Hoje, eu trago um relato de experiência entre mãe e filha adolescente, que, em um determinado momento, viveram uma experiência de “Eu te amo, mas eu te paro”, que significa justamente agir por amor em uma situação dolorosa, tomando uma atitude prática e precisa para resolver a questão. Trata-se de um limite claro e necessário.
Na educação dos filhos, os pais têm que ter a coragem de fazer o que for preciso para dar a chance de seus filhos amadurecerem de forma correta, mas isso nem sempre é fácil.
Recorte de vida de Clarice e Júlia (1):
“Minha filha estava com 15 anos quando tive que matriculá-la no colégio interno fora da cidade. Já não aguentava mais discutir, tentar colocar limites e brigar. Não tinha tempo para acompanhar tantas mudanças. Havia me separado de seu pai há pouco mais de um ano e meio, estava no final de um mestrado e o meu horário de trabalho era tumultuado. O que parecia o completo fim de uma relação saudável entre mãe e filha tornou-se uma possibilidade de cura para nós duas.
Ela estava bebendo e usando drogas, não via sentido na vida. Eu estava cansada, ainda que consciente do que deveria fazer.
Como chegamos a isso? Em um fim de semana em que os avós estavam em casa nos visitando, ela mentiu para mim dizendo que estava aguardando o pai vir buscá-la. Foi a uma festa, bebeu, passou mal de madrugada e chamou o pai. Só fiquei sabendo de tudo no dia seguinte. Foi quando percebi que já não tinha mais controle da situação como ela se apresentava.
Decidi pelo colégio interno. Já estávamos no segundo semestre. Busquei informações, passei a manhã toda procurando por respostas. Quando ela chegou à tarde, dei a notícia. Começou a chorar, revoltada. Não permiti que se manifestasse muito, lembrei a ela que mentiu e fez o que fez.
A adaptação ao colégio não foi muito demorada, mas ela fazia questão de aumentar as dificuldades e se fazer de vítima para que eu me sentisse culpada. As amigas dela ficaram escandalizadas e as minhas ficaram admiradas. Cada vez que eu ia visitá-la no internato, o meu coração apertava ao ver o quarto pequeno, divido com mais 3 pessoas, beliches e banheiro coletivo. Era um contraste com o quarto de casa, que tinha acabado de ser reformado, pintado com a sua cor favorita e usado só por ela.
Aos poucos, o nosso contato foi melhorando e conversávamos mais. Eu dizia para mim mesma, ao dirigir de volta para casa, que tudo aquilo era necessário. Eu tinha certeza de que era o melhor a ser feito naquele momento. Por outro lado, começava a vê-la fazer amizade com outros adolescentes, diferentes dos amigos de antes. O colégio era bem variado, muitos tinham desejado ir para lá desde sempre e outros tinham até bolsa para estudar. Essa diversidade era boa e ampliava a sua experiência de vida.
A experiência durou um ano e meio. Quando chegou o momento de matricular no 3º ano do ensino médio, conversamos bastante e ela retornou à cidade, mas para um colégio menor, com menos oportunidades de distração.
Ela ficou muito feliz pela oportunidade de voltar para casa e mudou o comportamento a partir daquele ano.
Dois anos depois, já na faculdade, agradeceu-me pela decisão, pois aprendeu a valorizar a si mesma, a família e as pessoas que gostam dela de verdade. Reconheceu que estava muito perdida na adolescência e que entendia que eu não tive opção melhor. Hoje, já adulta e lidando com pessoas diariamente, ela sempre brinca dizendo que os pais não sabem educar os filhos e que eu preciso dizer como fazer.
“Eu sei que decisões importantes envolvendo outras pessoas são difíceis de tomar. E se forem os filhos, mais ainda. Só posso dizer que o amor tem que estar presente e nos dar forças para cumprir o que sabemos ser o certo. No fim, valeu a pena. Estamos em paz.”
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(1) Nomes fictícios.
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