Conversamos com Thiago Berto que nos conta o que é proposta pedagógica mais livre, voltada para o ser. Confira a entrevista:
Eu sem Fronteiras: Fale-me um pouco da sua vida na infância até a fase de interromper os estudos no ensino médio e motivo desta decisão:
Thiago Berto: Morei até os 16 anos em Guaporé, no interior, minha mãe faleceu quando eu estava com 12 anos, mas desde os nove já não tinha muito contato com ela em função de seu tratamento para leucemia que tinha de ser feito em Curitiba. Dos 12 aos 16 minha vida foi em Guaporé, foi cuidar das minhas irmãs mais novas, da casa, e levar da melhor maneira o meu pai que era alcoólatra e bastante violento. Esse foi meu campo de concentração, não sou vítima, sou abençoado por ter recebido a oportunidade de pensar na vida como algo com mais sentido. O sofrimento me fez buscar um sentido e me deu um combustível muito importante para minha vida profissional: A raiva. Estudei muito computadores, e criei minha empresa com 19 anos, porque queria mostrar ao meu pai que ele se equivocou. E sabe? Está tudo perfeito! Tudo tem um porquê. Fui expulso de casa aos 16 anos (ou talvez tive um lindo empurrão), fui para Porto Alegre e ali vi que não queria mais tomar meu tempo terminando o ensino médio. Usei esse tempo para me dedicar a estudar redes de computadores sozinho e foi uma de outras decisões menos normais que me levaram onde estou hoje.
ESF: Você criou uma empresa muito cedo. Por que decidiu deixá-la? O que você via naquela década de vida que te fez mudar?
TB: Fundei a empresa com um sócio amigo aos 19 anos, aos 29, parei para pensar e avaliar até onde eu queria ir. Naquele ano decidi que trabalharia na empresa até os 40 e de qualquer maneira a deixaria para me dedicar a meus sonhos. O acordo durou até os 30. A empresa está no auge de sua história, e paradoxalmente, o sucesso me fazia sentir um vazio. Uma grande interrogação. Por quê? Para que tudo isso?
ESF: Já li que o Butão te encantou. O que tinha ali? O que você viveu ali?
TB: Um país tranquilo, outro planeta! Outros valores, um lugar que me possibilitou estar comigo mesmo. Suportar, acostumar e gostar de minha própria companhia. O Butão é um país lindo com conceitos de cooperação, sustentabilidade e ‘governaça’ que influenciaram muito no que eu penso hoje sobre política, gestão e empreendedorismo
ESF: Me conte como foi a experiência de viajar para tantos países? O que mais te fez viver?
TB: Digo que viajar por muitos lugares, me serviu para duas coisas. Conhecer a mim mesmo. Porque eu estava fora do meu habitat natural, viajando de maneira muito simples, e isso fez eu me conectar comigo. E a segunda coisa foi me encantar e amar o lugar que vivo hoje. Valorizar Guaporé a terra que sai aos 16 anos.
ESF: Por que você busca uma pedagogia alternativa? Encontrou esse modelo no Peru? O que mais lhe chamou a atenção lá?
TB: Não busco uma pedagogia alternativa. Nossa pedagogia é o adulto que aceita voltar para dentro de si, perder o controle ilusório que tem sobre as coisas. Nossa pedagogia é uma forma de viver. No Peru foi meu primeiro contato como uma outra maneira de ver a criança de mais respeito, de igualdade e isso foi a faísca que eu precisava para tudo que vinha depois.
ESF: É óbvio que nossa educação não dá mais conta. Valores importantes como amor, respeito ao próximo, solidariedade poderiam ser ensinados e não são. Somos ‘ensinados’ a aprender o óbvio, se formar, ir para faculdade e ficar naquele sistema fechado. por mais que eu ouça pessoas querendo ir para um outro caminho, muitos me questionam que é difícil. O que você tema dizer?
TB: A nova sociedade que queremos, uma nova perspectiva sobre pilares como política, religião, família, economia e educação, começa do novo adulto, do novo ser humano, que resolve parar de colocar a responsabilidade em algo externo, e parar de buscar referências externas também. E decide assumir a necessidade da jornada interior. De olhar para si mesmo. Reconhecer que é o bom e o ruim, a luz e a sombra, que é tão corrupto quanto um político, mas tão divino como um Gandhi. Somos tudo! E podemos escolher o que expressar. A jornada de olhar pra si não é fácil, mas é provavelmente o único ponto honesto e verdadeiro de nossa existência.
ESF: E pela economia solidária, o que mais te toca nela?
TB: Utilizar negócios, prover serviços, que gerem recursos para fazer algo mágico e profundo no mundo. Aqui e agora. A economia solidária não é caridade. É empreendedorismo para o que importa.
ESF: Conte mais sobre o projeto da Escola Ayni.
TB: A Ayni é um movimento social, que quer influenciar a cultura, o ambiente ao seu entorno, para que esse influencie um novo comportamento das pessoas. A Ayni propõe práticas, e iniciativas de uma sociedade que imaginamos no futuro, aqui e agora, em 2015, ao redor de nós. Uma nova forma de ser, ver e interagir com tudo. Começando pelo nosso olhar com nós mesmos, crianças, meio ambiente e economia.
ESF: Vi que você colocou a escola no financiamento coletivo. Eu gosto muito do financiamento coletivo. Acredita que as pessoas estão se conectando para apoiar projeto tanto locais, como aqueles que se identifiquem?
TB: Em verdade sabes que ainda estou conhecendo o financiamento coletivo. É uma boa iniciativa, não gosto muito das recompensas. Me soam como uma energia antiga. Do antigo. Um dia doaremos e apoiaremos pelo simples movimento. O que é a base de outro conceito que me encanta: Economia de presentes. A economia do presentear, do doar, do ajudar por conexão, por entusiasmo.
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“Quero expressar minha gratidão por poder falar mais de meu caminho nessa vida. Ele é influenciado pelos passos de todos. Estamos todos conectados. Somos uma malha. Estamos no mesmo trem, indo para o mesmo lugar. Assim é o plano e o projeto de evolução da humanidade.”
– Thiago Berto
Para saber mais visite: www.fundacaoayni.org
- Entrevista concedida a Angélica Weise da Equipe Eu Sem Fronteiras.
Fotos / Reprodução Facebook