“A grande extensão de nossa experiência nos anos recentes tem demonstrado com clareza a insuficiência de nossas concepções mecânicas simples e, em consequência, tem abalado os fundamentos sobre os quais se erguia a interpretação costumeira da observação.”
– Niels Bohr (físico dinamarquês – 1885 / 1962).
A existência ou não daquilo que convencionamos chamar de “alma” (uma continuidade de nossa consciência, que transcende espaço e tempo) é artigo de muitas controvérsias.
Primeiro, é preciso estabelecer uma hipótese sobre o que seria a alma. E a partir disso, criar mecanismos e meios para a comprovação (ou refutação) científica dessa hipótese.
O anestesista norte-americano Stuart Hameroff e o físico britânico Roger Penrose criaram a tese da existência e continuidade da consciência, que seriam as informações contidas em pequenas porções dos neurônios do cérebro.
Para melhor entender essa teoria, examinemos o cérebro. A complexidade do cérebro é enorme. Os números são estonteantes! No cérebro, se encontram 100 bilhões de células chamadas neurônios, cada um medindo 1 centésimo de milímetro de diâmetro. Cada neurônio está ligado a 10 mil outros neurônios, trocando 10 mil mensagens ao mesmo tempo. Bilhões destes neurônios podem trabalhar em conjunto em um determinado problema e comunicar suas conclusões aos outros. Os contatos entre neurônios são chamados de sinapses, e calcula-se que existam 100 trilhões delas em um cérebro.
Os instrumentos da Física experimental moderna são extremamente delicados e complexos e, mesmo penetrando fundo no mundo submicroscópico, ainda não foram desenvolvidos de modo a permitir a observação direta dos fenômenos atômicos e subatômicos. Apenas inferimos a existência destes fenômenos observando suas consequências.
Hameroff e Penrose estabeleceram que, no interior de cada neurônio, existem ainda 100 milhões de microtúbulos. Os microtúbulos são formados por uma proteína, a tubulina. Esta proteína se comportaria de forma muito parecida com a menor quantidade possível de informação que pode ser criada, armazenada ou distribuída, o bit.
Cada microtúbulo, por seu diminuto tamanho, estaria sujeito às leis da Física Quântica. Ao contrário da Física clássica, determinista, cujas causas e efeitos são facilmente observados e mensurados no nosso trivial cotidiano, as possibilidades da Física Quântica são completamente estranhas à lógica e ao senso comum, e eram tidas até bem pouco tempo como impossíveis.
Penrose e Hameroff acreditam que há uma relação quântica entre os microtúbulos e tudo o que há fora deles (todas as outras partículas espalhadas pelo Universo). Quando o cérebro morre, a informação quântica gerada nos microtúbulos é liberada no espaço-tempo. Neste mecanismo, a “alma” (ou o conjunto de informações que um cérebro processou enquanto vivo) existiria, como um conjunto de relações quânticas entre partículas dispersas no Universo.
As descobertas da Física moderna demandaram profundas transformações nos conceitos até então tidos como corretos, como tempo, espaço, matéria, etc. Esses novos conceitos encontraram enorme resistência por parte dos próprios cientistas, pois derrubavam suas antigas teorias. Albert Einstein (físico alemão – 1879 / 1955) descreve seu choque ao entrar em contato com a nova realidade apresentada pela Física Quântica, em sua autobiografia:
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“(…) Todas as minhas tentativas de adaptar o fundamento teórico da Física a esse (novo tipo de) conhecimento falharam completamente. Era como se o solo tivesse sido retirado de sob os nossos pés, sem que se conseguisse vislumbrar qualquer base sólida sobre a qual pudéssemos erguer alguma coisa.”
A Física atômica forneceu aos cientistas um vislumbre da natureza essencial das coisas, aproximando-se muito das experiências místicas relatadas através dos tempos, em todas culturas. Os físicos agora se ocupam com experiências não-sensoriais da realidade e lidam com os aspectos paradoxais dessas experiências, aproximando-se dos místicos. Os modelos e imagens da Física moderna em muito se assemelham aos das antigas filosofias orientais.
Referências
“O Tao da Física” – Fritjof Capra – Editora Cultrix – São Paulo, 2006.