Dia desses estava me sentindo inquieta. Uma inquietude não manifesta em meu corpo, e sim na minha mente. Os pensamentos acelerados, uma certa dificuldade para encontrar foco ou definir uma direção.
Costumeiramente, movimentar meu corpo me auxilia muito nesses momentos, mas não era o que eu estava sentindo que deveria fazer. Abri meu armário no escritório e dei de cara com um caderno que há muito tempo eu não visitava. Um caderno que recebia minhas palavras escritas à mão.
Ele não é um diário, pois nossos encontros não ocorriam todos os dias, mas era um lugar muito visitado em diferentes situações. Eu sei que nele tudo pode: posso manifestar por meio dos meus escritos agrados e desagrados, gostos e desgostos, sonhos, receios e lamentações; e ali não serei julgada — nem por mim.
Lá eu não preciso me preocupar com a minha caligrafia, muito menos com o número de linhas para compor meu pensamento.
Resolvi me sentar para escrever e confesso que só esse simples gesto já fez com que eu me sentisse diferente. Senti meu corpo e minha mente se organizarem prontamente, como se fosse um pedido de longa data sendo atendido.
Percebi que estava sentindo falta de ver a mágica acontecer, meus pensamentos ganharem forma e contorno usando as minhas mãos. Cada letra vai se unindo a outra como se estivessem passeando de mãos dadas num fim de tarde acompanhado do pôr do sol.
Aquilo que nasce de mim, expresso, manifesto por meio do meu próprio corpo. O tempo ganha uma outra dimensão, parece que os ponteiros do relógio transcorrem mais lentamente, a velocidade dos meus pensamentos precisa respeitar o tempo que minha mão leva para deslizar no papel. Uma dança acontecendo diante de meus olhos e o palco era o papel.
Percebi que escrever à mão era desacelerar, me fez sair do piloto automático. A materialização do meu pensamento ganhando contorno e cor foi aprofundando minha respiração. Um bocejo e um suspiro apareceram também. Espreguicei lenta e prazerosamente, como se estivesse despertando de um sono profundo e reparador.
A tensão foi dissipada, bem como a tensão física e mental. Senti-me energizada, sangue fluindo e oxigenando todo meu corpo. Um sorriso brotou em minha face.
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Poder sentir o deslizar da caneta pelo papel teve lá sua magia. Esse encontro comigo mesma e a aproximação de algo que tanta falta estava me fazendo fizeram com que eu assumisse o compromisso do retorno não tão demorado.
Ao me esvaziar, senti-me profundamente preenchida. E agora eu estendo o convite a você: que tal pegar caneta e papel e deixar a mágica acontecer