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Entrevista com Simone Gomes – Agente de Saúde

Agende de saúde sorrindo para idoso branco.
Reprodução / Senac São Paulo

Revista Statto – Daniela Duarte

Entrevista com Simone Gomes – agente de saúde

Simone Gomes Costa de Souza, 43 anos, mãe de três filhos lindos, esposa, agente comunitária de saúde, gosta muito de jogar PS4 com o filho e assistir a filmes com a família. Ela nos contará um pouco sobre os desafios da profissão e como podemos extrair lições nas dificuldades.

1 – Simone, conte-nos um pouco sobre sua trajetória pessoal e profissional.

Fui criada desde pequena com a minha bisavó, longe dos meus pais. Tive uma infância muito humilde, mas com muito amor e carinho. Aos 17 anos, buscando minha independência, e na esperança de melhorar minha vida, decidi me casar. Mas, como era menor de idade, precisava da autorização dos meus pais.

Então fui atrás primeiro da minha mãe, que, com facilidade, me deu a autorização; e depois do meu pai, que, receoso, não queria e fez de tudo para não dar. Porém, por tudo que já havia passado, mantive-me firme. E, no fim, ele cedeu.

Infelizmente, depois de quatro meses, com um infeliz acidente, fiquei viúva. Nessa situação, tinha que voltar a morar com a minha bisa, mas ela já estava morando com meus tios. E lá, com a vida muito corrida e com todas as dificuldades, não consegui terminar o colégio.

Três anos depois, reencontrei um amigo de infância, e, com o tempo, acabamos indo morar juntos. E um tempo depois, como um presente de Deus e resposta às minhas preces para não ficar sozinha, Deus me enviou uma companheira: minha primeira filha. Tempos depois, por problemas particulares, acabei me separando dele.

Durante um tempo, trabalhei com telemarketing e depois consegui um emprego numa rede de supermercados, por indicação de um amigo, e lá consegui me desenvolver e ter uma condição melhor. Porém, depois de me separar, acabei ficando um tempo com a minha mãe e tinha que ajudá-la e ao meu irmão. Nessa fase, passamos dificuldades.

Foi nesse supermercado que conheci meu atual marido e companheiro de vida, com quem consegui conquistar o que sempre sonhei: uma casa com uma família linda.

Foi como se Deus nos juntasse. Eu não sabia naquele momento, mas nós iríamos nos completar como resposta a preces que tanto fazíamos.

Demorou, mas, com o tempo, muito trabalho, ajuda de Deus e muito esforço, as coisas foram se ajeitando. Com o incentivo dele, terminei meus estudos. Conquistamos nossa casa, e consegui entrar no emprego em que estou até hoje, como agente comunitária de saúde!

Esse emprego foi assim como tudo na vida: uma bênção de Deus! Pois não corri até ele, ele chegou a mim por meio da minha agente de saúde na época.

Tempos depois, tive meu segundo filho.

E, recentemente, meu terceiro filho.

2 – Como foi possível para você conciliar a profissão com os cuidados da família? Você conta com a ajuda de quais pessoas? Como é sua dinâmica familiar?

No início, foi bem difícil por causa da rotina e adaptação. Meu marido também trabalhava fora. A única pessoa com quem sempre contei e que estava ali me ajudando foi meu marido. E, com o tempo, nos ajeitamos.

3 – Atuar na área da saúde sempre foi sua vontade? Conte-nos um pouco sobre o dia a dia de uma ACS – agente comunitário de saúde.

Simone Gomes.
Imagem disponibilizada pela entrevistada Simone Gomes.

Não, essa profissão me encontrou. A rotina é muito cansativa, estressante, e há muito desgaste físico e emocional. Temos que passar de porta em porta e analisar toda a situação da saúde de cada membro da família, analisar e orientar.

Organizamos isso tudo para passar à equipe de médicos do posto de saúde.

Sou responsável por mais de 200 famílias. Vemos todos os tipos de pessoas e problemas. Não é simplesmente passar informações sobre a saúde da família. E, com o tempo, é inevitável se envolver.

Eles acabam, mesmo que sem querer, de uma maneira desabafando com a gente. Porque demonstramos interesse por sua saúde de maneira integral.

Então, da mesma maneira que é muito estressante, é também muito gratificante! Porque, com o tempo, nos envolvemos e vemos a mudança na vida das pessoas. Ajudamos a melhorar a qualidade de vida, desde conselhos sobre tratamentos básicos de saúde até com doenças mais sérias…

Ver sua evolução é muito gratificante. É uma semente que você planta e vê crescer.

Depois de 15 anos nessa área, vemos a mudança que esse trabalho pode fazer.

Fazemos muitos cursos, o que é ótimo na hora de passar ao paciente. Essa qualificação dá uma segurança muito maior.

4 – Quais momentos mais marcantes sua profissão já lhe proporcionou?

Acompanhar a mudança na vida das pessoas e ver o resultado na melhora da saúde. E, mesmo no início de carreira, quando as pessoas não entendiam e eram “grossas”, só me fortaleceram para hoje eu poder ver os resultados.

5 – Quais melhorias você gostaria ou percebe que poderiam ser adotadas para um melhor aproveitamento desse serviço à população?

No geral e principal, é a valorização do agente de saúde. Tanto da própria equipe médica como dos direitos, benefícios e da população. Mais capacitação, projetos de incentivo e valorização desse programa.

6 – Como você se prepara para manter o ritmo necessário tanto físico quanto mental para esse trabalho?

Muita oração! Na maioria das vezes, só a oração…

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7 – Vocês têm algum suporte no trabalho para manter a qualidade de vida e saúde?

A única coisa que às vezes nos oferecem é o programa da saúde do trabalhador. Mas, na prática, não funciona muito. Temos uma terapeuta que atende o posto todo. Que, muitas vezes, tenta ajudar, porém é complicado, por ser muita gente precisando. Ou seja, a demanda é muito grande, e precisariam colocar mais profissionais para isso.

8 – O que a Simone mulher ainda não conquistou e almeja conquistar? Projetos, sonhos etc.

Quando pequena, queria ser professora para ajudar as pessoas. Trabalhando como agente de saúde, consigo fazer isso, mas ainda gostaria de me graduar em alguma coisa.

9 – Que mensagem você poderia deixar em especial às mulheres que lutam com seus inúmeros desafios, depressões, angústias, desejos, vontade de conquistar a vida com mais dinamismo?

Que nunca desistam, porque problemas, todas nós temos. E, ao contrário, façam desse problema uma forma de se fortalecer em Deus. Nunca desistam, porque, com Deus e as lutas, mantendo a cabeça erguida, conquistamos qualquer coisa. Pois as dificuldades virão, e o importante é aprender com elas. Por que só acaba quando Deus fechar os nossos olhos…

Sobre o autor

Daniela Duarte da Silva

Jornalista pós graduada em marketing, com foco em comportamento, saúde e atualidades.