A solidão não é nada mais do que um protesto da alma. É como se ela gritasse por socorro em meio a um deserto, sem ninguém para ouvi-la, sem ninguém para compartilhar o seu desespero.
Todos nós trazemos demandas internas, nosso mundo interior é feito de desejos e necessidades íntimas e o que queremos é justamente encontrar um meio de nos livrarmos desses incômodos, por isso nos projetamos no mundo, por isso nos projetamos no outro e por isso precisamos nos relacionar.
Na verdade, em todo relacionamento, o que está em jogo é um interesse egoísta, pois o que se busca sempre é encontrar um espelho para projetar as nossas angústias.
O outro também tem os mesmos interesses e precisa da gente tanto quanto precisamos dele, por isso é lícito, por isso nos relacionamos.
A grande verdade é que tudo aquilo que enfrentamos em nossos relacionamentos é o nosso próprio ser. O homem, por natureza, é um animal solitário, pois o mundo acontece, apenas dentro dele.
A relação humana, portanto, é uma relação de troca de lixos emocionais, nada mais do que isso, por mais absurda que pareça essa afirmação, na raiz de qualquer encontro de corpos estão os desejos e necessidades de ajuste de cada um.
Quando nos encontramos, impedidos de despejar as nossas mazelas no outro, em função das injunções da existência, nos sentimos solitários. É nesse momento que devemos nos enfrentar, é nesse momento que começa o bom combate, pois é justamente diante de si que o homem cresce e se descobre.
Sem uma companhia, o indivíduo se vê obrigado a dialogar consigo mesmo e encarar a própria sombra, mas isso ocorre quando ele não resiste a esse confronto, pois o mais comum é evitá-lo através de mecanismos de fuga, como remédios, entorpecentes, distrações, etc. Ou seja, passamos a vida fugindo da própria alma. Não aprendemos ainda que a dor é uma ação desesperada do inconsciente em busca de atenção.
O mito do herói, presente em todas as fábulas, não é nada menos do que o retrato da luta que somos obrigados, pelo próprio Universo, a participar. Para libertarmos a princesa, presa na torre do castelo, teremos que enfrentar um dragão no caminho.
A princesa representa a nossa alma (anima) e o dragão é o retrato das nossas culpas, frustrações, revoltas, enfim, é o retrato da nossa sombra, de tudo aquilo que não tivemos recursos emocionais para enfrentar e, em um dado momento, nós negamos e inconscientizamos.
O casamento final (coniunctio), que celebra o final feliz dessa história, é justamente o despertar da plenitude humana, nesse momento, Shiva encontra-se com Shakti e acontece a integração da anima. Cada ser humano do planeta está diante de sua própria saga e, por esse motivo, em nossas orações, só deveríamos pedir força e coragem, nada mais. Percebem agora porque o mestre Jesus dizia: “Não vim trazer a paz, vim trazer a espada”?
A solidão faz parte de uma necessidade ontológica, todos nós seremos compelidos ao mesmo destino e a resistência é a maior responsável pelo sofrimento que envolve a condição humana.
Está na hora de aceitar o nosso destino, confiar no Universo, levantar a cabeça e enfrentar os minotauros, bruxas, dragões e feiticeiras que se escondem no âmago do nosso ser.
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Estar só não é estar sozinho! Estar só é uma necessidade, estar sozinho é circunstancial. Solidão a dois, como dizia o poeta Cazuza, é quando não encontramos mais um ambiente no outro para projetarmos os nossos desconfortos.