“O melhor lugar do mundo é aqui e agora…”
(Gilberto Gil)
Para uma garotinha como eu (quanta modéstia, hein, Dona Claudia!), que adora observar, a vida me presenteou com uma oportunidade daquelas!
Conheci enfim, a terra de meus antepassados, a minha querida Espanha.
Estava lá, contando as horas para a partida quando me dei conta de que estava realizando o percurso, o caminho, a trajetória inversa àquela que os meus avós realizaram: me peguei pensando em como tudo aconteceu, os detalhes, como a vinda ao Brasil foi planejada e as emoções que sentiram… Seriam as mesmas que as minhas?
Eu estava com um nó na garganta e o meu coraçãozinho mantinha certa força, mas algumas vezes ele bem que sentia o baque. E quando o avião decolou, eu procurei ser forte, mas aí percebi que a história de minha família é muito mais importante para mim do que poderia imaginar.
Meus avós deixaram seu país de origem por conta da pobreza que assolava o país em tempos de guerra. Eram muitos: idosos, jovens, crianças, gestante, gente que queria mudar de vida e dar uma nova chance a si mesmos, queriam vencer, queriam que suas gerações futuras tivessem dignidade e talvez chegar à conclusão de que deixar o país fosse melhor, pode ter lhes custado muito. Mas, ainda assim, vieram e decidiram mudar em todos os sentidos.
E lá estava eu, no país de os meus avós, experimentando a comida, observando as pessoas, os costumes e tentando fazer parte de uma cultura que também é minha. No início eu olhava para tudo aquilo e tentava reencontrar aquilo que já não tinha mais: o sorriso da minha avó. Seu bom humor, seu otimismo e inteligência. Busquei em todas as ‘abuelas’ que via nas ruas um traço qualquer que me fizesse enxergar a minha avó.
A cidade se encontrava dentro de muralhas, construídas no período medieval pelos romanos… Um espetáculo à parte, mas é incrível como ainda assim a cidade cresceu, para além das muralhas e agora elas só serviam mesmo para atrair turistas, sabe!?
Uma prova concreta de que muralhas não nos servem, pontes são mais agradáveis e nos levam mais longe. Não há porque isolar-se, temos um mundo inteiro para descobrir!
Tentei me adaptar o mais rápido possível na minha nova rotina, que incluía mergulhar de cabeça nos costumes, provar da gastronomia que em partes eu conhecia, como tortillas, arroz con leche, chocolate caliente, churros e outras coisas que também imaginei ou fantasiei que me trariam recuerdos de minha avó. Passados alguns dias, a minha mente já dava sinais de que a grande aventura de conhecer a terra de meus avós era um presente que eles mesmos me deram, de alguma forma. E explico o porquê:
Senti tanto frio nessa época. Senti por algumas vezes, saudades da comida de casa, senti saudades de minha mãe e de meus irmãos. Eu chorei, sem que ninguém notasse, por sentir-me só, mas isso durou pouco já que imediatamente tomei ciência de que o caminho, a viagem e a trajetória naquele país, serviam para mostrar-me exatamente o que foi para os meus avós deixarem seu país, o país que amavam.
Meus avós também sentiram frio durante sua viagem, sentiram o cansaço de meses de viagem, sentiram o desconforto de uma viagem longa e até então incerta. Sentiram o temor de chegarem a um lugar desconhecido, mas sentiram disposição e coragem suficientes para iniciarem a grande jornada de suas vidas, aqui no Brasil, trazendo suas famílias, seus corações cheios de incertezas, medos, angústias, mas a certeza de que faziam o melhor.
É incrível como, depois de pensar assim, passadas algumas horas, eu já reconhecia a minha avó em tudo que era canto (rs). E dentro de mim, algo me dizia que ela estava mesmo era no meu coração, no meu orgulho de ser a sua neta e eu estava muito agradecida pela chance que me deram! Sim, pela chance que os meus avós deram a mim e para toda a minha família quando decidiram deixar, ainda que tristes, seu país de origem… Creio que não tenha sido uma decisão fácil, talvez eles não tenham vislumbrado também como tudo seria aqui no Brasil e como a família aumentaria… Como um dia, alguém como esta pequena que vos escreve reuniria toda a sua coragem em um ato de extrema saudade e voaria lá para a Espanha reencontrar a energia, a lembrança, alguma coisa com a qual seria melhor para entender e agradecer tudo o que nos fizeram.
Meus avós pensaram em suas gerações futuras, pensaram além de suas vontades e isto é ser sem fronteiras para o bem, quando a gente pensa no outro mesmo sabendo que a recompensa pode nem chegar… Ainda assim você faz o melhor, entende?
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Por isso me encanta a ideia do ‘estar’. Sim, eu estou feliz, eu estou aqui, eu estou tentando, eu estou dando o melhor de mim… E por aí… Nós estamos, nós fazemos parte, nós nos somamos com muitos outros que também ‘estão’.
Não há fronteiras para o autoconhecimento, para o bem, para a realização de coisas boas, para a ajuda ao próximo. Sejamos todos sem fronteiras, sempre!