quadro de transtorno de ansiedade, tomar medicamentos para controlar esse problema, mas praticar meditação todos os dias, com o objetivo de harmonizar energias espirituais? A medicação (ciência) atrapalha a meditação (espiritualidade, neste caso) ou vice-versa?
E um último caso ilustrativo: é absurdo uma pessoa combatendo um vício em drogas buscar ajuda psiquiátrica e psicológica, mas, ao mesmo tempo, procurar o conselho e a ajuda espiritual de um imã na mesquita de sua cidade? Não há nada de errado nisso, não é?
Como você pôde ver a partir dos exemplos, a espiritualidade e a religião não atrapalham a crença na ciência e em procedimentos médicos e científicos.
Quando os problemas começam…
Os problemas podem começar quando há conflitos entre a espiritualidade e a ciência, o que pode acontecer. Sim, é possível manter uma harmonia entre os dois e, com sabedoria, isso pode ser feito, mas há pontos inflexíveis que podem gerar situações problemáticas.
Há pessoas, por exemplo, que abrem mão de fazer tratamentos médicos médicos, como quimioterapia, na esperança de que Deus ou qualquer que seja sua crença vá curá-la desse problema de saúde.
Outro exemplo, este ligado a uma religião: aqueles que se consideram testemunhas de Jeová são proibidos por sua crença de fazer transfusão de sangue. Então, caso sofram um acidente ou passem por um quadro em que precisem de doação de sangue, arcarão com as consequências de abrir mão desse tratamento.
Seria leviano e arrogante dizer o que você deve fazer da sua vida, e não estamos aqui para isso, mas recomendamos que você coloque a sua saúde e a saúde dos seus acima das suas crenças quando for possível. Ainda que você tenha certeza a respeito do que crê, nada podemos saber a respeito da espiritualidade, apenas supor.
Então o recomendado é sempre se precaver e fazer o possível para se cuidar, seja cuidando do seu corpo ou da sua mente, seja fazendo tratamentos psicológicos e psiquiátricos, se forem necessários.
E a pseudociência?
Muitos confundem espiritualidade com pseudociência e, a partir desse preconceito, classificam qualquer crença como anticiência, mas não é bem assim.
A espiritualidade, quando verdadeira, é humilde. O que isso quer dizer? Que cremos naquilo que cremos, mas sabemos, lá no fundo, que não dá para ter certeza de que é verdade. Mesmo assim, cremos. Uma das definições de fé é esta: “crença na existência de alguma coisa”. Veja: crença, não certeza.
A pseudociência, por sua vez, não tem a humildade da espiritualidade. Ela deturpa métodos e conhecimentos científicos para se passar por verdadeira, na maioria das vezes com o intuito de enganar pessoas e, frequentemente, de ganhar dinheiro por causa disso.
Um exemplo de pseudociência. Crer que temos energias espirituais em nosso corpo não é errado. A ciência nunca comprovou a existência ou inexistência delas, e nunca vai fazê-lo, porque isso é tema para a espiritualidade.
Mas quando aparece uma pessoa dizendo que pode manipular as tais energias para que você seja mais feliz, isso é pseudociência. Por quê? Porque manipulação, medicação, entre outros, são conceitos científicos. Se uma prática mistura espiritualidade (energias) e ciência (cura), é uma pseudociência.
Duas dicas simples para diferenciar espiritualidade de pseudociência:
a. A crença promete alguma coisa como certeza (exemplo: uma cura)? Se sim, desconfie, porque nem mesmo as religiões prometem;
b. A crença cobra algum dinheiro de você para oferecer algo que é espiritual e que não pode ser mensurado/avaliado? Desconfie.
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Já se foi o tempo em que espiritualidade e ciência eram antagonistas. Na época em que vivemos, sabemos que os dois podem conviver harmonicamente, desde que não nos impeçam de ter cuidados conosco, com a nossa saúde e com a nossa mente, por exemplo. Fora isso, exerça sua espiritualidade como quiser e como se sentir bem!