Muito se ouve falar por aí que é preciso acabar com o ego, o grande malvado da personalidade humana, que uma vez alimentado, fatalmente destruirá a verdadeira luz interior e a essência de cada um de nós. Afinal de contas, o que é ego? Qual é a sua finalidade e como lidar com ele de maneira a utilizá-lo ao nosso favor e a favor da criação?
O ego é uma parte da personalidade que começa a ser formado na infância, nos primeiros anos de vida. Segundo Freud, o nosso ego vai se formando em função da interação que temos com as primeiras pessoas que nos relacionamos no mundo; ou seja, nossos pais, nossos familiares, nossos cuidadores, nossos irmãos, enfim…
As pessoas que fazem parte da nossa interação e do nosso ambiente de convívio na infância são fatores primordiais na formação de nossa personalidade, do nosso ego. Durante esse processo, portanto, ocorre o que Freud chamou de identificação, que é justamente quando os traços dessas pessoas vão, aos poucos, sendo incorporados em nós. Sendo assim, o ego não nasce do próprio indivíduo; mas, na verdade, nasce por meio de influências e de características das pessoas amadas desse ser em formação de sua personalidade. O ego nasce das pessoas que fazem parte do convívio da criança. Sendo assim, segundo Freud, a personalidade e o jeito de ser do indivíduo são, na realidade, herdados dessas pessoas.
Podemos dizer que no ego está alicerçada a personalidade do ser, em que a sua psique armazena as suas memórias, os seus pensamentos, as suas experiências, as sensações e as lembranças. Ou seja, o ego está em sua maior parte no consciente.
O maior problema do ser humano em relação ao ego surge quando ocorre a identificação de maneira absoluta e exclusiva com os pensamentos, com os títulos que possui, com a aparência física, com a identidade perante o mundo, com as memórias. Dessa forma, passa-se a acreditar que na verdade é apenas isso. Ou seja, quando tudo aquilo que esse ser consegue ver e acreditar sobre si mesmo se resume e se fecha apenas nessa identificação. Quando isso ocorre, pode acontecer duas situações. A primeira é quando surgem as ilusões, as desilusões, os sofrimentos e as decepções, que é quando ocorre o conhecido como “inflação do ego,” em que a pessoa, por estar identificada com sua identidade no mundo, somente se sente feliz e realizada quando adquire o reconhecimento, os aplausos e a admiração dos outros. Caso todas essas coisas não cheguem até ela, ela se sente frustrada, fracassada, triste, depressiva, derrotada, humilhada e desvalorizada. Isso porque é como se tudo o que ela fosse estivesse resumido ao seu ego, ao seu eu, à sua identidade no mundo. E a segunda situação é quando essa pessoa pode até se tornar a causa do sofrimento para outras pessoas, justamente por estar com o seu ego em desiquilíbrio; ou seja, quando ela vive esse ego de maneira doentia, narcisista ou age em torno dos próprios interesses, sem medir esforços para realizar os seus desejos, mesmo que sejam em detrimento do prejuízo ou do sofrimento alheio. Aliás, isso também é um grande problema.
Qual, porém, é a finalidade do ego? Para que ele nos serve?
O ego foi muito importante no decorrer da formação da personalidade do indivíduo durante a infância. Ademais, o ego é importante para nos diferenciar no mundo, para nos fortalecer, para nos trazer individualidade, força e autenticidade perante a vida e aos outros. É por meio do ego que temos a consciência do nosso eu, de nossa identidade e é por meio dele que nos defendemos, que lutamos pelos nossos direitos, que nos reconhecemos únicos, que lutamos pelas causas importantes para a nossa vida e até para o mundo. O ego é necessário para que todo o indivíduo tenha consciência de si, para que tenha consciência da vida e para que ele tenha saúde mental. Todos nós precisamos do ego, pois ele é o meio funcional da mente. Por meio do ego, agimos com firmeza, com fibra e dinamismo na vida e isso é de extrema importância quando estamos interagindo no mundo. Sem o ego, certamente seríamos pessoas frágeis, fracas e, portanto, conduzidas como uma folha ao vento, sem força, sem personalidade e sem vida.
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Como lidar com o ego de maneira a utilizá-lo ao nosso favor?
Podemos utilizar do nosso ego ao nosso favor ao termos os nossos pensamentos, as nossas memórias, as nossas experiências, os nossos títulos e a aparência no mundo, mas devemos nos lembrar de que não somos apenas isso. É importante não nos identificar com o ego. Na verdade, somos parte de um Todo. E a nossa essência transcende o nosso ego. Quando passamos a ter essa consciência, descobrimos que o nosso ego pode ser usado como um veículo de transformação em nosso meio. Todas as grandes pessoas que transformaram parte do mundo, libertando pessoas de opressões e que lutaram contra formas de maldade, manipulações, sistemas de injustiças e que trouxeram contribuições para um mundo melhor por meio de suas ideologias e de suas ações, foram pessoas que colocaram os seus egos a favor da essência, a favor da criação e a favor do bem maior. O ego não precisa ser aniquilado. O ego precisa ser transformado e colocado a favor da essência e em prol da criação.