Convivendo

Expectativa despida

Escrito por Thiane Avila

Talvez não seja por mera insensatez a entrega desacostumada com o todo. A ânsia mensurada em proporções pensadas sobre o incalculável. Toda a noção criada sobre as realidades paralelas está sujeita ao molde do irreal, à construção particular de perspectivas embasadas em nadas friamente calculados.

Subjetividades que viram absolutas pelo simples fato de terem sido estruturadas por algo que chamamos de expectativa.

Dentro das próprias singelezas sobre o que se pode ver ou tocar, o desnudo é o que mais se aproxima do essencial. Do plausível frente às dúvidas que jamais serão respondidas. Há sempre uma ausência na pergunta. Há sempre uma lacuna na presunção do que poderia ser resposta. Uma vida inaugurada aos pares solitários talvez seja a principal certeza sobre uma possibilidade enclausurada. O veneno é o âmago do antídoto e o resto funciona com a mesma lógica.

Ao imaginar um sonho que poderia ser sonhado, estarreço-me na desesperança de uma incapacidade inata de realização. De uma redundância insegura sobre o alcance de qualquer coisa que subjugue merecimento. O mérito também pode ser um fracasso endeusado, uma corrente invisível sobre potenciais questionados e postos à prova. As medalhas não são garantias de continuidade, assim como não são promessas do próprio olhar sobre si.

Ao longo dos dias, o conflito interno com as incertezas circunda a coragem de acreditar em si mesmo. Tantas vezes desistimos das coisas que mais queremos pela simples covardia de tentar. Pela falta de crença sobre a própria lucidez frente ao que é posto no caminho. A dimensão das dificuldades somos nós quem damos. Monstros são criaturas supervalorizadas pelo nosso próprio ego. A conversa flui se não pensarmos nela, mas agirmos sobre.

Minha expectativa despida é sinônimo de decepção e alegria. De algema e alforria. Os planos elaborados no presente são o passado que busca o futuro mal-acabado. O olhar infindo perante as lentes dos limites que criamos para nossas metáforas e sonhos. Para nossos passos e trajetos. Minha dor é um pleonasmo sarcástico, um eufemismo de existência. A minha entrega é de célula por célula

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A partir do momento em que compactuo com minhas dúvidas, estou sujeita ao desmoronamento. Ao ápice de qualquer coisa que ainda se desconhece a existência. Diante da espera, o impossível é uma questão de comodismo e conforto sobre o que pode vir a acontecer. Na verdade, a certeza reside naquilo que se prefere acreditar, enquanto o impossível passa a ser o abismo intransponível criado pela nebulosidade com que os dias chegam antes de nascer. Despir-se talvez seja, pois, a única forma de proteger-se.

Sobre o autor

Thiane Avila

Com experiência na área da educação, Thiane já ministrou aulas particulares de Língua Inglesa e Portuguesa, bem como atuou em escolas de idiomas. Estudante de relações públicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, também cursa teatro e é colunista de uma Revista em sua cidade natal, Gravataí, além de colaborar com outras plataformas virtuais literárias.

A escrita já rendeu algumas premiações nacionais e participações em coletâneas. Os prêmios recebidos contemplam o 3º lugar no Concurso Literário Icozeiro (julho de 2014), o certificado de Qualidade Literária pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores (maio de 2015) e o reconhecimento pelo Conselho Editorial da Câmara Brasileira de Jovens Escritores do Rio de Janeira pela qualidade literária da obra selecionada para publicação nas edições de maio de 2015.

Contato:

Email: thiane_nane@yahoo.com.br
Facebook: Thiane Ávila
Site: Jundiaí Online

Participação nas seguintes coletâneas: “Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos” Volume 124 e “Poemas descalços na noite serena” – ambos pela Câmara Brasileira de Jovens Escritores.