Acredito que o maior desafio da atualidade para pessoas que têm vivido em busca de desenvolver a espiritualidade tenha sido não a busca em si, mas, principalmente, o que fazer com todo o volume de informações e conhecimentos que se encontra disponível ao público na internet.
Quando comecei meus estudos, aos treze anos, a dificuldade em ter acesso aos livros sobre o assunto era muito grande. Livros sobre espiritualidade não eram facilmente encontrados em bibliotecas e quem os possuía dificilmente os emprestava. Como eu era criança, ainda não tinha recursos financeiros para adquiri-los, então ficava sedenta por qualquer informação ou conhecimento que pudesse adquirir.
Muitos dos adultos que eu conhecia buscavam tais informações, até então misteriosas para mim, em escolas secretas, seitas religiosas e grupos de onde eu com treze anos não poderia participar. Muito embora as conversas sobre tais percepções espirituais do pouco que conhecia não ficassem abaixo do nível daqueles homens e mulheres que eram estudiosos há muitos anos naquela senda.
“Muitas vezes vejo pessoas ditas “espiritualizadas” parecendo mais um gravador ao repetir palavras e falas de livros clássicos e/ou conhecimentos modernos”.
Hoje, felizmente, para saber qualquer informação sobre espiritualidade, em qualquer vertente, basta utilizar o Google e tudo está na mão. E isso é realmente maravilhoso! Mas o que temos aqui é um número gigante de buscadores, que encontraram algumas de suas respostas, mas agora têm um volume de informação gigante e, sem muito avanço na vida prática, continuam perdidos em meio a informações sem “coração”, sem pulso nem sentido em suas vidas. Muitas vezes vejo pessoas ditas “espiritualizadas” parecendo mais um gravador ao repetir palavras e falas de livros clássicos e/ou conhecimentos modernos, mas em sua vida prática um verdadeiro abismo existe no que se refere ao conhecimento e à prática do que se está repetindo apenas como teoria.
Essa é para mim a maior de todas as lástimas dessa senda espiritual. Conhecer apenas por conhecer não faz de você um ser espiritualizado, pelo contrário, o deixa apenas com o ego inflado sem grandes resultados em sua vida.
Uma das frases que mais amo e que me recordo de ter ouvido da diretora da escola da minha filha foi: “Conhecimento inspira, mas o exemplo arrasta”. Não sei quem é o autor desta frase, mas ela faz todo o sentido agora.
É muito triste e lamentável ver que muitas pessoas que estão em busca deste conhecimento espiritual não consigam compreender que o conhecimento espiritual só é verdadeiramente espiritual quando colocado em nosso dia a dia, em nossa vida prática, em nossa rotina diária.
De que adianta conhecer inúmeros autores e teorias fabulosas, se não se detém nem um segundo a empregar o que está sendo compartilhado naquele texto? Isso não é espiritualizar-se.
Quando falamos de educação espiritual, é totalmente aplicável o viver plenamente pelos seus fundamentos, tanto quanto nos moldes da educação convencional. “Não façais ao próximo o que não queres que seja feito a você” é um ensinamento não só espiritual, mas também pessoal e educativo. De que adianta eu saber que não devo fazer ao outro o que não gostaria que fizessem comigo se sou a primeira a apresentar uma má conduta em relação ao próximo? Conhecimento sem prática é uma geladeira maravilhosa e espaçosa, porém vazia: não promove recursos para o alimento diário.
Conhecer sobre espiritualidade não nos faz seres espiritualizados. Só fazer caridade também não. Pois é necessário mais que isso para que possamos nos considerar seres espiritualizados.
O amor é o segredo! Porém, o que é o amor?
Será que você vai encontrar em livros? Será que existe algum Ashram onde eu possa aprender o amor? E alguma escola? Será que devo peregrinar até o monte mais difícil para saber como posso aprender sobre ele?
Não. Definitivamente, é algo tão primordial que não pode ser “aprendido” nem “ensinado”. O amor só pode ser vivido e seus caminhos nem sempre são fáceis, porque ele só segue em uma única direção – dentro de si mesmo.
“Quando falamos de educação espiritual, é totalmente aplicável o viver plenamente pelos seus fundamentos, tanto quanto nos moldes da educação convencional”.
Eis o grandioso desafio de ser humano: conhecer a si mesmo. Conhecer a si mesmo significa exercer simultaneamente o amar a si mesmo. E quem realmente está disposto a isso?
Não é fácil! Como é possível explicar a alguém a experiência de amor que se tem consigo mesmo?
Como mostrar para o mundo que exerceu o amor por si mesmo com tanta excelência que isso fez florescer a espiritualidade?
Quando falamos de amor por si mesmo, muitos ainda estão no nível do ego e acho que isso é egoísmo. Não estou aqui discorrendo sobre o amor egóico nem sobre um conhecimento vazio de autoengrandecimento.
Estou falando, entre outras coisas, de autoaceitação, conhecimento dos próprios limites e percepção do próprio papel como ser infinitamente espiritual vivendo uma estadia física cheia de limitações, com milhares de escolhas e possibilidades sobre onde focar a sua lente perceptiva entre os mundos diversos. Essa escolha entre focar a percepção no plano físico limitado e o plano espiritual ilimitado é a maior de todas as escolhas que poderíamos fazer na vida.
Estar com o foco a partir da infinitude nos deixa livres para viver a plenitude espiritual sem as amarras dos cinco sentidos que nos desalinham da nossa verdadeira natureza.
Me refiro a estabelecer um pouco de contemplação diária, uma experiência apreciativa onde você mergulha em sua jornada de autoconhecimento e permite que tudo o que é refletido para você, consciente de que vem de você, está começando a desabrochar para a espiritualidade. E este é um processo que ninguém precisa saber, mas é quase inevitável que não percebam o seu despertar.
É totalmente impossível viver essa experiência com conhecimentos em livros. Essa é uma jornada que se trilha só. O caminho solitário do Santo Espírito que deve ser trilhado todos os dias dentro de si mesmo, em meio às rotinas, contas a pagar, soluções a encontrar e sobrevivência diária. É exatamente em meio a toda essa “lama” da vida cotidiana que a lótus desperta linda, perfumada e brilhante!
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Só as sementes, sem a lama, não são capazes de produzir o lótus; só a lama, sem as sementes, também não pode promover o despertar. A união das duas e o aceitar simultâneo é que pode promover a experiência necessária para que o lótus finalmente surja triunfante para receber a iluminação direta do Sol Espiritual.