Autoconhecimento Comportamento Convivendo

Em obras nas festas

Imagem de fundo preto e em destaque uma mulher de cabelos longos usando uma jaqueta preta trazendo o conceito de paz de estar sozinha.
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Escrito por Nina Veiga

O fortalecimento pessoal pode ser alcançado por meio da prática diária de orações e meditações, com foco na concentração e disciplina interior. A busca por obediência e entrega à vontade requer esforço, mas visa promover uma transformação íntima, sem a necessidade de seguir dogmas religiosos específicos.

Todo mundo em festa e eu em obras. Vida de vivente complicada é assim mesmo, sempre em reforma. Decidi que meu foco de ajuste para esse período do ano é o fortalecimento das minhas estruturas de concentração e vontade. Então, empenhada em reforçar meus pilares estruturais, estou em obras.

Certa vez, li uma reportagem sobre as Carmelitas Enclausuradas, ordem de freiras católicas, que tem perto da minha casa. O que foi dito sobre as práticas de isolamento e silêncio me impactou muito, especialmente quanto à capacidade de concentração que elas desenvolvem no monastério, a partir de vários momentos de oração, dentro do ritual que chamam de “Liturgia das Horas”. Por isso, resolvi segui-las em suas práticas durante meus dias de obra meditativa, entre o Natal e o Dia de Reis.

Estou fazendo a oração das nove horas da manhã, a oração do meio-dia, a das três da tarde, depois sigo “a hora da Ave Maria” às dezoito horas e, por fim, às vinte e trinta, concluo o dia de obras e preces no mesmo horário em que as queridas do Carmelo estão fazendo as “Completas”.

Deixo de fora a oração das cinco da manhã, pois sinto muito sono, mas à noite, antes de dormir, procuro sintonizar em pensamento com minhas vizinhas carmelitas para que eu consiga, mesmo que em sonho, orar com elas ao alvorecer. Tem sido uma experiência fortalecedora.

Não sou religiosa no sentido stricto do termo, minha liturgia é particular, sem o domínio das práticas rituais tradicionais e minhas orações não seguem os preceitos religiosos da doutrina católica. Mesmo assim, consigo perceber o que leva uma pessoa ao monastério, a força que vigora e possibilita o alinhamento pessoal. Neste sentido, me considero uma livre-religiosa.

Imagem de uma mulher loura, sentada no chão, trazendo o conceito de reforma íntima. Ela está sozinha no Natal.
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No entanto, faço as práticas com a máxima seriedade, seguindo aquilo que minha alma sugere e conduz, sem adotar, obrigatoriamente, dogmas ou tradições dessa, ou daquela instituição de fé. Dito isso, preciso falar que fico muito feliz em ter vários despertadores no celular programados para me avisar o horário da oração e da meditação.

Agradeço também a inspiração vinda através dessas religiosas tão especiais e confesso que invejo uma rara qualidade que as irmãs carmelas se propõem a exercitar quando optam pela vida vocacional: a obediência. A obediência, no sentido em que as religiosas colocam, é um exercício da vontade.

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Conforme explicado na reportagem que li: elas oferecem sua vontade. É um estágio tão elevado de desprendimento que se torna possível querer uma vontade que não é nossa originalmente. É o conhecido, mas, especialmente para mim, pouco praticado “Seja feita a Tua vontade”.

Oxalá, minha reforma íntima possa me trazer um pouco mais de concentração, obediência e fé.

Sobre o autor

Nina Veiga

A artemanualista e ativista delicada Nina Veiga é doutora em educação, escritora, conferencista. Sua pesquisa habita o território da casa e suas artes, na perspectiva da antroposofia da imanência. É idealizadora e coordenadora do coletivo Ativismo Delicado e das pós-graduações: Artes-Manuais para Educação, Artes-Manuais para Terapias e Artes-Manuais para o Brincar. Desenvolve trabalhos de formação de artífices e escritores. Suas oficinas associam o saber teórico-conceitual às artes-manuais como modo de existir e à escrita como produção de si e do mundo.

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